Abro a janela de vidro, mas ainda resta a tela. Jin espera pacientemente no peitoril da minha janela, em pé numa escada que ele encostou na parede da casa para poder alcançar a janela do meu quarto, no andar de cima. Infelizmente, por mais que eu tente, a tela continua emperrada.
- Será que você poderia usar a porta? - eu pergunto.
Ele murmura algo e desce da escada. Trinta segundos depois, eu o ouço entrando na casa. Destranco a porta do quarto e o cumprimento com um abraço esquisito.
- Olá - eu digo.
- Olá, você - Jin diz.
Sentamos na cama, à distância de um braço. Não quero que ele tenha uma ideia errada - meu relacionamento com Earl Grey pode estar balançado, mas não significa que meu banco de esperma está aceitando doações.
- Ouvi que você estava de volta - Jin comentou.
- Ouviu certinho - eu brinco.
- Vi o acidente no noticiário. Kathleen e eu pensamos que você estava morta.
- Mas não estou - eu digo.
- Claro - ele fala.
- Então, vocês ouviram sobre o acidente. Eu comecei a pensar...
- Você começou a pensar? Por quê? Por que não visitamos você quando estava no hospital? Eu tentei, acredite. A segurança estava muito rígida lá. Por conta do médico de celebridades que estava cuidando de você, só deixavam entrar sua família.
E Earl Grey, sussurrou a periguete interior.
- Como vão as coisas com os poneimaníacos?
- Não sabia como eles iriam reagir após eu ter sucumbido à ira no Eclipse e brigado com seu namorado, mas eles foram incrivelmente tranquilos e me apoiaram. Aprendi que todo poneimaníaco luta contra sentimentos como a raiva. É muito útil conversar com meus amigos poneimaníacos sobre esses sentimentos.
- E seu trabalho de moderador no fórum do PonyExpression.net?
- Tudo bem. É o melhor emprego que já tive e, como tenho um milhão de dólares agora, não preciso me preocupar em arranjar um "emprego de verdade" e chato. Consegui até uma pequena editora australiana por encomenda interessada em publicar minha fan fiction do My Little Pony.
- Que fantástico, Jin. Sempre acreditei em você - eu comemoro. - Como estão seus testículos?
- O que sobrou está bem - ele diz.
O tom da sua voz soa como se fosse um assunto doloroso, então mudo rapidamente o rumo da conversa.
- E como está Kathleen?
- Depois de nos jogar no Oceano Pacífico, ela decidiu ficar limpa. Ela sabia que tinha um problema há tempos, mas o acidente finalmente a levou à beira do abismo. Sem trocadilhos. Eu a deixei num centro de internação. Ela ficará lá até ficar sóbria, por trinta dias; então, vai se mudar para um centro de reabilitação, mas está tudo bem.
- Ela continua vadia? - eu pergunto.
- Claro! Ela ainda é a Kathleen - Jin fala, sorrindo. - Ela gostaria que você a visitasse. Quer saber se você ainda vai se mudar para Seattle com ela, ou quais são seus planos. Você já sabe?
- O futuro ainda está no ar - eu falo. - Me candidatei para um trabalho em Seattle, mas não sei se vou conseguir.
- Você está vivendo o sonho dela, sabe - ele comenta. - Namorando um delícia no poder, badalando em Seattle...
Eu balanço a cabeça.
- Ela não deveria levar isso pro lado pessoal.
- Vocês ainda estão saindo?
- Quem?
- Deixa disso, Anna. Há quanto tempo somos amigos? Quatro anos? Você pode me contar qualquer coisa.
- Não tenho certeza se Earl Grey e eu ainda estamos juntos - eu respondo. - As coisas estão complicadas.
Jin balança a cabeça.
- Por que o amor não pode ser fácil?
- Porque nada de bom vem facinho - eu digo.
Jin põe a mão no meu joelho.
- Eu venho, facinho.
Tento imaginar como seria a vida se eu aceitasse a cantada. Sempre fomos amigos próximos. Se levássemos as coisas para o "próximo nível", como nossa amizade mudaria? Tenho que admitir que nossa amizade já mudou por conta de Earl Grey, que trouxe toda a tensão sexual que estava em banho-maria há anos entre Jin e mim. E agora a tensão está aumentando sob os shorts cortados de Jin. Seria muito fácil abaixar, desabotoar os shorts dele e...
Alguém bate na porta. Ai, não! Será Earl Grey?
Não. Meu pai abre a porta. Jin tira a mão de mim.
- Ah, desculpe... Não sabia que você estava acompanhada - meu pai fala.
- Este é o Jin - eu digo. - Ele é um poneimaníaco.
Jin cumprimenta meu pai com um aperto de mão.
- Este não é o brucutu que te jogou no hospital, não é? Eu nego com a cabeça.
- Não, pai. Esse foi o Earl Grey.
- Vocês crescem rápido demais - meu pai diz. - Num minuto, vocês estão assistindo ao Barney e aos Teletubbies. No próximo, você está tomando dedada de um poneimaníaco. Divirtam-se. Vou tomar uns soníferos e cair na cama. Não fiquem acordados até tarde.
Ele fecha a porta e fico sozinha novamente. Com Jin.
- Desculpe - eu digo. - Ele costuma dizer coisas inconvenientes.
Jin ri.
- Agora eu vejo que filha de peixe...
De repente, Earl Grey sai de baixo da cama!
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Cinquenta Vergonhas De Cinza
RomanceEmpurro a porta aberta e tropeço na barra das minhas calças de ginástica largas num movimento rápido e desajeitado. Enquanto tombo na direção do chão, meu corpo, por reflexo, aciona o modo ginasta. Largo a mochila e o notebook, estendo meus braços e...