A Menina Dos Olhos Castanhos

7

Procurei Bella pela escola inteira. Só faltava um lugar. A quadra de esportes. Mas

estava trancada. Pulei o muro e procurei pelos arredores, até que encontrei uma menina

solitária, estava abraçando seus joelhos, encostada na parede de fora da quadra,

debaixo de uma árvore. Cheguei bem perto. Sentei-me ao lado dela, não disse nada.

Abracei Bella.

— Ei, que foi? — perguntei. Bella levantou a cabeça e me olhou fixamente

sem desviar o olhar, me encarou.

— Nada — respondeu Bella.

— Hum... Larissa me contou que vocês brigaram.

— Aquele idiota — disse Bella. — Acabamos tudo o que tínhamos juntos.

Por mais que eu quisesse rir daquela situação, pois (1) eu odiava o Leon e (2)

Bella bem que merecia ouvir umas verdades minhas, sobre sua infantilidade,

não seria a atitude certa de um melhor amigo nessa situação.

— Por quê? — perguntei.

— Ele é um idiota, Art. Discutimos, eu disse que queria um tempo, daí ele

me chamou de criança. Começamos a brigar, então ele jogou na minha cara que

me traiu com a Stefany.

— Com a Stefany? — falei meio surpreso. Stefany era a “putinha” da escola.

A menina era mais rodada do que pneu de ônibus.

— É. Eu nem ligo. Quem sairá perdendo é ele, que vai perde essa belezura

toda aqui. Ele é um idiota.

O senso de humor de Bella nunca mudava, era sempre se valorizando e sempre

tentando sair como a vítima não vítima da história, mas por cima de todos,

ou no caso de Leon.

— Isso não é novidade nenhuma — argumentei. — Novidade é você vir para

cá e ficar sozinha.

— Não estou sozinha — retrucou Bella. — Você está aqui.

— E como você sabia que eu viria atrás de você?

— Não sabia, apenas confiei em você — Bella olhou profundamente em meus

olhos, como que quisesse me dizer “Arthur, você é a única pessoa com quem quero

estar agora”, mas não precisou dizer, pois seus olhos disseram por ela.

Pensei no que Bella estava sentindo naquele momento, ou que não estava,

pois ela mesmo admitiu que não gostava do Leon. Ela sempre se contradizia.

Impressionante.

Escutamos o sinal tocar, significava que o intervalo tinha acabado e tínhamos

que voltar para a sala.

— Quer voltar para a sala? — perguntei.

— Não, quero ficar aqui.

— Por que você veio logo para cá?

— Sei lá, Art. Só queria ficar um pouco sozinha. Você me conhece, por mais

que você tente tentar descobrir meus mistérios não vai conseguir. Esse é um

desses, o fato de ficar sozinha me deixa bem, mas o fato de você estar aqui comigo