28 - O casamento

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Já era a hora do casamento e nada de Ascaban ou do meu pai.

Os casamentos eram realizados em um tipo de caverna. Para cada hierarquia do reino havia um tipo, quanto mais alta a hierarquia, mais belo era o interior. Por fora era feia como uma caverna comum, mas o interior não era nada grotesco como imaginei. Haviam centenas de pontos azuis no teto iluminando todo o espaço, o chão era coberto de água que refletia a luz do teto, tive medo de pisar e me sujar até notar que a água permanecia no lugar quando pisávamos. Tudo estava envolto de magia naquele lugar.

Estava tudo pronto. Haviam algumas pessoas lá dentro, mas não sabia quem era ninguém.

O que me chamou a atenção foi o fato de haver alguns creppitos no teto da caverna como se fossem guardas. Precisa ficar atenta a cada movimento de cada ser ali dentro. Gregor sabia que Ascaban estava vivo, mas parecia não saber sobre a ajuda do meu pai.

Tentei afastar todos esses pensamentos da minha mente e focar no casamento.
Paul já estava no altar, e não havia como eu adiar mais a minha entrada.

- Onde será que eles estão? - sussurrei a mim mesma enquanto caminhava até o início da entrada.

Chegou a hora de entrar, comecei a andar em direção ao altar, onde Paul estava com um sorriso um tanto exagerado, ao lado dele estava seu pai com uma cara fingida de emocionado. Enquanto andava lentamente como uma lesma eu parei e pensei "será que de fato Paul sabe que estou sendo obrigada a me casar com ele sob ameaça do seu pai?". Pela primeira vez tive esse pensamento, todas as vezes que Gregor me ameaçou Paul não estava presente e ele nunca fez nada contra mim quando o filho estava presente.

Se ele não soubesse de nada talvez eu tivesse alguma chance de contar tudo a ele e acabasse com essa farsa. Por um instante tive esperança de poder ter uma mínima oportunidade de me livrar daquilo tudo. Mas e se ele soubesse de tudo e fosse cruel como seu pai?

- Beliza? - alguém me chamou. Caí em mim e percebi que já estava no altar. Fiquei tanto tempo pensando que nem notei que já havia chegado.

- Sim, estou aqui.

Os rituais de casamento dos seres das trevas eram algo muito sério. Eles faziam pacto de sangue, ou seja, eles nunca se separariam, independente do que acontecesse somente a morte os separariam.

- Você está bem? - ele disse meio preocupado.

Assenti.

Então o mestre de cerimônia começou os preparativos para os rituais do casamento. Nossas mãos seriam cortadas e algumas gotas de sangue iriam ser coletadas para serem misturadas no que eles chamavam de cálice da união, os sangues juntos serviriam de tinta para assinarmos nossos nomes na pedra a nossa frente que fazia parte da parede da caverna, depois que juntássemos nossas mãos cortadas uma a outra passaríamos a ter o mesmo sangue correndo em nossas veias. Eles se misturariam e tornariam um só.

- Paul - o chamei baixo - preciso te contar algo – decidi arriscar e tentar contar tudo ele.

- Agora não Beliza. Que falta de respeito.

- É sobre este casamento e sobre seu pai.

- Bela, eu sei que você não quer se casar comigo e isso tudo é um sacrifício para você, um sacrifício que está fazendo pelo seu povo. Mas tenha um mínimo de educação.

Sua voz estava estranha e de alguma forma o seu jeito também, não parecia ser a mesma pessoa.

- Paul me escuta, é o seu pai.

- O que tem meu pai? - sussurrou impaciente.

- Ele está me ameçan...

Não pude terminar a frase. Enquanto falava com Paul eu olhei para cima e vi um dos creppitos enforcando Ascaban e com um punhal no seu peito. Ao ver aquilo eu tive uma crise e desmaiei.

Acordei em uma sala com Paul e Gregor ao meu lado.

- Ascaban! E-eu vi Ascaban. Um dos creppitos estava tentando o matar. Eu vi, eu vi - eu gritava enquanto Paul me encarava com compaixão. Eu não estava louca, eu sei o que eu vi.

- Bela - suspirou Paul - Ascaban está morto, ele morreu naquela explosão, consegue se lembrar querida?

Naquele momento eu caí em lágrimas. Será que eu estava ficando louca? Ao me ver chorar Paul me abraçou e beijou na parte de cima da minha cabeça. Com certeza ele não sabia dos planos de seu pai. Gregor se levantou e com toda falsidade do mundo fingiu se importar comigo.

- É apenas a emoção dela meu filho. Foi um longo processo até aqui.

Paul acariciou minhas mãos e tocou no anel em meu dedão.

- Que diferente esse seu anel, nunca a vi usando, ele é de família?

- Como assim? As empregadas me disseram que você...

- Paul nos dê licença um instante, avise aos convidados que logo voltaremos. Deixe-nos a sós para que eu possa acalmá-la.

- Não Paul, por favor fique - eu me sentia mais segura perto de Paul e a última coisa que eu queria era ficar a sós com aquele monstro.

- Deixe-me ficar com ela pai.

- Não me desobedeça Paul, saia.

Paul estava estranho, se levantou de forma rígida e sem me olhar saiu. Assim que a porta se fechou Gregor veio para cima de mim e me deu um tapa no rosto. Titubeei e cai no chão.

- Sua vadia. Acha mesmo que pode por meu filho contra mim? Acha mesmo que eu não estava a vigiando? É uma imbecil.

- Eu não estava fazendo nada.

- Já falei para não subestimar minha inteligência sua petulante idiota.

- Seu maldito, você prometeu que não ia machucar ele - eu disse entre as lágrimas que desciam pelo meu rosto.

- Mas a culpa foi toda sua. Você quem me traiu, você quem tentou acabar com tudo - houve um silêncio - levante-se.

- Para quê?

- Ora, temos um casamento a realizar não é mesmo? - ele falou com um tom risonho na voz.

- Mas eu achei que...

- Que não teria casamento? Não seja idiota.

- Mas quanto a Ascaban?

- Ele vai estar no mesmo lugar que o viu da última vez, mas somente você poderá vê-lo. Faça como combinamos e dará tudo certo. Lembre-se que fez um trato comigo e seu sangue como garantia.

Eu não tinha outra escolha.

- Agora se ajeite e volte para lá o quanto antes.

Gregor então saiu e foi anunciar junto a Paul para os convidados que estava tudo bem.

Voltei ao altar e logo vi Ascaban nas mãos daqueles creppitos imundos, não suportei mais as lágrimas e então permiti que elas caíssem.

- Que lindo, ela está emocionada - disse o rei Gregor com ironia como se importasse comigo.

- Você está bem? - Paul ainda parecia diferente.

- Sim - eu não podia nem tentar contar as coisas a ele, não podia pôr a vida de Ascaban em risco.

Fizemos tudo direitinho. Porém quando íamos dar as mãos Ascaban se libertou e o teto se quebrou como vidro e ele caiu ao meu lado gritando: 

- BELA, NÃO FAÇA ISSO. ELES VÃO NOS MATAR.

*Local do casamento na mídia.

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Tenso 😬

A última guardiã da Luz (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora