Capítulo Vinte e Quatro

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Quando finalmente recebo alta, na tarde do dia seguinte, Earl Grey me busca do jeito que só ele sabe: embora ele tenha perdido o helicóptero (que deu perda total no acidente da Space Needle), ele me apanha na entrada do hospital num stock car da Nascar.

- Estou tão feliz por você estar bem - Earl diz, ao me cumprimentar na frente do hospital. Ele está vestindo um macacão de corredor coberto de logotipos das suas empresas. - Pensei que havia te perdido. Eu balanço com a cabeça.

- Você não vai se ver livre de mim tão facilmente.

Ele me beija. É um beijo profundo, longo e apaixonado que parece durar para sempre, como um jogo de futebol com prorrogação e pênaltis. Uma ambulância chegou atrás do stock car de Earl, e o motorista da ambulância deu uma bela buzinada. Aparentemente, Earl está estacionado na vaga do pronto-socorro. Começo a interromper o beijo, mas Earl suga minha boca ainda mais forte. Nossa paixão não pode ser interrompida por motoristas de ambulância rudes e suas buzinas e pacientes à beira da morte!

Quando finalmente separamos nossos lábios, o sol está se pondo e há uma fila de dezesseis ambulâncias paradas atrás do carro de Earl. Ele dá um pequeno aceno aos motoristas fulos da vida, subimos no carro e partimos para o tráfego de Seattle.

- Então, qual é a história por trás deste carro? - pergunto, assim que chegamos à estrada.

- Eu poderia dizer a você que é uma réplica do carro que Tom Cruise dirigiu em Dias de trovão, mas seria uma mentira - ele diz. - Este é o carro real.

Balanço minha cabeça. Com certeza, Earl Grey tem uma queda por esse cara, o Tom Cruise.

- Uau - eu digo.

- Tudo bem, você não precisa fingir que ficou impressionada - ele comenta. - Prefiro ver você impressionada com o tamanho do meu pinto a ver você impressionada com o carro que dirijo.

- Sem problemas lá, Sr. Grey. - Eu sorrio. Ele tomba a cabeça na minha direção e sorri de volta. - Mas mantenha os olhos na estrada, senhor.

- Entendido - ele diz, voltando a atenção para a estrada.

- Para onde estamos indo? - eu pergunto.

- Tenho uma surpresa para você - ele responde, acelerando na direção das montanhas.


Vinte minutos depois, paramos na entrada de uma mansão afastada com vista para Seattle. O sol se punha, bonito e romântico.

- Quem vive aqui? - eu pergunto.

- Eddie Vedder - ele diz, desligando o motor. - Mas está à venda. Pensei em trazê-la aqui e ver o que você acha dela.

Descemos do carro.

- Você quer comprá-la?

- Se gostar dela - ele responde.

Earl tira uma chave do bolso e abre a porta da mansão.

- Eddie está em turnê com o Pearl Jam, mas me emprestou a chave para que pudéssemos fazer um test drive - ele comenta, rindo perversamente.

Entramos na casa. Como tudo que Earl me apresentou, é incrível. O esquema de cores brilhantes, a mobília moderna, o aquário do chão ao teto com mulheres nuas nadando nele - só de entrar pela porta, eu já sei que aqui é onde quero passar o resto da minha vida. É onde quero passar o resto da nossa vida.

- Você que decorou esta casa também? - eu pergunto. Earl concorda com a cabeça.

- Isso mesmo, querida.

- Você é tão talentoso - eu comento.

Não parece justo que um homem possa ser tão bonito e tão talentoso e tão rico, caramba: Earl Grey é o pacote completo. Minha periguete interior sacode a cabeça. Você disse isso cinquenta vezes, usando quase exatamente as mesmas palavras, ela diz. Estou prestes a dizer para ela voltar a arrumar o topetão, quando sinto um chute no abdômen. O bebê! Isso me lembra do sadismo de Earl. Vale todo dinheiro do mundo aguentar a dor que ele vai me trazer, apenas para satisfazer seus próprios desejos pervertidos?

Cinquenta Vergonhas De CinzaOnde histórias criam vida. Descubra agora