#17 - Do Outro Lado

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Nada mais no mundo importava. Nenhum problema parecia não ter solução. Meu mundo estava ali, despido deitado ao meu lado, sorrindo enquanto acariciava-me o cabelo. Era ele o garoto que eu amava.

E pensar que alguns meses atrás eu jamais imaginaria transar com um homem. Jamais pensaria em beijar, fazer planos ou pensar em presentes para comprar. Eu era o tipo de cara que não ligava muito para um relacionamento, que queria distância de compromisso e que jamais pensaria em morar junto. Mas o amor tudo muda e de tudo é capaz, e a maior prova disso era o que eu estava vivenciando com o Guilherme.

Acabamos por pegar no sono e acordamos apenas quando a mãe dele começou a ligar para o seu celular insistentemente. Ela queria saber onde o filho estava e se viria para o almoço, já que ele nunca se atrasava tanto assim.

-Nossa, a gente dormiu pra caramba. Já é uma da tarde. - disse, assustado enquanto levantávamos para nos vestirmos. O apartamento do pai de Guilherme, leia-se agora o nosso apartamento, era do tamanho certo para nós dois. Um quarto, sala de estar e jantar, cozinha, banheiro e lavanderia. O espaço pequeno era compensado por móveis planejados e funcionais, muito mais do que precisávamos. De roupas postas, nos beijamos pela última vez e rumamos cada um para sua casa.

Guilherme me cativava, era inegável. Do nosso apartamento até a casa dos meus tios meus pensamentos foram todos dele e dos momentos que passamos juntos. Do nosso dormir junto, do nosso amor, de nós dois.

Já em casa percebi que todos haviam almoçado e na chegada tive o desprazer de esbarrar com Dereck, que ao me ver fez cara de poucos amigos. Meu tio perguntou se eu havia almoçado e se poderíamos ir para o escritório em poucos minutos. Assenti com a cabeça e rumei para o quarto para me trocar. Vesti meu uniforme e desci. A essa altura Guilherme já havia me mandado duas mensagens de texto, uma dizendo que me amava e outra dizendo que estava com saudades. A cada palavra lida um sorriso bobo surgia no meu rosto e, minha tia, esperta como toda mulher, logo percebeu.

-Viu passarinho verde, Nicolas? - corei instantaneamente. Era ultrapassado, mas era assim que meus pais falavam com todos os jovens que pareciam apaixonados.

-Não tia. Por que? - tentei desconversar, evitando qualquer possível problema futuro. A última coisa que eu queria era mais encrenca para a minha cabeça, ainda mais já porque eu e meu namorado já tínhamos mais inimigos do que dávamos conta.

-Porque você anda muito feliz ultimamente. Sempre que lê alguma mensagem no seu celular surge um sorriso bobo no rosto e isso é típico de alguém que está apaixonado e é correspondido. - disse ela, terminando de passar o café que meu tio gostava de tomar após o almoço. - Nick, nós somos seus tios e te queremos bem. – continuava em um tom um tanto quanto maternal, talvez mais até do que a minha mãe já tivera em toda a minha vida - Me sinto responsável por você nesse período aqui e a última coisa que eu quero é que você se machuque com alguém que não valha a pena meu anjo. Ainda mais porque você está aqui por prazo determinado, daqui a pouco e você vai embora. E depois, o que vai ser de você sem essa menina por quem está apaixonado? - terminou minha tia, que a essa altura mais parecia minha mãe. Por mais chato que esse sermão pudesse parecer, ele tinha um fundo de razão.

E depois? O que seria de mim sem o Guilherme? Eu me entregaria pra ele agora, e daqui a pouco tempo teria de ir embora?

Uma dúvida agora rondava meus pensamentos.

-Olha tia. - tentei começar da maneira mais amigável possível. Minha vontade na verdade era dizer que eu não me importava, mas por respeito a ela tentei ser o mais meigo possível, o que era difícil na minha personalidade. - Eu não estou gostando de ninguém, mas eu agradeço o carinho e a preocupação da senhora comigo. - finalizei a frase com ela já me puxando para um abraço. Esse gesto de carinho despertou saudades da minha casa, da minha mãe e do meu pai. A vida que eu levava na cidade grande já não era mais importante, agora apenas eles importavam.

Poucos minutos depois meu tio me chamava para irmos para o escritório. No caminho pensei nas pendências que eu havia deixado e em como continuaria com o meu processo de auditoria nas finanças da empresa. Pus metas na minha cabeça, se fosse preciso enfrentar alguém pra descobrir a verdade eu faria isso.

Cheguei e com cara de poucos amigos entrei no escritório. Ainda estavam todos fora, isso me possibilitava pegar os arquivos das notas físicas lançadas e escanear sem ninguém ver. Uma a uma eu as inseri na impressora e enviei para o disco rígido do computador que eu utilizava. Depois alterei a nomenclatura padrão que a impressora dava para o número da nota e tratei de coloca-las na caixa arquivo da mesma maneira que estavam. Tentando ser o mais rápido possível, rumei para a sala que usávamos como depósito e guardei a caixa. Ao sair dei de cara com Fernanda chegando.

-O que você estava fazendo aí dentro? - perguntou, rude como sempre. Havia desconfiança das duas partes no ar.

-Estava arquivando documentos. - respondi, seco.

-Já te disse que a única com autorização para entrar aí sou eu. - disse ela, vindo de encontro com a porta e a fechando. - Qual a parte dessa proibição você não entendeu? - ela terminou, visivelmente nervosa.

-A mesma em que a sua educação reside: nenhuma. - fiz questão de frisar o nenhuma pra ela. Fernanda bufava de raiva e queria me esganar. Era visível. Para evitar novos problemas optei por sair do seu campo de visão. Meu objetivo principal já estava alcançado, eu já tinha uma cópia de todas as notas fiscais e poderia a qualquer tempo realizar a conferência sem medo de ser pego.

O tempo passou e logo o intervalo de café da tarde dos peões chegou. O pessoal do escritório lanchava junto deles então eu teria a sala toda só pra mim. Assim, mais ansioso que nunca, comecei a pôr meu plano em ação.

Longe dali.

-É claro que eu gosto de você. - a voz do jovem garoto de cabelos pretos ecoava no quarto de paredes brancas. Junto dele estava outro garoto, nu, deitado com a cabeça em seu peito. - E você, gosta de mim? - terminou, enquanto acariciava os cabelos do garoto loiro que estava deitado.

-Gosto. Eu só não gosto dessa situação que a gente está vivendo. Eu quero que isso acabe. - disse firme. O loiro levantou-se e pôs-se ao lado do garoto de cabelos pretos.

-Calma. Você sabe que isso logo vai acabar e tudo vai voltar ao normal. - disse, finalizando com um sorriso seguido de um selinho.

De roupas vestidas, cada um rumou para lados diferentes e voltaram a vida normal. Mas afinal, quem eram esses garotos? 

O Filho do Prefeito: Origens (Livro 01)  - [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora