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A casa de Bella não ficava longe da minha, apenas algumas quadras. Fui andando,

eu era lerdo para caminhar, mas naquele dia eu me superei. Acho que se

eu apostasse corrida com uma tartaruga, era bem capaz de ela ganhar.

Passei pela padaria. Entrei.

— Quero dois sonhos — falei para a atendente assim que entrei na padaria.

— Aqui os sonhos, são dois reais — disse a atendente. Paguei e saí.

Bella e eu adorávamos sonhos, sempre que tinha dinheiro comprava um

para mim e outro para ela.

Todos têm alguma obsessão por algo, mesmo que seja insignificante, mas

têm. Bella e eu tínhamos obsessão por sonhos, não que seja clássico esse negócio

de sonhos, mas realmente esses pãezinhos têm algum dom, não sei explicar

como, mas eles dão aquilo que nomeamos de “paz interior”.

Andei mais umas duas quadras e cheguei à esquina da casa de Bella. Avistei

Bella. Uma garota ruiva, olhos verdes e com sardas na cara. Bella estava vestida

como uma daquelas biólogas que estão prestes a perder a conferência mundial

de preservação da Mata Atlântica porque acordou tarde. Estava com seus cabelos

ruivos volumosos rebeldes e uma calça cor de terra com muitos bolsos,

estilo ecologista, com o uniforme da escola e com aquele tênis Vans, que dava a

impressão “foi o único que achei assim de última hora”.

— Hum... Senhor Arthur, você está exatamente dois minutos atrasado —

disse Bella assim que cheguei à sua casa.

— Passei na padaria, por isso demorei — respondi.

— Comprou sonho?

— Comprei, aqui — peguei e entreguei o sonho a Bella.

— O que seria da minha vida sem você? — disse Bella, dando um beijo na

minha bochecha.

— Nem quero imaginar.

— Vamos, combinei de encontrar a Larissa na entrada da escola.

A casa da Bella não ficava longe da escola, apenas algumas quadras. Fomos

andando e comendo os sonhos.

Ficamos em silêncio.

— E você e o Leon? — perguntei a Bella. Leon era o namorado de Bella. Eles

estavam juntos há dois meses, que para Bella era um bom tempo, já que eu nunca a

vi namorar tanto tempo assim.

— Ah, ele é um idiota.

— Serio? — falei em tom irônico, levantando as sobrancelhas.

— Impressionante como eu tenho atração por idiotas.

— É a física, os opostos se atraem.

Eu ri.

— A física está certa. Você é um idiota também, viu? Lembra quando a gente

ficou? — falou Bella rindo.

— Fala a verdade, até que não foi tão ruim me beijar.

— Não foi. O engraçado foi a gente ficar dois semanas sem se falar, com vergonha

A Menina Dos Olhos CastanhosOnde histórias criam vida. Descubra agora