32 - Feridas nos corações

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Eu como uma tonta comecei a chorar. Sem motivo algum, mas eu precisava chorar. Sentia uma dor latente no coração como se estivesse morrendo de alguma doença ali, me faltava ar e um zumbido forte estrondava em meus ouvidos.

Paul diminuiu a expressão do seu rosto e percebi que ele não sabia o que fazer.

- Me dê só um motivo para viver Paul - eu supliquei.

- Eu não tenho como te dar isso, Bela - ele falou se sentando em sua cama ao meu lado e pôs sua mão sobre a minha - respire devagar, você está tendo um ataque de pânico.

Fui lentamente me acalmando.

- Verdade! Você não pode me dar o que não existe. Eu perdi tudo o que tinha de importante em minha vida. Não me restou nada e nem ninguém.

- Não é bem assim, você tem seu povo que te espera com alegria.

- Por que me salvou? Duas vezes? - perguntei repentinamente.

- Vejo que não consigo conter nem a língua da criadagem. 

- Ísis disse sem querer, não teve a intenção.

- Eu só cumpri meu papel de marido - seus olhos eram sinceros.

Marido, aquela palavra meio que me assustou.

- Você sabe que nosso casamento é só no papel não é mesmo Paul?

- Sim Bela, eu sei, você não precisa ficar me lembrando isso como se eu estive exigindo algo de você, porque não estou.

- Me desculpe!

- Mas você está ciente que nossos filhos serão os futuros reis e rainhas não está? - ele disse parecendo sério.

- Sim, estou – fiquei meio acanhada, por que tocar nesse assunto logo agora?

- Você sabe como os filhos são feitos, não é? - perguntou erguendo uma sobrancelha.

O que? Será que Paul acha que sou alguma retardada?

- A gente precisa mesmo falar sobre isso agora? - respondi irritada, mas quando olhei para seu rosto ele parecia se divertir. Então entendi sua intenção, ele queria apenas diminuir a tensão e me distrair.

- Acho que não - ele riu quando percebeu que eu entendi sua tática de me acalmar.

Pairou um silêncio sobre o quarto até que perguntei:

- Paul, por que você me trouxe para o seu quarto?

- Achei que ficaria melhor aqui.

Ele disse aquilo, mas não me convenceu nem um pouco.

- Fala sério Paul.

- Eu só queria cuidar pessoalmente de você.

Suspirei.

- Eu não entendo.

- O que?

- Você!

- O que é que tem eu?

- Você me salva, me faz acreditar que gosta de mim, depois me traí, me entrega pra morrer, diz que não gosta de mim, me seduz, me ignora, me salva de novo, vem com essa conversa fiada de casamento e filhos. Minha cabeça não consegue te acompanhar. Caramba Paul diz logo, que droga você quer?

A reação de Paul foi totalmente inesperada.

Ele avançou em cima de mim, me pressionou contra a cama e me beijou.

- Eu quero você Beliza Shonttely! - ele disse aquela frase ao meu ouvido e me soltou, depois foi em direção da porta e se retirou do quarto antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

Passei a manhã inteira pensando em tudo o que havia acontecido. Nossa! O que estava acontecendo?

Desci para o almoço e Paul não estava lá, na verdade não o vi a manhã inteira depois da nossa conversa.

Já era noite e resolvi tomar um banho antes de dormir. Saí do banheiro e levei um susto.

- Ah, Paul! Você me assustou.

- Na verdade você quem me assustou Bela, afinal esse quarto é meu.

Senti meu corpo inteiro queimar de vergonha, ele tinha razão.

- S-sinto muito Paul. Eu havia me esquecido. Como passei o dia aqui me esqueci completamente que...

- Não precisa ficar com vergonha. Eu não vou invadir sua privacidade mesmo estando em meu quarto. Não sou como Ascaban que a via nua sem permissão.

Me enfureci com aquelas palavras de Paul.

- Nunca mais diga isso.

- Bela me desculpe – pareceu se arrepender do que havia dito - não pensei antes de falar.

- Você nunca será nem metade do homem que ele foi, nunca.

Saí do quarto de Paul enrolada apenas com a toalha e fui para meu quarto sabendo que ele me seguia.

- Bela, abra a porta, me desculpe. Eu não devia ter falo aquilo. Perdão, vamos conversar, por favor.

Depois de estar vestida abri a porta e gritei com Paul.

- O amor da minha vida morreu e parte da culpa foi sua - eu disse o empurrando no peito com meu dedo indicador - você não acha que já causou sofrimento o suficiente para mim? Graças a você Ascaban está morto, MORTO. Eu espero que você carregue essa culpa pelo resto da sua existência.

Paul apenas ficou em pé ao lado da porta e não se moveu nem disse nada. Antes de fechar a porta eu ainda acrescentei.

- Você ajudou levar a morte o homem que tentou salvar a vida da sua mulher e da sua irmã, jamais se esqueça disso.

Fechei a porta do meu quarto e depois de pensar um pouco percebi que havia pegado pesado.

No dia seguinte desci para tomar café da manhã e Paul já estava a mesa.

- Bom dia! - eu disse quase num sussurro.

- Bom dia Beliza! - Paul respondeu friamente sem olhar para mim.

Me sentei e após alguns minutos o clima ficou insustentável.

- Paul me desculpe por ontem. Eu exagerei. Não devia ter dito...

- Dito a verdade? Bela, eu sei que você sempre vai amar ao Ascaban, e eu não estou pedindo seu amor, peço apenas sua compreensão - ele se levantou e olhou pela primeira vez em meus olhos naquela manhã - querendo ou não você agora é minha mulher e rainha de dois reinos. Portando apenas aja como tal na frente dos outros. Quando estivermos a sós você nem precisa falar comigo se não quiser. Repito, apenas mantenha a aparência na frente dos outros para o bem estar dos nossos reinos. Não somos mais filho do rei Gregor e filha da dama da rainha, nós somos senhor e senhora dos reinos da luz e trevas e é como devemos agir.

- Tem razão. Estive pensando e se pudermos conversar de forma adulta e civilizada hoje a noite seria uma ótima oportunidade de nos acertarmos.

- Como quiser.

Tomamos, ou tentamos tomar, o nosso café da manhã em silêncio absoluto.

Não desci para almoçar, queria planejar tudo para a noite.

O dia e a tarde logo se foram e a noite tão logo também chegou. Estava nervosa e apreensiva.

Escuto passos pelo corredor e a porta se abre, era Paul. Ele estava muito lindo e elegante, mas eu já imaginava isso então eu também tinha colocado uma roupa bem elegante e estava deslumbrante.

- Posso entrar? - ele falou numa voz grossa e educada.

- Sim, claro. Tranque a porta por favor - minha voz saiu suave e aveludada como eu havia planejado. Ele queria jogar? Pois eu também.

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A última guardiã da Luz (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora