#08 - Fragmentos

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-Calma, fica tranquilo. Vai dar tudo certo. - era Dereck quem falava ao celular com alguém. Seu tom era misterioso e calmo como se quisesse acalmar alguém depois de algo dar errado. - Eu já te disse, não se preocupa. Eu vou resolver tudo, beleza? - agora com mais firmeza e prepotência na voz ele encerrava a ligação e colocava o celular no bolso. Quando dei por mim ele vinha em direção a porta e, no impulso só pensei em correr para o banheiro e me esconder. Até agora meu primo não tinha percebido que eu havia chegado e estava ouvindo sua conversa.

O que será que o Dereck estava armando?

Fingi lavar as mãos e ao sair do banheiro Dereck me esperava. Me cumprimentou de cabeça baixa e por pura educação o respondi, afinal de contas eu ainda estava dormindo no quarto dele. Nos dois dias seguintes em que dormimos no mesmo quarto não trocamos outras palavras a não ser cumprimentos formais. Um certo clima de tensão havia tomado conta do ar. Já que ele estava errado era ele quem deveria vir atrás de mim para pedir desculpas.

-Espera. – Ele pediu. Era sexta feita e precisávamos descer para o jantar. Do contrário tia Miriam surtaria. – Eu quero te pedir perdão. - ele balbuciou a última palavra demonstrando arrependimento.

-Agora não é a hora Dereck. - fiz cara de desaprovação e tentei driblar o mal estar. Me virei para sair do quarto e sem muito alarde Dereck pulou nas minhas costas e me abraçou.

Sem vergonha.

Meu coração gelou, parou e voltou a bater no mesmo instante. Como se algo dentro de mim acordasse de um sono que durou dias.

-Tá doido, e se o seu pai pegar a gente? – antes mesmo de gostar daquilo a minha primeira reação foi ter medo. Eu não estava nem um pouco preparado para que meu tio ou minha família descobrisse a minha confusão e meu estranho envolvimento com meu primo, visto que nem eu mesmo me entendia ainda. Ele obedeceu, se afastou e soltou um sorriso me comovendo.

É, acho que eu sentia alguma coisa por ele e já estava na hora de começar a pensar seriamente sobre isso.

Descemos, jantamos e logo lavei a louça. Dereck subiu para o seu quarto e eu fiquei na sala vendo um pouco mais de televisão. Era sexta feira, no sábado de manhã eu não teria curso nem iria trabalhar então eu podia ficar ali mais um pouco. Pouco a pouco todos subiram e foram para os seus quartos me deixando sozinho na sala. Canal por canal, conferi toda a programação da tv a cabo.

Nada muito interessante.

-Netflix aqui deve ser bicho de outro mundo – pensei, rindo em tom de deboche. A saudade de casa começava a me apertar. Eu estava acostumado com mais e sentia falta das coisas como elas eram antes. E olha que aquela era apenas a primeira semana do desafio imposto pelo meu pai.

Acabei cochilando no sofá. Acordei com barulho de alguém batendo na porta. Quem seria naquele horário? Levantei bufando de raiva e fui atender antes que a casa inteira acordasse. Meu rosto estava amassado e o cabelo arrepiado.

-Oi. - um cara sorridente e extremamente cheiroso estava na porta de casa. Era Guilherme, que sem falar nada foi entrando e passando pelo meu lado sem que eu dissesse uma palavra sequer. Como ele estava lindo. Era difícil olhá-lo e não pensar nisso. Me sentia estranho por estar atraído por um homem outra vez. - Eu vim te buscar para sair comigo. - disse, pegando uma cópia da chave da porta que estava sob o armário da cozinha. Ele parecia já conhecer a casa dos meus tios.

-Tá maluco? - eu praticamente gritava. -Como você bate aqui em casa e já sai me chamando para sair? – queria dizer tanta coisa ao mesmo tempo e pouco conseguia dizer. –E se o Dereck ver ele surta. - eu disparava como uma metralhadora. Palavras e mais palavras saiam desordenadamente da minha boca. Ele apenas sorriu e me ignorou saindo pela porta com cara de quem esperava que eu o seguisse. Baixei a bola, tentei arrumar um pouco o cabelo e decidi ir com ele. -Espera Guilherme. Eu estava dormindo. - ele me interrompeu com um sorriso que faria qualquer um topar qualquer programa e me puxou em direção ao carro dele. Não sabia onde iríamos e nem o motivo de sair com ele, mas aquele mistério me instigava e não seria hipócrita a ponto de negar o que eu também queria.

O Filho do Prefeito: Origens (Livro 01)  - [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora