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- Art... Art...

Meus olhos estavam abertos, ao meu redor estava tudo embaçado, só a figura

de Bella eu conseguia perceber com clareza, pois seus cabelos a denunciavam.

Aos poucos fui recuperando minha visão e me peguei deitado na poltrona, com

Bella ao meu lado e a doutora sentada na cadeira.

- Conseguiram? - perguntei.

- Você sonhou com ela - disse a doutora.

- Sim - disse.

- Nós sabemos, você contou todo o seu sonho para nós enquanto estava em

transe - disse Bella.

- Mas eu falei quem é a menina? - perguntei. - Hum?

- Não. Ela se foi, Art, sinto muito - disse a doutora. - Existem casos em

que nem mesmo nós que fazemos essas regressões conseguimos encontrar as

respostas que nossos pacientes querem. Isso me deixa incapaz. Eu sinto muito.

Os sonhos muitas vezes são confusos e leva tempo para entendermos, e quando

entendemos pode ser tarde demais.

- Tudo bem - falei. - Quanto tempo fiquei no sonho?

- Quinze minutos no sonho e dez dormindo - respondeu a doutora.

- Vamos, Art - falou Bella, me ajudando a levantar da poltrona.

- Posso ajudar em algo mais? - pergunta a doutora.

- Não - responde Bella. - Obrigado pela ajuda.

- Por nada - diz a doutora.

- Obrigado, doutora - falei. - Tchau.

- Tchau - disse a doutora.

Fomos em direção ao ponto de ônibus. Estávamos em silêncio até então.

- E agora? - perguntou Bella.

- Desistimos, definitivamente - respondi.

- Não...

- Sim. Isso me dói muito, mas ela se foi.

- Não sabe, vai se ela aparece de novo em seus sonhos - disse Bella.

- Não vai, eu sinto. Não vai.

- Tudo b... - Bella caiu no chão, mas suas mãos a apoiaram na calçada e

conseguiram impedir que seu rosto se chocasse com o chão. Sua respiração era

ofegante, como de uma pessoa fumante. Consegui colocá-la de pé. Caminhamos

até o muro de um edifício e eu a encostei na parede.

- Bella? - falei.

- Me leve embora, Art.

Caminhamos devagar até o ponto de ônibus. Não demorou muito para que

nosso ônibus passasse.

Chegamos à casa de Bella umas 16h50min.

- Vem, Art - disse Bella me puxando até seu quarto.

- Você é linda - falei, logo quando sentamos em sua cama.

- Seus olhos.

- O quê?

- Parecem dois pedacinhos do céu, mostrando o Paraíso.

- Metáfora.

- Sim. Deite ao meu lado - disse Bella se deitando na cama e me puxando

ao seu lado. Ela deitou em cima do meu braço.

- Você está bem? - perguntei me virando para o lado.

- Não. Nossa vida é um conto de fadas, nós sempre sabemos o final.

- Você não pode ir.

- Isso você não pode impedir mocinho - disse Bella com a voz aguda.

Eu abracei, forte, apertei-a. Abracei como quem não quisesse soltar mais, e

eu não queria. Seu coração mais uma vez batia forte e ligeiro. Sentia o cheiro de

seu condicionador saindo do seu cabelo.

- Meus leucócitos estão diminuindo rápido, Art. Não sei como consegui ir

naquela viagem. Minha mãe estava com medo de que algo me acontecesse. Preciso

urgentemente de uma transfusão de medula óssea. Só isso pode me ajudar,

Art. Não quero te deixar - disse Bella cheirando minha camisa.

Chorar sempre foi meu ponto fraco. O cheirinho de morango que saía de

Bella entrava em meus pulmões. Chorei, chorei e a abracei.

- Não se desespere se alguma coisa acontecer, fique firme. Eu sempre estarei

aqui, espere por mim - disse Bella dando palmadinhas em meu coração.

- Vou estar sempre ao seu lado.

- Sempre?

- Sempre...


A Menina Dos Olhos CastanhosOnde histórias criam vida. Descubra agora