Dereck não era um homem de se jogar fora. O meu priminho tinha o corpo malhado, rosto bonito e personalidade forte. E só agora eu estava percebendo isso. Que cara era aquele?
-A roça realmente está fazendo mal pra mim. – deixei escapar em voz alta, percebendo que estava gostando de ser observado por um homem outra vez. Dereck sorriu escorado na porta com os braços cruzados.
-Que foi priminho? - apenas o olhei. Eu continuava ali, do mesmo jeito, só de cueca em frente ao espelho sendo observado fixamente pelo meu primo. - O que a roça está fazendo contigo? - continuou ele, enfatizando o fato de eu ter chamado o interior de roça e debochando disso. Ele deu mais alguns passos e um certo medo tomou conta de mim.
Medo de que, Nicolas?
-Nada - pensei alto deixando minha voz escapar outra vez. Soltei um sorriso amarelo para me desvencilhar do assunto ao mesmo tempo em que me virava para procurar minha roupa. Eu percebi que o Dereck continuava a me observar e aquilo me perturbava. - E você, o que quer? - perguntei, procurando saber porque ele ainda estava parado na porta do quarto. No fundo, bem lá no fundo, eu queria que ele estivesse ali por mim.
-Vim te chamar pra comer. - respondeu, dando um sorriso torto ao fim da frase. Dava para sentir na voz dele um tom um tanto quanto malicioso, mas eu simplesmente tentei ignorar achando que era coisa da minha cabeça. Além do mais minha prima estava no quarto ao lado e ela poderia ouvir tudo.
-Só vou me vestir e desço pro jantar. – disse, virando-me outra vez para o espelho. - Obrigado por me chamar. - eu o respondia, rezando pra que ele fosse pra cozinha e aquele clima tenso enfim acabasse. Oração ignorada. Ele continuava ali me observando. - Que foi? - perguntei, já que ele não esboçava reação alguma e eu já tinha até posto o shorts. Ele apenas sorriu e começou a se aproximar.
-Pensei que meninos da cidade não fizessem tanta força. - ao fundo eu pude ver a porta se fechando com a força do empurrão dele, que se aproximava cada vez mais de mim. Socorro. Eu estava em pânico. Não sabia para onde correr, o que fazer nem o o que falar.
-Como assim? - me fiz de bobo achando aquela conversa um tanto quanto estranha. Eu sabia do que ele estava falando, ele se aproximava com um sorriso malicioso no rosto e algum alarme interno em mim começava a disparar.
-Uai, você aí todo malhado. – disse ele, com um sorriso amarelo e certa vergonha. Pronto, ele estava a centímetros de mim. Frente a frente nos olhávamos e começava a pairar um clima no ar. - Todo forte, achei que meninos da cidade fossem magrelos, sem músculos e feios. - ele continuou. Aquilo me fez rir enquanto sem avisar ele colocava a mão direita em minha cintura. Eu travei, meu corpo conspirava contra minha mente, querendo que aquilo acontecesse. Um beijo estava cada vez mais perto de acontecer e já era praticamente inevitável. - E eu estava errado. – ele terminou, aproximando seu rosto do meu. Nossas testas colaram, sentíamos a respiração um do outro. Era o começo de um momento sensível, de descobrimento, de redenção a algo novo. Aos poucos senti os lábios dele tocarem os meus em um movimento lento. Um rápido sorriso surgiu no rosto dele, que agora tentava acelerar o ritmo daquele beijo. Acho que pelo susto acabei o empurrando, acabando com o clima e me deixando totalmente sem graça.
Quando aquele beijo de alguns poucos segundos acabou apenas nos olhamos. Mesmo tendo o empurrado ainda estávamos próximos. Era um sentimento de êxtase misturado a um pouco de vergonha por não saber o que fazer. Ele era meu primo, o parentesco e o fato dele ser homem não podiam ser ignorados. Ele sorriu tímido, nitidamente sem graça por ser interrompido e afastou-se. Perto da porta avisou que o jantar estava pronto e nenhuma palavra a mais foi dita. Desci as escadas e na cozinha pude ver que minha prima e ele já estavam sentados à mesa me esperando. Meu primo e eu fingimos que nada havia acontecido, até mesmo por Jordana estar ao nosso lado. Se alguma coisa tivesse que ser discutida, ela seria em particular e no quarto. Nosso jantar foi marcado por boas conversas e muitas risadas. Meus primos eram pessoas boas, jovens com a inocência de quem mora no interior.
Como combinado lavei a louça, arrumei a cozinha e subi. Dereck estava deitado em sua cama e eu optei por não puxar assunto com ele. Estava com vergonha e não sabia ainda como lidar com o beijo dele. Além disso eu teria que morar e dividir quarto com ele por um bom tempo, então evitar brigarmos seria essencial. Tomei a liberdade de puxar um dos livros dele da estante e me deitei. Eu odiava ler, mas aquela era uma forma de escapar dele e de uma possível discussão.
-Posso te fazer uma pergunta? – ele começava, manso e aparentando certa vergonha. Baixei o livro e o encarei como se dissesse que podia prosseguir. -Você gostou? – ele quebrava o silêncio de segundos daquele quarto. Coloquei o livro na beirada da cama e o olhei fixamente.
-Você fala do... - fiz uma pausa entre as duas palavras. -Beijo? - ele assentiu com a cabeça demonstrando ainda mais timidez. Pensei um pouco antes de responder. Era claro que se meu primo era gay se ele havia tido a iniciativa de me beijar e se arriscar perante a família toda. Refleti por alguns segundos e enfim continuei. - Dereck, eu vou ser franco contigo. – tentei ser o mais gentil possível, evitando ser direto. - Eu nunca tinha beijado um garoto antes e foi bem estranho pra mim. – senti que minhas palavras saíam como canivetes. Engoli a seco quando vi seus olhos marejarem um pouco.
-Eu também nunca beijei outro cara. – seu desanimo era evidente. Ele tentava não me olhar mais nos olhos pela vergonha que sentia – Mas rolou e eu gostei. - sem que eu percebesse, meu primo, que antes estava deitado, agora estava sentado em sua cama do lado oposto do quarto. Em seu rosto uma expressão de curiosidade, misto a preocupação que tomava conta de cada centímetro dele.
-Não foi ruim. - comecei tentando ser o mais gentil possível e não machuca-lo. Mesmo não entendendo direito o que havia acontecido eu tinha plena certeza de que não queria magoar ninguém. Naquela noite Dereck usava uma camisa vermelha e um short preto, que realçavam seu rosto e seu corpo. Tanto a tristeza quanto o alívio ficavam ainda mais evidentes - Mas eu acho que a gente não pode continuar com isso Dereck. - eu já não tinha mais a mesma firmeza na voz e procurava palavras para expressar o que queria dizer. - Nós somos primos, moro no seu quarto há dois dias e se a gente mantivesse isso o seu pai iria descobrir e eu estaria ainda mais ferrado do que eu já estou. - o rosto dele agora estava com uma feição triste, e eu falava sem parar em um evidente desespero. Eu deveria parar de me justificar. Senti um peso enorme cair sobre os meus ombros, coisa que eu jamais senti antes por qualquer garota, por mais que eu a tivesse machucado.
-Você tem razão. - eu poderia perceber a quilômetros de distância o pesar na voz dele. Um sentimento de culpa começou a tomar conta de mim e sem pensar apenas caminhei até sua cama, sentei-me à beirada e passei a mão em seu rosto. Mesmo em dúvida sobre o que senti durante aquele beijo eu sabia que gostava do Dereck de maneira especial. - Eu nunca me senti confuso como estou agora com você. - ele traduziu meus sentimentos naquela frase, fazendo-me soltar uma pequena lágrima, fujona, que saiu sem a minha permissão. O abraço que se seguiu não foi planejado ou nem sequer pensado, foi um impulso causado pelo momento que fechou com chave de ouro o meu primeiro contato com Dereck.
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O Filho do Prefeito: Origens (Livro 01) - [Romance Gay]
Teen FictionDedicado a todos aqueles que sabem que não escolhemos a quem amar. Amor apenas se vive, apenas se sente, apenas se descobre. Acompanhe a história de Nicolas, e surpreenda-se com "O Filho do Prefeito". Chegamos ao Spotify! É só procurar por O Filho d...