Vez ou outra eu ainda pensava nele. Vez ou outra meu coração batia mais forte, pulsava parecendo que iria sair do peito. Este era o preço a se pagar por amar.
A mensagem de texto fora escrito pelo Eric, assim como eu pensava. Confirmei isso minutos depois, quando meu próprio namorado enviou uma nova mensagem perguntando se estava tudo bem, e qual o assunto do qual eu queria falar. Não posso negar que o ciúme tomava conta de mim sempre que eu pensava nos dois juntos. Chegava a doer. O respondi com um simples depois conversamos e guardei meu celular no bolso da calça. Encontrei meu tio e juntos rumamos para casa.
Algumas horas depois, meu celular vibrou novamente. Era o Guilherme, perguntando se estava tudo bem comigo e se queria conversar. O ignorei. Naquela hora certo sentimento de ciúme tomava conta de mim. Bem, na verdade não era só ciúme. Era insegurança, medo, raiva. Será que eu e Guilherme nunca poderíamos ser felizes?
Dereck estava no quarto também. Sentado quieto em sua cama ele me observava. Até pouco atrás meu primo lia mais um de seus livros. Um detalhe novo nele me chamava a atenção: seus óculos.
-Deve ser de descanso. - pensava. - Mas eu nunca vi ele de óculos... se bem que fica melhor. Mais bonito, até com cara de mais sério. Vou ter que perguntar.
Droga.
-Dereck, nunca te vi de óculos antes. – eu disse, timidamente. Ele tratou de me olhar com um sorriso.
-Eu estava com dor de cabeça nos últimos dias e fui ao médico. Aí já sabe, né. - terminou, dando de ombros. - Fala a verdade, fico bem mais gato assim né? - tive que rir. Não sei definir se ele falava zombando da situação ou se falava sério, fato é que meu primo realmente estava mais bonito com aquele "novo" visual.
Meu celular vibrava outra vez. Dessa vez mensagem não era. No visor o nome Guilherme aparecia, junto de uma foto que eu havia tirado dele há alguns dias em uma sorveteria daquela cidadezinha. Relutei em atendê-lo por alguns segundos, mas acabei atendendo.
-Oi. - disse seco, tentando demonstrar que precisava um pouco mais de esforço dele naquele momento.
-Oi, amor. - ele respondia. 90% dos meus escudos já tinham sido derrubados com apenas uma palavra e ele sabia disso. Eu podia apostar que sabia. - Te liguei por que você não responde minhas mensagens e meu dia ia ficar incompleto sem falar com você. - Pronto, não existiam mais escudos. Eu já era todo dele outra vez.
-Vou te responder agora. Até já. - Isto era eu tentando ser fofo e querendo dizer vou desligar, não posso falar por que meu primo está aqui.
Logo que desliguei o celular comecei a trocar algumas mensagens com o Gui. Expliquei a ele que Dereck estava por perto e que ficava complicado de falar. Ele prontamente entendeu e me convidou para sair. Sem hesitar, aceitei e dei um pulo da cama, já a procura de uma muda de roupa para vestir.
-Era o Guilherme, não era Nicolas? - quem me questionava era Dereck. Eu não o devia explicações, mas também não queria causar um mal estar com meu primo.
-Não, era um amigo do curso. - dei um sorriso amarelo ao fim da mentira que contara.
-Não precisa mentir, Nick. Eu sei que vocês estão juntos. - disse, categórico, deixando-me mais branco do que a camisa que estava a vestir.
-Como assim, juntos? Vai voltar a insistir nessa história Dereck? - eu tentava despistar revirar os olhos como se aquilo pouco importasse.
- Já percebi faz tempo. Você tá todo apaixonado por ele. Não adianta tentar mentir pra mim. Você tá diferente, mais alegre e as vezes parece perdido nos próprios pensamentos. Típico de quem está apaixonado. - continuei tentando me esquivar do que meu primo falava, mas quanto mais eu tentava mais infeliz eu era em minhas tentativas. - Você não sabe nada sobre ele, Nick. Nem o começo. Teu namoradinho não é quem você pensa. - aquilo já estava começando a ficar chato.
Diante de tudo isso, eu só tinha duas opções: sair correndo do quarto ou assumir a verdade.
Ganha prêmio quem descobrir qual foi a minha opção.
Vesti a camiseta e sai do quarto rumando para a casa do Guilherme. Durante todo o caminho fiquei pensando em tudo que o Dereck havia me falado. O que será que eu não sabia sobre ele? E aliás, o que o Dereck sabia sobre ele que eu não? Quando me dei por conta já estava na porta da casa do meu namorado. Ao entrar, já fomos direto para o quarto dele. Guilherme fechou a porta e me beijou com vontade. Vontade que eu não via há tempos naquele garoto. Saudades? Isso eu já não sei. Só sabia que ali, agora, mais uma vez eu sentia que existiam nele sentimentos por mim, sentimentos de verdade.
-Gui, hoje eu tomei uma decisão. - eu começava, com a voz firme. - Eu não quero mais você com o Eric. Hoje quando eu te mandei mensagem e ele me respondeu, do seu celular – fiz uma pausa tentando digerir o ódio de Eric - Meu ciúme aflorou. - minha voz já estava um pouco embargada a esta altura. - Ele está tomando conta de você e essa chantagem dele é ridícula. A gente não se pode dar por vencido. - mesmo com uma vontade imensa de chorar, eu continuava firme. Não seria um garoto como o Eric que iria me derrotar, muito menos roubar o meu namorado.
Guilherme me observava. A poucos dias eu concordara com a ideia de cedermos a chantagem e agora mudava de ideia tão repentinamente? No mínimo estranho.
-Tudo bem Nick. – Guilherme se mostrava receoso. – Mas e se ele cumprir com as ameaças dele? - meu namorado indagava ainda mais preocupado. - Ele não vai. Ele pode ser ruim, mas duvido que ele vá fazer. - a verdade é que eu não tinha certeza de nada, mas àquela altura eu tinha de transmitir confiança pro Guilherme. - E se o fizer, a sua família é mais forte que a dele na cidade. Quer dizer, acho que o seu pai é o cara mais imponente daqui. - Guilherme apenas me ouvia, a essa altura já abraçado comigo.
Ficamos ali por umas duas horas. Naquela noite não fizemos amor. Não precisamos. O amor estava no ar, nos gestos, no doce sorriso que ele soltava quando olhava pra mim. Tê-lo ali, tão perto de mim, era a melhor sensação que eu sentia em tempos. Quando a hora de ir embora enfim se aproximava reforcei o pedido de que Guilherme deveria terminar com Eric no dia seguinte. Ele aceitou e se despediu de mim dando-me um beijo.
No caminho pra casa resolvi passar pela praça como era de costume sempre que saía da casa dele. Algo lá me chamava atenção. Era bom respirar aquele ar noturno, andar um pouco e me sentir livre. Coisa que na cidade grande não era possível. Por lá fiquei pensando em tudo, imaginando como seria o dia seguinte, e cogitando se tudo daria certo.
Cheguei em casa, deitei, dormi. Amanhã seria o dia. Eu abriria o jogo com meu tio sobre o desfalque nas contas da fazenda e enfrentaríamos o Eric.
Tem emoção vindo por aí.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Filho do Prefeito: Origens (Livro 01) - [Romance Gay]
Novela JuvenilDedicado a todos aqueles que sabem que não escolhemos a quem amar. Amor apenas se vive, apenas se sente, apenas se descobre. Acompanhe a história de Nicolas, e surpreenda-se com "O Filho do Prefeito". Chegamos ao Spotify! É só procurar por O Filho d...