Para o inocente, o passado pode guardar uma memória. Mas para os desleais, é só uma questão de tempo antes do passado devolver o que eles realmente merecem. – Revenge.
A noite enfim chegara como eu desejava. Um bom banho na água quente, uma boa comida e meu livro para relaxar era só o que eu queria e desejava para, enfim, encerrar aquele dia. Depois de tudo que tinha acontecido, dormir era a única saída possível. Não que eu gostasse de me sentir covarde por fugir de todos os problemas, mas o que tinha acontecido era demais pra minha cabeça. Eu precisava esfriar, resignar, resignificar. Essas eram as três palavras chave.
Acordei com o sol batendo no meu rosto. Era mais tarde do que de costume, com tudo que estava acontecendo eu havia esquecendo que era sábado e que consequentemente poderia dormir até mais tarde. Olhei para o celular em cima do criado mudo. Um vibrar suave indicava que ele estava ficando sem bateria. Com o cansaço do dia anterior acabei esquecendo de plugar o carregador.
No visor uma mensagem de texto comprimia o ícone do relógio. Tentado por uma curiosidade descomunal em descobrir se era alguma mensagem do Guilherme, corri para desbloquear e ler o torpedo. Sim, era o Guilherme, mas em tom sério.
-Bom dia Nick. Me liga imediatamente quando acordar" – A entonação era de seriedade e confesso, me deixava um tanto quanto preocupado. Em segundos inúmeras possibilidades passaram pela minha cabeça. Terminar o namoro, uma discussão de relacionamento, saudades. Do mais simples ao mais doloroso.
Bom ou ruim eu teria de ligar pra ele. E o fiz. Diferentemente do dia anterior, Guilherme estava amoroso e preocupado. Perguntou-me se estava tudo bem e me chamou para irmos a um lugar diferente. Como não tinha nada marcado, muito menos queria ficar na mesma casa que meu tio depois de saber tudo aquilo que havia descoberto no dia anterior, acabei aceitando.
Cerca de meia hora depois já tinha avisado a tia Miriam que me ausentaria por algumas horas, tomado banho eu estava pronto para ir até o ponto de encontro marcado com Guilherme: o apartamento que nos servia de refúgio. Não demorou muito e meu namorado também chegava. Não sei se era a saudade que eu sentia por estarmos sem conversar por uma tarde e uma noite ou se ele realmente estava bonito, mas naquela manhã a roupa lhe caíra melhor que o normal. Até o sorriso parecia mais branco. Ele chegou perto, sorriu e me beijou timidamente.
-Desculpa por ontem. Saí do controle. – dizia, enquanto colocava sua cabeça em meu ombro e me abraçava. – É só que.. – fez uma pausa, suspirou, e enfim continuou. – Eu não quero te perder. Não suporto essa ideia. – ao terminar eu apenas o abracei. Nada precisava ser dito ou feito. O silêncio falava por nós e o amor se mostrava naquele gesto.
Alguns minutos depois meu namorado, agora mais calmo, dizia que me levaria a uma espécie de clube que existia na cidade vizinha, a uns 80 kms dali. O nome do lugar era Águas do Valle e a paisagem dali era bem diferente do que eu estava acostumado a ver. Lindas lagoas para andar de pedalinho, piscinas para andar, uma ponte de madeira que atravessava um dos lagos e vários quiosques com bares para servir os hóspedes ou os day users. Típico lugar para programas românticos entre namorados. O positivo era que ninguém ali nos conhecia, e por isso poderíamos relaxar um pouco.
A tarde se revelava agradável no clube. Durante nossa estadia, além de aproveitar o ambiente e ser mimado pra caramba pelo Gui, pude refletir um pouco sobre a vida e o quanto ela mudara. Há pouco tempo eu já tinha feito isso, mas agora era diferente. Eu tinha outra visão de tudo. Via que não devemos julgar alguém por poucas atitudes, muito menos por aquilo que nos mostram ser. Devemos conhecê-las a fundo antes de concluir qualquer coisa, seja boa ou ruim. Meu tio era a maior prova disso. Porém, agora o foco das atenções dos meus pensamentos era em meus pais e meus antigos "amigos". Entre aspas? Sim, "amigos", porque eram apenas colegas de festa, pessoas que nunca se importaram de verdade comigo ou que quiseram meu bem. Estavam por perto apenas por comodismo, por interesse no que eu tinha a oferecer. Em meus pais, por agora entender no que eles queriam me transformar. Em uma pessoa, um homem de verdade. Alguém íntegro, de valor e responsável por suas atitudes. Mal sabiam eles que o plano deles estava funcionando muito melhor que o encomendado. Olhando para o meu namorado, hoje agradecia aos céus pela atitude dura deles. Se não fosse tudo isso, não teria conhecido meu namorado, muito menos descoberto o que é o amor. Como dizem, há certos males que vem para o bem.
O fim da tarde já estava se aproximando e era hora de voltarmos para casa. Enquanto dirigia, meu namorado dava uma das mãos pra mim e aquela cena era uma das que eu teria eternizado para sempre em minha mente: o pôr do sol, a música Cannonball do James Rice no rádio tocando baixinho, e meu namorado a minha esquerda. Camiseta branca, um shorts téctel preto e óculos de sol. Aquele era meu namorado, meu homem, o cara que eu tinha escolhido amar.
Chegamos em casa e o clima não poderia estar melhor. Estávamos com o amor revigorado, prontos pra qualquer embate que viesse pela frente. Me despedi de Guilherme com um aperto de mão discreto e desci do carro dele em frente a minha casa. Tudo parecia quieto, não havia ninguém. Subi para o quarto. Porta fechada, porém não trancada. Quando abri o susto não poderia ser maior: Eric estava sentado na minha cama, mexendo em um dos meus livros.
Os olhares se cruzaram. Até lá ainda não tínhamos tido nenhum embate às claras, mas era evidente o desgostar mútuo.
-O que você está fazendo aqui? – começava sem demonstrar querer um papo amistoso. – E por que tá mexendo nas minhas coisas? – terminei ressaltando a parte do pronome possessivo minhas.
-Eu vim aqui te dar um recado, Nicolas. – ele começava, um tanto quanto enfático. – O Guilherme não é quem você pensa, e mesmo que fosse, ele é meu. – A essa altura estávamos tão próximos que eu era capaz de sentir o cheiro da tensão exalada por ambos. - Então trate de se afastar dele ou vai ser pior pra você. -terminou, dirigindo-se à porta.
-Você não me conhece Eric. – eu retribuía a ameaça. A essa altura, depois do dia que tínhamos tido e depois de tudo que meu namorado já tinha feito e provado pra mim, não seria uma ameaça de um garoto mimado que me faria desistir. – Você não sabe do que eu sou capaz. – terminei, esperando que ele voltasse atrás em suas motivações e simplesmente fosse embora.
-Quem não me conhece aqui é você. Eu sei tudo da tua vida cara. Te tenho nas mãos. É só estralar os dedos e você some daqui. Então não provoque. Avisado está. – Eric deixou o tom sombrio para trás ao ir embora. Não nego que estava em choque, mas nada me faria voltar atrás. Mandei um torpedo para Guilherme com o texto Eric maluco e joguei o celular na cama. Desci para a sala, liguei a tv e comecei a pensar nas palavras do garoto loiro, que eram exatamente as mesmas de Dereck: O Guilherme não é quem você pensa. Mas afinal de contas, quem seria Guilherme?
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O Filho do Prefeito: Origens (Livro 01) - [Romance Gay]
Teen FictionDedicado a todos aqueles que sabem que não escolhemos a quem amar. Amor apenas se vive, apenas se sente, apenas se descobre. Acompanhe a história de Nicolas, e surpreenda-se com "O Filho do Prefeito". Chegamos ao Spotify! É só procurar por O Filho d...