#20 - Falsas Impressões

5.3K 423 77
                                    

O dia amanhecia calmo, assim como todos os outros naquela cidade. Na verdade, nem parecia que aquele dia seria tão decisivo como eu decidira que seria.

Levantei apressado, tomei banho e vesti o uniforme do curso. A intenção era descer e encontrar meu tio ainda em casa. Dito e feito. Na mesa do café sentei-me na extremidade oposta a dele e comecei a observá-lo. Encontrar um modo de dizer a ele que precisávamos conversar mais tarde estava complicado. Eu tinha de criar alguma coragem antes que o tempo acabasse.

-Tio, precisamos conversar mais tarde. - comecei. Ele me olhou, estranhando a seriedade da minha entonação.

-Claro, no escritório a tarde falamos. - ele disse, entre alguns goles de café. Esguiei, querendo dizê-lo que não.

-Eu queria que fosse em algum lugar mais reservado. É importante. - finalizei, vendo que minha hora já estava chegando. Aquilo havia demorado muito mais do que eu planejara. Meu tio concordou, ainda sem entender do que se tratava.

Peguei minha mochila e saí da casa apressado. Havia combinado por mensagem que encontraria Guilherme na praça para irmos juntos até a escola. No caminho, ouvi uma voz familiar me chamando. Era o Matheus, amigo da Jordana. Eu reconhecia sua voz depois da vergonha que havia passado dias antes quando o encontrei na praça depois de brigar com o Guilherme.

-Oi Nick. - cumprimentou-me estendendo a mão. -Tudo bem? - perguntou, abrindo um largo sorriso.

-Tudo, e contigo Matheus? - respondi, retribuindo-lhe o sorriso. Matheus, ou Matt como gostava de ser chamado pelos amigos, era o tipo de cara que alegrava o ambiente onde estava. Sorridente, carismático e dono de um perfume avassalador, aquele garoto era tido como um exemplo por parte das pessoas daquela cidade. Pelo menos era isso que eu ouvira a Jordana falar a alguns dias em seu quarto com uma de suas amigas.

Ele prontamente me respondeu e perguntou se eu estava indo para a escola onde era ministrado o curso. Respondi que sim e ele me devolveu uma nova pergunta. Agora, era se poderia me acompanhar até lá, já que ele iria até a direção apresentar uma proposta para trabalhar como voluntário na escola alguns dias por semana. Caminhando acabei descobrindo algumas coisas sobre ele, como o fato dele já ser órfão de pai. O tempo parecia voar aquele dia. Logo que me dei conta chegamos no banco onde o Guilherme já me esperava.

-Bom dia Gui. - o cumprimentei sem muitas intimidades, visto que estávamos acompanhados. Ele fez o mesmo e retribuiu meu cumprimento com um aperto de mão. Guilherme cumprimentou Matheus de uma forma bem diferente de mim, mais seco, como se não gostasse da presença dele ali. Talvez fosse mera impressão minha, então acabei ignorando aquela sensação.

Na chegada ao portão Matheus se despediu de mim dizendo foi bom te ver, Nick e rumou para a direção contrária para onde iríamos.

-Agora sim, bom dia amor. - eu disse baixinho, apenas para Guilherme me ouvir.

Inútil.

Ele se manteve em silêncio até a sala de aula e durante todo o período permaneceu daquele jeito. No intervalo ele simplesmente sumiu, ignorando ao nosso acordo de passarmos o intervalo juntos no banco do jardim dos fundos da escola. Até o procurei, mas não obtive sucesso. Acabei voltando para a sala e só depois de mais ou menos meia hora de aula ele voltou.

Estranho. - pensei, chegando até a me expressar em voz alta.

-Onde você estava, Guilherme? - perguntei, em tom sério, sem olhar pra ele. Mantinha meu foco no quadro negro para que a professora não interrompesse a conversa.

O Filho do Prefeito: Origens (Livro 01)  - [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora