23 - Eu aceito

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YURI

Acordar ao lado de Anna parecia uma cena perfeita de filme ou novela. Fiquei sem chão quando ela descobriu tudo e não quis falar comigo. Anna era tudo pra mim, não suportaria viver sem ela. Nenhuma palavra, em qualquer língua que seja, não conseguiria expressar o tamanho do horror que foi pensar em perdê-la novamente. Anna é meu rumo, meu prumo, meu chão. Cheirei seu pescoço e ela se espreguiçou em meus braços. Olhou pra mim e sorriu.

- Obrigada por ter me esperado por tanto tempo. Foram dez anos muito longos, não?  - Não contive as lágrimas, aquelas palavras acertaram em cheio meu coração. - Desculpe, amor. - Anna me abraçou.- Não quis te fazer chorar. Por favor, não fique assim. - Ela começou a chorar. Me recompus.

- Eu estou feliz, vida. Minhas lágrimas são de felicidade por te ter de volta. - menti. 

Aquelas lágrimas eram de toda a dor que passei durante esses longos anos sem ela, sem meu amor.  Mas não queria que Anna sofresse ao saber o que passei.

- Amor, você pode me falar tudo, eu preciso saber tudo o que se passou, tudo o que aconteceu. Não quero que você me prive de nada. Eu preciso saber como foi a sua vida durante esse tempo que ficamos afastados.- Enquanto ela falava, segurou o meu rosto e me fez olhar no fundo dos seus olhos. Eu a beijei de uma forma doce pra que ela pudesse sentir toda a minha gratidão.

- Eu te amo tanto, vida. - seus olhos não saíam dos meus.-  Quando você sofreu aquele acidente, eu me senti tão culpado. Como disse a Tatiana, eu devia ter dado um chega pra lá na Sabrina há muito tempo. - ri amargurado.- Mas nunca imaginei que a maldade da minha mãe chegasse a tanto. Você estava em coma e havia perdido o nosso bebê. - uma lágrima escorreu. - Nós nem tínhamos conhecimento da sua gravidez mas quando eu soube que você tinha perdido o bebê, chorei muito. Ele era o resultado do nosso amor, uma evidência do que tínhamos, a nossa continuação. - Anna começava a derramar muitas lágrimas. -E quando cheguei ao hospital naquela manhã... - pus a mão na cabeça lembrando daquele dia. - Você não estava lá e o médico disse que você havia morrido, eu queria morrer também. Eu não via esperança pra mim. Como eu poderia viver como se nada houvesse acontecido?

Parei um pouco de falar porque minha voz estava tão embargada que as palavras não conseguiam mais sair.  Anna me abraçava e chorava também. Quando me recompus, a olhei novamente e continuei.

- Os três meses seguintes foram de bebedeira. Não saía de casa, mas meu pai e André não me deixavam em paz. Todos os dias eles vinham aqui religiosamente. Eu já estava cansado daquilo. Resolvi enganá-los, mostrar que eu estava bem. Voltei a estudar e a estagiar. Por fora parecia que estava tudo normal mas por dentro eu estava destruído. O tempo foi passando, eu trabalhava, ía a festas, reuniões, conversava com pessoas, saía com mulheres - Anna fez careta.- Mas eu era infeliz, muito infeliz. Porque você não estava comigo, estava morta.

Anna me abraçou e sussurrou ao meu ouvido: "Eu sinto muito, amor." A abracei forte.

- Eu estava decidido a continuar com a minha vida enganando todo mundo. Mostrando estar bem, mesmo que André e meu pai não acreditassem. No fundo eles sempre souberam como eu, de fato, me sentia. Mas aí, eu te vi. Você sabia que eu quase não fui naquela entrevista na faculdade?

- Graças a Deus você foi, amor. - sorriu.

- Quando eu te vi ali, fiquei espantado. Meu coração batia tão forte que tive medo de não ser você. Eu só podia estar louco. - ri.- Mas era você. Eu te segui aquele dia, vi onde você morava. Quando vi que você foi pra mesma academia que eu frequentava, corri pra casa, troquei de roupa e voltei pra academia.

- E eu pensando que tinha sido tudo coincidência. - Anna bateu de leve no meu braço e sorriu.- Você me enganou direitinho.

- Eu não podia te deixar escapar.- sorri também. - E o resto você já sabe. - Anna me deu um leve beijo na boca.

- Você me esperou mesmo sabendo que eu não voltaria. Eu espero poder te compensar por todos esses anos tristes.

- Você só precisa ficar ao meu lado, vida. É assim que você vai me recomensar. Promete que não vai me deixar?

-Nunca, meu amor. Eu não poderia. Você é a minha vida.

Nos abraçamos e ficamos muito tempo assim. Ela cheirava o  meu pescoço e beijava, não preciso nem dizer em que isso resultou. Mais amor em cima da nossa cama. Depois tomamos banho. Durante nosso dejejum, eu comecei:

- Mas você ainda precisa me contar como foram os seus dez anos. - Anna sorriu de uma forma que me deixou curioso.

- Acho melhor você não ficar sabendo. - seu sorriso sapeca não a abandonou.

- O que? - saí da cadeira e fui atrás dela. Anna correu de mim e ficamos dando voltas na mesa, eu tentava pegá-la e ela fugia de mim, até que eu consegui segurá-la.- Anda, me conta. Você sofreu também? - ela gargalhou.

- Não, amor. Desculpa. - A minha danadinha não parava de rir. - Eu namorei bastante. 

- Você merecia umas palmadas por ter me esquecido. - falei brincando, sentei no sofá a colocando deitada nas minhas pernas de bumbum pra cima e dei umas palmadinhas de leve. Anna não parava de rir. Sentou no meu colo e envolveu meu pescoço com os braços.

- Eu namorei sim, amor, mas não foi tanto assim.- sorriu novamente.- No fundo, faltava algo que eu não sabia o que era. Nenhum homem conseguia fazer com que eu me apaixonasse. Eu posso ter esquecido você aqui - apontou pra cabeça. - Mas eu nunca te esqueci aqui. - pousou sua mão no coração.- Quando te vi naquele auditório, te achei insuportavelmente arrogante mas algo em você me atraía. Por isso fui trabalhar com você. Mesmo assim, eu tentei fugir de você mas não consegui. Tudo em mim pertence a você. Eu te amo, sr arrogante. -encostou sua cabeça na minha.- Eu passei dez anos te amando mesmo sem saber. - a beijei.

- Casa comigo, Anna. - ela me olhou espantada.- A gente se ama tanto, não tem sentido não selar o nosso amor. Eu quero que você seja legalmente minha. Você aceita se casar comigo?

- Yuri, como você ousa? -  agora era eu que estava espantando. Não sabia o que falar. Anna não queria casar comigo.

- Anna...

- Como você ousa pedir uma garota em casamente sem nem um anel, sem flores? - sorriu e a minha expressão se suavizou. - É claro que eu aceito, amor. Eu me caso com você. Nada me faria mais feliz que ser a sua esposa.- sorriu. - Principalmente porque isso fará de mim a sra Arrogante. - gargalhou. Como eu adorava aquele som, como eu senti falta daquela risada gostosa e verdadeira. Nos beijamos.

O meu caminho voltava a ser trilhado com a mulher que eu amava. O tempo e a distância não conseguiram apagar o nosso amor. Os espaços na minha vida que foram deixados há dez anos, voltavam a ser preenchidos por ela. A minha vida só tinha sentido com ela. Ela era aminha própria vida. Nós nos pertencíamos.






Uma segunda chance ( finalizado )Onde histórias criam vida. Descubra agora