Capítulo 22.

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Passei boa parte do dia remoendo todo o acontecido: a longa conversa no trem, o jantar, o vinho, as confissões e o beijo. Ah, o beijo! "Que coisa mais boba! Nem foi meu primeiro beijo... Não? Claro que foi! Foi o primeiro beijo no Renato."

E foi mesmo. Foi o primeiro beijo depois do baque que me deixou a alma dolorida, rasgada. Foi o primeiro beijo, no homem que povoou meus pensamentos antes mesmo da minha superação. Foi um primeiro beijo, que mexeu com cada pedacinho do meu corpo e sacudiu minha cabeça. Foi um beijo intenso e suficientemente ardente pra dar um nó nas minhas doces certezas. Desde Búzios, eu tinha planejado retomar meus desejos e batalhar para realizá-los. Prometi que cumpriria toda meta traçada e foi exatamente isso que fiz. Cuidei do corpo e da alma. Busquei por paz ao meu coração e me coloquei em primeiro lugar. Eu não mudaria nada por ninguém. Boicotei muitas vezes encontros e paqueras, pra não cair em tentação e nem correr risco de machucar meu coração. Eu escolhi minha carreira, minha família, amigos e não sofrer. Cheguei a pensar que havia "congelado o coração".

Mas aí vem o tal do destino... E esse acaso, ou não, uma vez que o próprio Renato confidenciou que provocou nosso encontro no trem, esse acaso fez meu coração bater forte e minha pele arrepiar com um simples toque de mão. Eu sei que a dor é inevitável e que por muito tempo eu escolhi não sofrer por alguém, mas até quando eu conseguirei controlar meus sentimentos?

Entre tantas perguntas que rondavam minha mente e uma insegurança sobre a possibilidade de um romance, fiz compras e almocei. E enquanto aguardava meu voo, uma mensagem na tela do meu celular, de um número desconhecido, fez meu coração disparar mais uma vez.

"Oi moça linda! Já em casa. E você? Ainda em Curitiba? Responde assim que puder? Renato."

Respirei fundo várias vezes. Pra não correr o risco de uma ligação, minha ou dele, desliguei o celular.

Já era noite quando cheguei em casa. O porteiro avisou que meu padrasto havia passado por lá perguntando por mim. Lembrei que meu celular ainda estava desligado e que não havia falado com mamãe durante o dia. Peguei algumas correspondências que estavam na portaria e fui pro meu apartamento. Liguei o celular e rapidamente ele tocou. Era mamãe.

- Filha! Te liguei tanto! Já está em casa? O que houve que não me deu notícias?

- Oi mãe! Acabei de chegar! Desculpa não ter ligado, mas o dia foi tão corrido. Comprei tudo o que você me pediu, viu? Amanhã levo tudinho pra loja.

- Hum... E como foi lá? Tudo bem?

- Tudo bem, sim. Conheci umas pessoas legais, trocamos contato. O congresso foi ótimo e a viagem foi tranquila. E por aqui? Tudo bem?

- Tá sim... Já jantou?

- Não mãe. Eu realmente acabei de chegar. Vou pedir alguma coisa pra comer e tomar um banho. Amanhã estarei cedo na loja, tá?

- Tá bem, meu amor. Beijão pra você. Te amo! Dorme bem e que Deus te proteja.

- Obrigada, mãe. A senhora também.

Depois de desligar vi que haviam algumas mensagens. Uma do Guga, outra da mamãe e algumas de um número ainda desconhecido na agenda do meu telefone. Li todas elas, inclusive as de Renato.

Depois de um banho demorado e de comer uma deliciosa fatia de pizza, enviei uma mensagem para o moço encantador que me tomava os pensamentos.

"Oi Renato. Cheguei a pouco tempo em casa. A viagem foi tranquila, porém cansativa. Obrigada.
Gabriela".

Dois minutos depois ele respondeu.

"Oi Gabriela! Puxa! Demorou, hein? Rsrsrs
Renato".

"Acha? Achei até rápido o voo e tudo mais.
Gabriela.

"Pensei em nós dois. Em nosso primeiro beijo. Você pensou em os dois?
Renato".

Caramba! Será que esse homem existe mesmo? Falar em primeiro beijo assim, do nada... Aí meu pobre coração besta...

"Se te disser que não pensei estaria mentindo.
Gabriela".

"Moça... Posso te ligar?
Renato".

E agora? Levar essa situação adiante? Permitir que esse flerte, essa paquera - se bem que depois do beijo de hoje eu não considero bem uma paquera isso que está acontecendo- siga?

Eu sinto uma ponta de medo e acho que é até normal, diante do desconhecido, e esse terreno é algo novo pra mim. Penso em responder que estou muito cansada e que amanhã nós dois conversaríamos com mais calma, mas meus pensamentos são interrompidos pelo som do telefone chamando. Ele não esperou minha resposta. "Ou esse homem é impaciente, ou ele realmente ta interessado em mim."

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