Guilherme me ajudava no meu plano mesmo não sendo mais meu namorado. Tudo bem que ele perguntava muito mais do que eu queria que perguntasse, mas ele ainda fazia tudo que eu pedia na maior boa vontade.
No percorrer do caminho fiquei observando Guilherme e seu modo de se comportar. Um tanto sem graça - e sem assunto, diga-se de passagem - ele dirigia esboçando algum sono. Trajando um short téctel e uma camisa gola O branca, meu agora ex namorado estava lindo. Não nego que recorrer a ele para me ajudar não tenha sido a melhor opção, porém era a mais rápida e livre de suspeitas ao meu alcance. Ao chegar na casa do meu tio, o agradeci pela ajuda e ele me retribuiu com um sorriso como se esperasse algo mais. Sem sucesso, afinal de contas eu era difícil. Ele terminou comigo, ele pede pra voltar. Simples assim.
Ao entrar em casa subi para o quarto. Lá dentro Dereck estava me esperando, agora sentado em sua cama com o abajur do criado mudo aceso. Em seu rosto estava estampada a frase "estou te esperando", era nítido. Lembrei da promessa que tinha feito ao meu primo.
-Estou curioso pra saber o que vai valer tanto a pena... - falava, enquanto fechava e colocava de lado mais um de seus livros. Seu óculos de leitura era outro item que ele deixava sob o criado mudo para continuar falando. - e então?
-Fica em pé. - ordenei, já deixando meu celular sob a escrivaninha do computador. Comecei a me aproximar até ficar a dois dedos de sua boca. - então quer que eu te recompense por me esperar? - admito, eu era um perfeito canalha. Minutos atrás eu estava com meu ex observando como ele era bonito e até pensando em voltar a namorar. Agora eu estava ali prestes a dar uns pegas no meu primo. Tudo por um bem maior.
O beijo que trocava com Dereck não era mais o mesmo de antes. A vontade, o fogo que tínhamos nos primeiros. Nada mais daquilo estava presente. Acabei por abortar o plano.
-Hey - comecei, trocando o beijo por carícias nas suas costas. - se você me quer tem que ser do meu jeito. - finalizei, dando-lhe um selinho. A intenção canalha de ficar com meu primo havia desaparecido completamente. Ele, um tanto quanto extasiado, sentou em sua cama e sorriu como se não acreditasse naquilo tudo. Eu, em um misto de culpa e satisfação, me deitava em minha cama para recarregar as energias para o dia seguinte.
Os dias foram passando e eu acumulando informações. Alguns dias sem entender simplesmente nada dos relatórios do software espião, outros desvendando mensagens de skype entre ela e outras pessoas, outros em que eu percebia apenas buscas fúteis no google como esmaltes, brincos, compras na china, etc. No cursinho eu e Guilherme já conseguíamos ser adultos o suficiente e até mesmo debater assuntos sem nenhum tipo de ressentimento. Até ficava um clima no ar, mas que nada que não pudéssemos disfarçar. No trabalho eu continuava fingindo ser um anjo que não desconfiava de absolutamente nada. Vez ou outra eu cruzava com o Matheus na escola, onde ele estava desenvolvendo o projeto pedagógico. Estávamos cada vez mais amigos.
Poucos minutos antes do final da aula daquela sexta feira, recebi uma mensagem de texto de Guilherme me pedindo para esperá-lo no nosso lugar de sempre, o apartamento que eu não visitava já a alguns dias. Motivado pela curiosidade segui direto para o local combinado depois que a aula acabou.
Guilherme, para minha surpresa, havia preparado tudo para um almoço especial. Pediu para um dos restaurantes que gostávamos entregar a comida, arrumou e decorou a mesa e até deixou o apartamento limpo e organizado. Ao fundo, eu podia ouvir a música Abrigo da Roberta Campos tocando, deixando o clima ainda mais romântico.
-Não acredito que você fez tudo isso. - disse entre risos. Ele, acompanhando minha risada, balançava a cabeça.
-É tudo pra você. - afirmou. Não eram mais necessárias palavras ou demonstrações de afeto. Estava claro para nós dois o que ele queria e eu concordava. Nosso sentimento, por mais que as semanas tenham passado, não havia morrido. - Eu senti a sua falta. - terminou enquanto se aproximava de mim.
-Está tudo muito bonito. - corado, demonstrava aceitar a aproximação dele.
-Eu te quero de volta Nicolas. - ele começava, agora pegando em uma das minhas mãos. - Tomei uma atitude infantil terminando com você naquele dia. Passei dias pensando e tentando me colocar na sua pele e é por isso que eu estou aqui. - disse, ficando de joelhos à minha frente. - Aceita namorar comigo outra vez? - uma lágrima escorreu dos meus olhos.
-Aceito. - afirmei com seriedade, fazendo-o soltar um largo sorriso e me dar um beijo apaixonado. Nosso beijo ainda era o mesmo. Nossos corpos ainda se encaixavam perfeitamente em nossos abraços. Nós nos completávamos. Éramos uma equação perfeita.
Nos amamos ali mesmo e o almoço acabou ficando para depois.
-Pai? - a segunda ligação em sequência do meu pai me fazia acordar. Eu e Guilherme acabamos por dormir juntos, ali mesmo no chão da sala. - Tranquilo. - respondi, desligando a ligação e acordando meu namorado.
-Quem era? - ele perguntou.
-Meu pai. Ele está vindo pra cá. - respondi, deixando Guilherme tão incrédulo quanto eu. O motivo da vinda do meu pai para o interior pairava no ar. Internamente me questionava se alguém havia descoberto que eu estava espionando as finanças do escritório e iria tentar distorcer a história ou alterar alguma prova. Por outro lado pensava que poderia ser uma visita de rotina para relaxar. - Falando nisso, eu preciso ir Gui. - disse, despedindo-me e começando a me vestir. A ideia de ter meu pai tão perto e ter a chance de expor toda a verdade pra ele me deixava eufórico.
-Me manda mensagem depois - gritava meu namorado sentado no chão ao me ver saindo pela porta.
Fiz o percurso até a casa do meu tio em tempo recorde. Assim que entrei minha tia gritou da cozinha que meu pai estava vindo, alertando a casa toda sobre o assunto. Meu tio que estava na sala logo começou a dizer que se eu quisesse poderia ficar em casa naquela tarde apenas para esperar pelo meu pai. Agradeci e subi para o quarto.
-Me empresta seu notebook? - pedia o computador do Dereck emprestado através de mensagem. A resposta positiva veio logo depois, afiando ainda mais meus planos de revisar e reunir todos os relatórios, arquivos e planilhas de prova. Notebook ligado, era hora de procurar o HD que eu havia trazido algumas noites atrás para checar os arquivos e colocar a última parte do meu plano em prática.
Mochila aberta. Primeiro bolso verificado. Segundo bolso aberto. Terceiro bolso vazio e nada em nenhum deles. O mundo havia parado e meus pensamentos congelado. Onde estava o HD?
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O Filho do Prefeito: Origens (Livro 01) - [Romance Gay]
Teen FictionDedicado a todos aqueles que sabem que não escolhemos a quem amar. Amor apenas se vive, apenas se sente, apenas se descobre. Acompanhe a história de Nicolas, e surpreenda-se com "O Filho do Prefeito". Chegamos ao Spotify! É só procurar por O Filho d...