- E stamos sendo seguidos - Earl comenta, olhando o retrovisor.
Olho para o retrovisor do lado do passageiro. Há faróis solitários se aproximando de nós.
- Como você sabe que estão nos seguindo? - eu pergunto.
Estamos numa rodovia de duas pistas a caminho de Seattle, e há pouco espaço para ultrapassagens, graças às curvas frequentes.
- Deve ser algum babaca andando colado...
Earl balança a cabeça.
- É a mesma suv preta que vi mais cedo quando estávamos a caminho da casa do Eddie Vedder. Ela continuou quando paramos na frente da mansão, então deixei pra lá.
- Você devia ter me dito - eu comento.
- E assustar você sem motivo? - ele fala, pisando fundo no acelerador. Agora, estamos fazendo curvas a trezentos quilômetros por hora.
- Devagar! - eu grito. - Agora estou apavorada.
- Desculpe, Anna, mas temos que despistá-lo - Earl diz. - Este carro é feito para correr.
- Você também não disse que isso era um carro de um filme de trinta anos atrás ou algo assim?
- É, eu disse - ele concorda.
- E, além disso, eu vi corridas da Nascar. Vi esses carros explodindo e se incendiando.
- Então, o que você sugere para deixarmos nosso amigo para trás?
- Sei lá. Você tem uma arma?
- Você acha que eu carrego uma arma comigo no porta-luvas do meu stock car, Anna? Que tipo de troglodita você pensa que eu sou?
- Desculpe - eu respondo.
- Mas você está certa. Acho que tenho uma bazuca no banco traseiro. Vamos trocar de lugar, você pega no volante.
Estamos a quase quinhentos quilômetros por hora na estrada, mas trocamos de lugar sem desacelerar. Apenas quando estou no banco do motorista que me lembro de algo importante.
- Não tenho carteira de motorista - eu digo para Earl.
- Não se preocupe - ele fala, virando-se para o banco traseiro e abrindo um estojo de violino tamanho família. De lá, ele tira uma bazuca.
- E eu também nunca dirigi um carro antes - eu protesto. Meu pé está pisando no acelerador e eu tento controlar o volante. É tão parecido com Super Mario Kart que eu meio que consigo dar conta do recado.
- Você está indo muito bem - Earl elogia, carregando a bazuca
- Graças a Deus não tem câmbio - eu comento. Já ouvi histórias sobre câmbios. Embora eles possam ter um duplo sentido divertido, sei que podem ser um saco para dirigir.
Earl olha para mim, a confusão estampada em seu rosto.
- Mas ele tem câmbio, Anna - ele diz. Vixe. - Não se preocupe - ele me acalma. - Vou só dar um tiro de alerta no cara, ele vai bater em retirada e, se der certo, você não terá de trocar de marcha. Tudo bem?
Eu concordo e, enquanto os montes passam a toda velocidade do lado direito, um penhasco de trezentos metros se agiganta à esquerda. Gulp.
Earl tenta baixar sua janela, mas está travada.
- Você pode desligar a trava de crianças? - ele pede.
Enquanto procuro pela trava de crianças na porta do motorista, a suv atrás da gente bate em nosso para-choque. Agarro o volante com as duas mãos e começo a hiperventilar.
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Cinquenta Vergonhas De Cinza
RomanceEmpurro a porta aberta e tropeço na barra das minhas calças de ginástica largas num movimento rápido e desajeitado. Enquanto tombo na direção do chão, meu corpo, por reflexo, aciona o modo ginasta. Largo a mochila e o notebook, estendo meus braços e...