A última guardiã da Luz (Completo)

18 - Mais mentiras descobertas

Fomos até uma saleta e me perguntei por que teria uma saleta tão bem arrumada numa masmorra?

- Paul! - exclamei me soltando de suas mãos.

- Beliza eu preciso te contar algumas coisas – seu olhar era cauteloso.

- Que coisas? Por que ninguém nunca fala a verdade? Ficam escondendo coisas de mim. Já estou cansada disso tudo. Eu vou embora - fiz menção de sair, mas ele me impediu.

- Calma Bela! Vamos conversar –  segurou-me pelo braço.

- Conversar sobre o que Paul? DIGA! - eu gritei como nunca havia gritado antes, a minha cota de segredos já tinha se esgotado.

- Conversar sobre quem eu sou de verdade e sobre tudo.

- Ok, diga, sou toda ouvidos - cruzei os braços frente ao corpo aguardando.

- Não quer se sentar? - apontou para a cadeira a minha frente.

- Estou ótima aqui onde estou Paul.

- Meu nome completo é Paul Orson Demag. Eu sou o filho mais velho de Gregor Demag, o rei desse reino.

Um forte zumbido soou em meu ouvido, paralisei por alguns instantes absorvendo a informação.

- Seu desgraçado. Eu devia ter acreditado no Ascaban - eu comecei dar murros em Paul. Mas claro que não surtiram efeito algum nele.

- Pare com isso Bela – me conteve segurando meus braços - deixe-me falar com você. Te explicar tudo.

A porta se abriu e o rei Gregor e outro homem entrou na saleta me fazendo paralisar de medo.

- Paul, deixe que eu explico tudo a ela - disse aquele homem monstruoso.

- Seu demônio. Eu não quero ouvir nada que venha dessa sua boca imunda e asquerosa, seu verme assassino.

- Nossa, pra quem carrega o poder da luz você xinga nomes bem sombrios minha jovem - disse com escárnio.

- Como ousa falar assim com o rei sua insolente? - disse o homem que acompanhava o rei. O estranho é que parece que eu o conhecia de algum lugar, só não lembrava de onde.

- Então você sabe falar? Ou você é igual aos ratos que só falam quando o rei manda? - não sei de onde eu estava tirando tanta ousadia. Ou era apenas o reflexo do medo que só aumentava. Era difícil distinguir um do outro.

- Cale-se Jhony – ordenou o rei erguendo a mão.

- Jhony? Você é o irmão da rainha Jasmine. O que mais falta aparecer aqui em? Porque aparentemente a corja suja está toda presente.

- Menina seu senso de humor é maravilhoso. Agora será que pode me ouvir? - a última frase saiu feroz.

Resolvi me sentar e ouvir o que ele tinha a me dizer. Afinal, eu não tinha outra escolha.

- Eu não tenho outra opção mesmo - disse me sentando numa poltrona preta. Nossa quanta originalidade.

- Não vamos te matar, minha querida, então pode guardar suas ofensas dentro dessa sua boquinha - ele apertou meu rosto com aquelas mãos sujas - queremos fazer um pacto com você.

Vi surpresa no rosto de Paul.

- Pai... - começou falar.

- Sente-se Paul - a expressão do rei estava dura - eu sei o que estou dizendo.

- Como assim um pacto? - indaguei.

- Eu tentei fazer esse pacto inicialmente com a Jasmine, mas ela era uma velha muito teimosa e acabou tendo um fim trágico. Na época eu a pedi em casamento para que juntos governássemos os dois reinos e ela se recusou. Mas agora podemos evitar a Batalha de Rematch e milhares de mortes casando você com meu filho Paul. Pois você sabe que não tem a menor chance de me vencer. Afinal, você não foi treinada o suficiente. Estou propondo uma espécie de acordo amigável para não haver uma guerra sem sentido.

Olhei a minha volta e todos estavam com caras de espanto. Pareciam não acreditar no que ouviram, assim como eu, lógico.
Aparentemente o rei havia decidido isso sozinho.

- Você deve estar de brincadeira comigo, só pode ser - eu falei com um tom de deboche fazendo pouco das palavras do rei Gregor.

- Garota, preste atenção. Estou tentando evitar um massacre que você sabe que acontecerá. Pense direito. Essa é a sua melhor opção.

- E o que você ganha com isso? Com toda certeza não vai sair perdendo.

- Poder. Não vou mentir pra você. Casando-se com meu filho terei poder sobre os dois reinos, e você também. Ou seja, todos saímos ganhando - era informação demais para mim. Não sabia mais o que dizer - você passará essa noite em meu castelo, e terá guardas em sua porta só para o caso de tentar fugir. Pense e amanhã me dê uma resposta. Mas não demore, não costumo ser muito... paciente.

- Sou sua prisioneira agora?

- De modo algum. Você é minha convidada de honra – deu um sorriso de canto de boca que me fez arrepiar de medo - a conversa foi ótima, mas preciso conversar em particular com meu filho agora. Jhony, acompanhe nossa hóspede até o quarto dela.

- Sim senhor. Por aqui garota.

Não movi nenhum músculo. Não iria a lugar algum com aquele traidor de irmã. Paul se levantou, ficou de frente para mim e pegou em minhas mãos.

- Bela, não dificulte mais ainda as coisas. Vá com o Jhony, nem ele e nem ninguém te fará mal algum. Eu te prometo.

- Como posso confiar em você Paul? Você também mentiu pra mim, suas promessas são vazias e sem valor nenhum.

- Mas agora estou aqui te contando tudo não estou? Ninguém aqui te fará mal. Se fôssemos fazê-lo já teríamos feito, não é?

Me levantei e encarei a cara de Paul transmitindo todo meu ressentimento.

- Obrigado! - Paul me beijou na testa, eu me levantei e segui Jhony. 

Enquanto o seguia pude reparar melhor nele. Ele era muito forte, tinha cabelos castanhos claro quase loiro e alguns fios grisalhos, seu rosto não mostrava velhice, mas cansaço. Os olhos azuis eram profundos e sua pele levemente bronzeada. O rosto era coberto por uma barba média bem cuidada.

- Seu quarto minha jovem - falou Jhony tirando-me de meus devaneios - meio-dia em ponto servimos o almoço, portanto não se atrase.

- E você acha mesmo que eu vou descer para comer com os assassinos da minha família? - perguntei incrédula.

- Então desça pelo menos, ou virão te buscar. Isso não foi um pedido, foi um comunicado, caso não tenha percebido. Deixe-me te dar um conselho, não bata de frente com o rei.

- Ou o que? Ele me mata? Eu particularmente perderia o valor equivalente a nada morrendo.

- Menina essa sua petulância só irá te prejudicar. Não tente bancar a heroína. Eu tentei e perdi as três pessoas mais importantes da minha vida - ele me pareceu sincero - meio-dia, não se esqueça.

Então ele saiu e eu fiquei sozinha naquele imenso quarto sufocante.

*Jhony na mídia.