#04 - Acostumando-se

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        Agora eu percebia o quão pequena era a minha visão de mundo. Menino da cidade, sempre achei que o campo e o interior eram o fim do mundo e o último lugar no qual queria estar. Mas doce engano, aquele era o paraíso.

       O lugar era simplesmente lindo. Desci do carro do meu tio e olhei para o vasto espaço verde que tínhamos ao redor. A porteira, ou portão como muitos conhecem, era fantástica. Longas tábuas de madeira pintadas de marrom tornavam-se imponentes e se cruzavam quase formando um x. Ficava logo na saída da estrada vicinal que dava acesso às fazendas daquela região, e após passarmos por ela seguíamos por uma estradinha repleta de árvores ao redor, bem coisa de filme mesmo. O caminho não era tão longo, mas era o suficiente para encher os olhos. Chegamos a sede onde também funcionava provisoriamente o escritório das fazendas do meu pai. Haviam uns 5 ou 6 peões por ali aguardando a chegada do meu tio para lhes dar as ordens da tarde e mais dois ou três funcionários administrativos na porta do escritório apenas jogando conversa fora. Estes estavam apenas curiosos para ver quem era o filho do dono que viria trabalhar com eles.

-Esse aqui é o Nicolas. - começou meu tio, empurrando-me a frente pelo ombro para que cumprimentasse todas aquelas pessoas. Eu apenas fiz cara feia e assenti com a cabeça. Acho que acabei demonstrando que não gostei de nenhum deles.

-Então esse que é o filho do patrão? - perguntou um dos peões que ali estavam. Todos me olhavam como abutres, como se achassem que ganhariam alguma coisa ficando próximos ou me agradando. Meu tio apenas assentiu e começou a me apresentar cada um deles, o que era uma verdadeira sessão de tortura por ter que pegar na mão e olhar fixamente para cada um. Eu não gostava de ser observado e nem tocado por estranhos.

Passadas as apresentações, entramos para conhecer o escritório e a sede da fazenda. Nada luxuoso ou que se destacasse muito, o escritório era uma sala ampla com duas baias de mesas e computadores e uma porta aos fundos, que dava acesso ao banheiro e a cozinha após um pequeno corredor. A casa era ampla e no típico estilo rústico de fazendas do interior, cheio de móveis de madeira maciça. Ali também conheci a caseira, Dona Chica, uma mulher de aparentes 40 e poucos anos, morena e extremamente alto astral. Ela tinha dois filhos, fruto de relacionamentos anteriores ao seu trabalho na fazenda. Logo fiquei sabendo que ambos trabalhavam ali como peões e eram dois dos homens que eu a pouco tinha conhecido.

Depois de uma breve conversa com ela fomos conhecer a propriedade. Meu tio estava empolgado por poder falar sobre cada canto da fazenda e demonstrava isso por gesticular e falar sem parar. O lugar era simplesmente enorme, extremamente verde e com um grande número de animais. Haviam bois, vacas, cavalos, patos e até mesmo algumas cabras. A sede era toda cercada e ficava um tanto quanto distante da plantação e dos animais. Ali perto havia um lago com alguns chalés pra sentarmos próximos a beira, e um local com muitas árvores frutíferas, além das que já estavam próximas a casa.

-Porque meu pai investe tanto nessa fazenda? - questionei meu tio, já imaginando a resposta. Ele sem entender a minha pergunta apenas me olhou, como se estivesse indignado. - Quero dizer, ele nem mora aqui, fez lago, mandou plantar essas árvores e fez essa casa enorme. - terminei. Ele, agora com outra expressão, sorriu e respondeu em tom calmo.

-O grande sonho do seu pai é morar aqui, longe da cidade grande e das preocupações que elas lhe causam. - começou, pondo uma de suas mãos em meu ombro como se fosse me dar outro sermão ou algum conselho de pai. - Além disso, ele quer que todos os peões que morem aqui tenham qualidade de vida e se sintam felizes, por isso investiu tanto nessa fazenda. - terminou, referindo-se também as 3 casas que estavam próximos a sede. Olhar para tudo aquilo me fazia refletir nos convites recusados para vir à fazenda e em quanto eu não prestava atenção no que meu pai dizia. O amor dele por aquela propriedade era evidente e começava a me contagiar. Eu não podia negar que estava encantado pela serenidade que aquela paisagem me proporcionava.

O Filho do Prefeito: Origens (Livro 01)  - [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora