Capítulo Dezessete

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O Volvo de Kathleen mergulha na água de ponta. Jin, Kathleen e eu estamos presos dentro dele, afundando para o nosso destino. As portas do carro estão bem
seladas, mas é apenas questão de tempo até as janelas estourarem
com a pressão da água e nos afogarmos. Se ao menos Jin fosse um “sereio” em vez de um poneimaníaco! Estamos bem
ferrados. Kathleen parou de gritar, mas sua boca ainda está bem aberta. Se conseguirmos de algum jeito sobreviver a essa provação, vou levá-la a uma reunião do aa.

— Estamos presos — Jin fala, usando seu peso para tentar abrir a porta, sem sucesso. — Estamos muito no fundo. A pressão é muito forte.

— Desculpa, desculpa — Kathleen murmura, entre soluços.

— Vamos tentar conservar nosso oxigênio — eu falo.

— Como? Segurando o fôlego? Vamos desmaiar, assim — Jin se
alarma.

— Tem alguma ideia melhor? —
eu pergunto. — Estou aberta a sugestões.

— Sim, que tal mandar uma
mensagem pro seu namorado, dizendo para ele vir nos salvar? — Jin ironiza.

De fato, não é uma má ideia.

— É mesmo — eu digo. Puxo meu celular e ligo para o meu não namorado.

— Anna! — Earl Grey fala. Ele está seguro em Seattle e eu aqui,
no meio do caminho entre Seattle e Portland, e a dez mil léguas abaixo do nível do mar.

— Oi — eu digo. O som da voz dele é tão encantador que por um momento esqueço por que estou ligando.

— Tudo bem? Chegou bem a Portland?

— Não muito — eu digo. O carro finalmente atinge o fundo do
oceano. O tempo está se esgotando.

— Está em apuros?

— Sim — eu digo, um pouco
envergonhada. Sempre estou em perigo e pedindo para Earl me salvar. Como se ele não tivesse
nada melhor para fazer durante o dia! — Estou, tipo, presa num carro no fundo do oceano com
Kathleen e Jin.

— Estarei aí logo — ele diz. — Aguente firme. Aconteça o que
acontecer, não morra.

— Tudo bem — eu digo. Não tenho certeza se esse é o tipo de coisa que posso prometer a um
amante, mas darei o meu melhor.

Desligo o telefone.

— Ele está vindo — eu digo para Kathleen e Jin.



Duas horas depois, estamos de volta e em terra firme. O Volvo de Kathleen dá perda total. Sobrevivemos ao acidente graças a Earl Grey, que drenou o Oceano Pacífico para nos salvar.

Earl enrola seu casaco ao meu
redor. Está vestido com sua camisa de botão e a gravata com carinhas sorrindo novamente,
parecendo mais lindo e alinhado do que nunca. Quero que ele me jogue na areia e transe comigo na praia, mas isso seria meio esquisito com Kathleen e Jin sentados no helicóptero, esperando por nós.

— Você é uma garota de sorte —
Earl diz.

— Sou a garota mais sortuda do
mundo — eu falo. — Tenho você.

Ele sacode a cabeça.

— Você nunca para de me surpreender, Anna.

— Eu não deveria ter te deixado
— eu comento, baixando a cabeça. Não quero ver a decepção em seus olhos.

Ele põe a mão sob o meu queixo e levanta meu rosto gentilmente
para olhá-lo.

— Tudo bem.

Eu começo a chorar. As lágrimas descem rapidamente, como se
estivesse chovendo. Opa, pera —
está chovendo. Acho que nem
estou chorando, no fim das contas.

— Vou levar vocês de volta para Portland antes que a tempestade
aumente — ele fala, beijando minha testa. Voltamos para o helicóptero. Kathleen e Jin já
estão desmaiados graças aos absorventes íntimos encharcados de álcool e socados na bunda deles.

Começamos o voo para Portland
em silêncio. Após tudo que passamos, a quietude é ótima para variar. Até minha periguete interior fecha a matraca. É durante este momento zen que sinto algo chutando em meu
estômago. G-zuis! Não lembro de ter comido um bebê. Isso pode
significar apenas uma coisa: estou grávida — grávida de um bebê de Earl Grey!

Cinquenta Vergonhas De CinzaOnde histórias criam vida. Descubra agora