Capítulo 15.

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André.

Desde que me separei da Gabi, as coisas ficaram meio paradas em minha vida. Parece que ela era a pessoa que norteava meu caminho e a sua amizade me faz uma falta danada. Não me arrependi do divórcio. Eu não estava feliz e muito menos estava fazendo minha companheira feliz, e aí, por mais difícil que seja a decisão de um divórcio, quando esse sentimento de vazio se instala entre um casal eu acredito que essa seja a solução mais acertada, mesmo que um sofra mais que o outro. Mas confesso que de certa forma ela era o meu chão e somente depois que me separei é que percebi isso.

Conheci Gabriela na faculdade. Foi paixão de primeira e ela era perfeita em tudo o que fazia. Além de uma mulher linda, inteligente e bem humorada, Gabi era aquele tipo de garota que não implicava com meus amigos, com o futebol de domingo e nem pegava no meu pé. Meus amigos costumavam dizer que sentiam inveja da minha sorte por ter ao lado uma "raridade" de namorada que não enchia o saco. Além de tudo, gostávamos das mesmas coisas. Eu era mulherengo até encontrar a Gabi. Mas depois que a conheci não senti necessidade de ter outra mulher. Fui um namorado fiel e achava que isso era suficiente para manter um relacionamento. Vez outra eu falava pra ela que tinha vontade de casar, e eu não estava mentindo ou tentando enrolar a moça. Eu realmente queria isso. E não me arrependi de planejar um futuro ao lado dela.

Quando casamos, gastamos muito com a reforma e ampliação da casa. Mas mesmo assim, tudo era muito bom e a vida seguia boa até que um dia, a rotina começou a me encomodar. O antigo André voltou e a última coisa que eu queria era trair minha companheira, mas as tentações eram grande. Quando ela engravidou tomei um susto. É claro que fiquei feliz com a notícia que seria pai, mas um turbilhão de preocupações me acertou em cheio e minha cabeça não parava de pensar no tamanho da responsabilidade que viria. Era como se minha ficha tivesse caído naquele momento: "Agora sim a coisa é de verdade!", era o que eu pensava sem parar. Nas minhas costas, a notícia de ser pai caiu como peso.

Eu tinha medo de errar com Gabi, com meu filho, de perder o foco no trabalho e ser prejudicado com uma possível sociedade na empresa. Tive medo de perder o pouco de liberdade que Gabi concedia, medo que ela mudasse, engordasse, que cobrasse mais e mais minha participação com as coisas da casa e virasse aquelas donas de casa desleixadas e com mania de limpeza. Na minha cabeça, a partir de agora, eu teria uma grávida enjoada ao lado e depois, brinquedos espalhadas pela casa, chupetas, choro de criança na madrugada, festa infantil aos sábados, férias com crianças... Eu temia perder o tesão e admiração pela minha mulher... E eu perdi: Ela estava com quase dois meses de gravidez. Eu estava deitado e ela saiu do banho, só de toalha. Olhei pra o corpo dela e na mesma hora lembrei que dentro daquela barriga havia uma criança. Ela me olhou fazendo charme, veio carinhosa e querendo sexo. Eu não conseguia separar a mãe da mulher. Foi um inferno! Naquela noite eu não consegui ter ereção. Aquilo nunca aconteceu comigo e eu entrei em pânico. E foi aí que eu comecei a "esfriar" pro lado dela.

Com três meses ela abortou. Eu senti um nó na garganta tão grande quando olhei a tristeza nos olhos dela. Quando chegamos em casa, ela desabou de tanto chorar. Eu não aguentava aquilo tudo e fui dormir no outro quarto. Minha ex - sogra havia recolhido as poucas coisas que ela havia comprado para nosso filho, mas acabou esquecendo uma caixa sobre a cama e nela havia uma roupinha de bebê... Senti uma pontada abrir meu peito... A dor de perder um ser tão pequeno, indefeso e que era parte minha foi terrível! O arrependimento por sentir medo do que meu filho traria para minha vida me tomou de assalto e o gosto do remorso era amargo demais. Desmoronei! Depois disso, acredito que nós dois mudamos um com o outro. Impossível um casal não mudar depois de um baque desse em suas vidas, só que eu mudei negativamente. Eu não queria mais formar uma família. Eu queria voltar no tempo e ser responsável apenas por mim. Olhar pra Gabi era lembrar do quanto fui egoísta com meu bebezinho que nem chegou ao mundo e também do tamanho do remorso que carregava e isso era dolorido demais. Passei a ficar mais na empresa, a viajar mais. Negava qualquer programa que exigisse muito tempo ao lado dela. Inconscientemente eu matava aos poucos meus sentimentos e me transformava num tremendo cafageste. Fui um covarde!

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