Andamos mais um pouco e chegamos ao Lago do Amor.
— Não acredito que você me trouxe aqui, Art — disse Bella assim que chegamos
ao lago.
— Quero te levar nos lugares que marcaram nossas vidas. E este, bom, este
lugar foi o início de tudo. Lembra? — falei.
— Como poderia esquecer? Me lembro como se fosse ontem.
— Vamos sentar e descansar um pouco.
Bella fez sim com a cabeça. Comprei duas garrafas d'água e fomos sentar
num dos vários bancos do lago.
— Lindo — comentei olhando para o lago.
Era manhã de primavera, vários pássaros cantavam, tinha flores de vários
tipos, as árvores todas coloridas e alegres. Isso fazia aquele lugar perfeitamente
especial para mim e Bella.
— Fica mais lindo toda vez que você me traz aqui — respondeu Bella, e nos
beijamos.
— Vou tirar uma foto para registrar esse momento — disse Bella. Ela pegou
o celular do bolso e eu beijei a bochecha dela. Ela fez um biquinho para a câmera
e tiramos a foto.
— Admito que não sei o que seria da minha vida sem você — falei.
— Nem eu imagino a minha sem você, Art.
Bella estava tão linda, usava um short desfiado nas pontas, camisa malhada,
estava linda. Pensei que aquele momento poderia durar para sempre, mas o
"para sempre", se pensarmos bem, nunca dura para sempre. Mas se acreditar
sim, talvez, dure para sempre. Saímos andando na calçada em volta do lago.
— Hum... sabe o que ficaria perfeito? — perguntei a Bella.
— Você me beijar de novo?
— Também — falei.
Coloquei o skate no chão e subi, estendi a mão para que Bella subisse também.
Com a perna dei impulso no skate, que começou a se movimentar.
— OK, só isso? — perguntou Bella.
— Abra os braços e veja.
— Titanic.
— Sim.
— Seu lindo, você sempre dá um jeito de as coisas ficarem mais perfeitas do
que são.
Eu comecei a cantar a canção "Em cada sonho", que é a do Titanic, só que em
português, e ela me acompanhou. Depois de terminarmos a canção, Bella me
perguntou:
— Por que o tempo passa tão rápido, Art?
— Talvez não passe — respondi.
— Por que diz isso? — insistiu Bella.
— Se começar a dar valor ao tempo que tem, mesmo que seja mínimo, talvez
ele não passe rápido.
— Falou como um verdadeiro filósofo.
— Você que tem mania de fazer perguntas complicadas — falei.
— Nada a ver. Sei lá, só quero achar uma teoria.
— Para quê? — perguntei, saindo de cima do skate e voltando a sentar num
dos bancos.
— Para o tempo. Porque ele passa rápido.
— Lembra que você disse que era como a lua? — perguntei.
— Sim. Tenho minhas fases.
— Então use isso como palavra-chave.
— Isso tá complicado — admitiu Bella.
— Verdade.
Algumas folhas caíam nas águas do lago. Eram folhas amarelas, deixavam a
superfície do lago com uma leve camada de folhas. Fiquei pensando e olhando
para aquelas folhas depositadas na água.
— Por que está olhando para a água? — perguntou Bella.
— Do mesmo modo que você gosta de olhar para seus pés.
— Isso, olha — ela levantou a mão para o alto e começou a explicar. — As
folhas são como o tempo, se olhá-las vão demorar a cair ou no caso passar, mas
se distrair olhando para água vai perceber que elas vão cair no ritmo e quando
se percebe a água está repleta delas. Assim é o tempo, se distrair só vai fazer você
perceber que as coisas simples, como dizia seu avô, passam rápido.
— Talvez você se distraia demais olhando para seus pés e os balançando.
— Ou talvez — ela pegou na minha mão — o simples gesto de pegar na mão
de outra pessoa e sentir seu sangue fluir seja uma distração.
— Nosso cérebro cria distrações — falei —, e distrações lindas.
Beijei-a.
— Talvez a distração seja a causa dos seus sonhos com a menina. Você se
distrai demais na realidade, e faz com que sua mente crie situações decorrentes
da realidade.
— Se é um sonho, por que também não pode significar que não seja real?
— Podemos descobrir — disse Bella.
— Como? — perguntei.
— Existem sessões nas quais você sai da realidade e entra em contato com
outras vidas.
— E a menina pode estar em outras vidas? — perguntei.
— Talvez você esteja preso em outra vida, e nessa outra vida a menina está
ao seu lado — respondeu Bella.
— Como sabe disso?
— Henry me mandou pesquisar. Consegui um número. Um número de um
consultório que faz essas regressões ao passado — disse Bella, séria, olhando
dentro dos meus olhos.
— Não está pensando em me levar neste consultório, está?
— Temos que tentar todas as possibilidades.
— Não.
— Por favor — insistiu Bella fazendo uma carinha fofa.
— Vou pensar.
— Tem até amanhã — disse Bella.
— Só?
— Só.
— Adivinha — falei.
— O quê?
— Três palavras, sete letras e um sentimento verdadeiro e único.
— Não sei — respondeu ela com um sorrisinho torto, sem mostrar os dentes.
— Eu te amo — sussurrei em seu ouvido.
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A Menina Dos Olhos Castanhos
RomansaJá pensou como seria se apaixonar por uma pessoa que vive em seus sonhos? Não só sonhar, mas se apaixonar por uma sombra, da qual você nem mesmo sabe o nome. A única coisa que sabe é que seus olhos são castanhos. Arthur é um adolescente comum, que n...