Capítulo 3.

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Depois que minha mãe foi trabalhar fiquei pensando nas palavras dela... Eu teria que me agarrar com unhas e dentes na raiva que eu sentia por André. Mas só que eu não sentia raiva dele. Quer dizer, eu sentia... Eu sinto sim! Muita raiva, mesmo! Mas eu o amo demais e estou muito magoada e esgotada emocionalmente. Mas as palavras dela ainda estavam martelando na minha cabeça: "André está com outra. Está feliz!" Não sinta pena de si" 3 meses de choro é demais! Chega! "

Então era isso? Não dava pra voltar o tempo e começar tudo de novo? Desde antes do André? que é pra eu reescrever minha história e não o incluir em nenhuma página do livro de minha vida! Eu estava em pedaços. E entre lágrimas e muita saudade, eu dormi até o cair da noite. Dormi um sono tão pesado como não fazia há 3 meses. Acordei com batidas leves na porta do quarto. Era Antônio, meu padrasto. Ele estava preocupado e perguntava se eu estava bem. Avisou que mamãe chegaria dentro de meia hora pois houve uma reunião com um dos fornecedores. Balancei com a cabeça avisando que já levantaria mas ele veio até a cama e sentou perto de mim. Antônio entrou em minha vida quando eu tinha 9 anos. Ele sempre foi um bom marido e muito presente na educação do meu irmão e na minha também. Eu o considerava mais que padrasto. Ele é um amigo de verdade e sei que ele está preocupado. De maneira paternal, aconchegou-me em seu colo e com voz tranquila e de apoio ele começou a falar.

-"Sabe meu amor... Casamentos são difíceis e complicados. Todos eles! Mas cada um é diferente. Somos únicos. O seu foi maravilhoso mas pra um dos dois deixou de ser. E não adianta querer mudar isso. Ponto! Não há o que lamentar. Não adianta espernear pelo o que deixou de ser ou nunca vai ser. Passou. Você está bem. É saudável, é linda e tem todos nós ao seu lado. Te daremos apoio todos os dias e sempre! Seu irmão te ama. Seus amigos, eu e sua mãe.- falava tão tranquilo e com tanta paz que eu senti que a vida podia continuar.

-"Eu sei do amor de vocês e jamais esquecerei o apoio. Essa dor vai passar. Eu só queria que passasse agora"- falei tentando esboçar um sorriso.

-"Quer que passe agora? Que passe logo? Então tente!" - e levantou da cama me puxando pelos braços e com um sorriso motivador- " Toma um banho e se arruma que vamos sair pra comer qualquer coisa que seja. Pizza? Sushi? Mac? Qualquer coisa! Vou ligar pra sua mãe pra ela encontrar a gente, ok?"

Eu ainda tentei dizer que não, mas quando vi, ele estava todo animado dando a boa notícia pra mamãe então tive pena de contrariar toda a empolgação. Eu não queria sair. Eu queria dormir e só acordar daqui mil anos.

Seguimos para uma pizzaria próxima do apartamento. Ficava de esquina e era super tranquila, coisa que no momento eu mais desejava, calmaria e zero badalação. Há 3 meses eu estava enfurnada no apartamento deles, com exceção do dia do fórum, sem coragem pra sair de casa, afastada do meu trabalho que pra minha sorte a minha chefe é a minha mãe, sem atender telefonemas de ninguém. Estava realmente alheia ao mundo. Eu só chorava e repassava todos os detalhes do meu casamento, tentando encontrar o ponto exato onde o amor do meu agora ex-marido, começou a morrer e qual minha parcela de culpa em tudo isso.

Mamãe havia ligado pro meu irmão e eles estavam lá, com os olhos  brilhando de alegria por finalmente eu ter conseguido levantar da cama. A noite estava agradável e ficar na companhia dessas 3 pessoas tão importantes na minha vida era tudo o que eu precisava para ganhar forçar e sair desse "quase coma" no qual me encontro.

Depois da pizza e de rir um pouco com a conversa leve que rolou na mesa, meu irmão perguntou quando eu iria voltar ao trabalho.

-Amanhã mesmo. Tenho que resolver um monte de coisas, falar com o corretor sobre a venda da casa. Já venderam algum dos móveis que foram pra casa de praia?

- Grande parte, sim. Guardei algumas coisas no quartinho dos fundos. Coisas pessoais, fotos, utensílios de cozinha e outras coisinhas pequenas.- mamãe respondeu.

- Fotos? Eu não quero guardar fotos e nada. Utensílios, lençóis, nada que lembre o André e os anos com ele. Quero que seja tudo vendido ou doado. Não querer ter que revirar baú de memórias! - falei tão decidida que até me animei com minha fala.

- Então nem se preocupe pois esse risco você não vai correr. Eu mesmo resolvo isso. E sobre a venda da casa, deixe que trato com o corretor. Quando a venda for concluída, você só terá que assinar os papéis e mais nada. - falou meu padrasto com um sorriso no rosto, todo feliz com minha atitude positiva.

- Aproveito para agradecer aos três amores da minha vida - olhei nos olhinhos de cada um deles, mamãe, Antônio e Gustavo ( meu irmão ) - vocês são minha força e jamais vou esquecer do apoio e carinho. Esse amor me trouxe de volta para recomeçar - pisquei pra mamãe.

Conversamos mais um pouco sobre as novas possibilidades que com a Graça de Deus surgiriam na minha vida. Já passava das 23 horas quando meu irmão lembrou que amanhã era dia de labuta e que estava na hora de ir. Fiquei olhando meu irmão mais novo. Guga ( apelido de criança ) tinha 25 anos e dividia apartamento com dois amigos desde os 19, quando decidiu sair de casa. Na época, mamãe levou um susto quando ele comunicou que queria ter seu espaço. Ele é um filho maravilhoso, era publicitário e abriu, juntamente com os amigos com quem dividia apartamento, uma pequena e aconchegante agência de publicidade. Gustavo era bem humorado, seguro e dinâmico, um irmão maravilhoso e sempre presente em nossas vidas. Namorava Camila, uma moça delicada e que trabalhava na área de marketing. Agradeço ao bom Deus ter um irmão tão amigo.

Saímos da pizzaria e segui com mamãe e meu padrasto. Observei o jeito carinhoso dele com ela e dela com ele. Antônio é veterinário. Trabalha numa clínica e tem seu próprio petshop. Entrou em nossas vidas aos poucos, conquistando a família devagarinho e nunca mais saiu. Não substituiu meu pai, pois este é insubstituível, mas é o mais perto da figura paterna que tenho e isso foi grandioso pra gente. Principalmente na adolescência. Não teve filhos com mamãe e disse que Guga e eu éramos os filhos que ele queria ter e nos amava para todo o sempre.

Tentei dormir. Juro que tentei... Mas uma tristeza me agoniava... Eu sabia que se amanhecesse chorando e desistindo de tudo o que havia dito aos meus três salvadores naquela noite, na pizzaria, estaria decepcionando o coraçãozinho de cada um deles. Não queria isso. Mas a vontade de não fazer nada e ficar "deitada eternamente em berço esplêndido", era grande. "Será que estou com depressão? Não posso me entregar! Não posso adoecer! Tenho que ter coragem! Coragem Gabriela! Coragem!"

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