EPÍLOGO

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Nada nunca fez sentido.

Mas agora tudo fazia sentido. Nunca me senti tão feliz e tão triste ao mesmo

tempo. Um diagrama da minha vida fora desvendado.

— Vô — falei. — Bella, vô.

— Sim, Bella.

Gritamos juntos para o alto.

— BELLAAAA!!!

Saí correndo, passei pela sala e sai em direção à casa da Izzie.

Sim, a garota que achava que conhecia, na verdade a prima de Bella. Tudo

nunca fez sentido, mas agora faz. Izzie era bem parecida com Bella, era por isso

que eu sempre achei que a conhecia de algum lugar.

Como eu pude ser tão idiota e ter deixado esse detalhe passar despercebido?

Não consegui encontrar a casa da Izzie, não me lembrava do caminho. Mas

me lembrava muito bem do caminho até a floresta, e até o precipício.

Fui correndo o máximo que pude. Meu coração era um poço de esperança.

Onde houver esperança, mesmo que seja mínima, não hesite, você deve lutar

por ela. E foi isso que fiz, corri com esperança.

Minha esperança girava em torno de encontrar Bella. Minha esperança era

de que ela estivesse viva e me esperando, mesmo sabendo que aquela carta tinha

nove meses. Eu ainda tinha esperança de que Bella esperava por mim.

Cheguei à floresta, fui correndo as trilhas que cortavam a floresta, me perdi

em alguns trechos, mas logo vi uma luz forte vindo em minha direção. Eu a

segui e acabei chegando ao princípio.

Uma figura de cabelos ruivos estava na beira do precipício.

— Bella? — chamei.

A pessoa que se virou na verdade não era Bella, era Izzie.

— Não — respondeu Izzie. — Mas creio que você leu a carta.

— Sim. Cadê Bella?

Ela me olhou no fundo dos olhos. Aquele foi o olhar mais tortuoso que presenciei.

Ela me olhava como se quisesse dizer a resposta pra minha pergunta, mas não

pudesse. Seus olhos estavam fixados nos meus. Sua cabeça começou a assentir para

mim e num rápido desvio de olhar ela olhou um pouco ao lado fixamente.

Comecei a sentir o velho e maravilhoso cheirinho de morango. Meu coração

disparou, perdi o chão, minhas mãos tremiam, minhas pernas tremiam. Arrepiei-

me todo quando virei para trás e vi Bella, a centímetros de mim.

Quando percebi já estávamos abraçados, unindo nossos corações em um

único ser, que se chamava "amor".

Senti seu velho e corajoso coração bater veloz e violento contra meu peito.

Senti o cheirinho de morango que saía de seus cabelos. Estavam curtos, mas um

pouco maiores do que os meus.

Ouvi sua voz de choro chorar em meus ouvidos. Senti seu abraço forte, apertando

minhas costelas.

Matar uma saudade que durou um ano não foi fácil. Ficar abraçado a Bella,

saber que está viva e ali, na minha frente, me abraçando, me sentindo. Foi um

dos milagres mais fortes que eu senti.

Afastamos o tronco de nós dois, mas o resto do corpo ainda estava grudado.

E, pela primeira vez em um ano, nos beijamos. Oh, sim, sim, nos beijamos. Mas

que beijo que demos naquele dia.

Senti aquela pele rosada tocar meu rosto. Seus lábios encostarem nos meus e

quando vi eu já estava com a minha mão na cintura e a outra no pescoço.

— Art... — disse Bella depois de algum tempo.

— Bella — respondi.

— Você não sabe há quanto tempo eu espero por esse beijo.

— Eu também.

— Art. Me perdoa. — ela voltou a chorar. — Sinto muito, eu...

— Shhh — falei colocando meu dedo indicador em seus lábios. — É... Eu

entendo, eu compreendo.

Foi a única coisa que precisava ser feita. Porque na realidade, era a primeira

vez que oficialmente eu a entendia. Por tudo que ela fez, pelo tanto que ela mentiu.

Porque o tudo dela foi por mim. O tudo dela era meu.

— Pera — disse parando o beijo. — Quem era a menina dos olhos castanhos?

— Ainda quer saber? — perguntou Bella.

— Não.

E sobre a luz daquele sol de duas da tarde, nada mais importava para mim.

Eu tinha Bella, eu tinha. Isto bastava.


A Menina Dos Olhos CastanhosOnde histórias criam vida. Descubra agora