Track 22 ♚ Fim do espetáculo

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Corri com Hiki até a enfermaria que ficava no final do corredor ao lado do palco. Às pessoas nos olhavam curiosas quando passávamos por elas. Algumas até se ofereciam para ajudar mas Hiki insistia que estava bem. Chegamos na enfermaria e não havia ninguém para nos atender.
- Que ótimo! Uma enfermaria vazia! - reclamei.
- Assim é melhor - disse Hiki se acomodando em uma poltrona - Esse soco doeu muito.
- Nunca imaginei que o Nai fosse capaz de agredir o próprio amigo!
- Foi minha punição por não ter obedecido - disse Hiki incomodado com a dor.
- Vou pegar alguma coisa para limpar esse sangue - falei olhando ao redor.
- Fique calma Shou - disse Hiki - Se você me ajudar logo ficarei novinho em folha - brincou.
Respirei fundo.
- O que preciso fazer?
- É só emprestar um pouco da sua energia. Me dê sua mão e eu cuido do resto.
Hiki pegou minha mão direita e encostou em seu rosto machucado. Fiquei curiosa em saber o que aconteceria em seguida. Ele fechou os olhos e começou a repetir algumas palavras e logo a palma de minha mão emanou uma luz dourada e cintilante. Senti uma energia forte saindo daquela luz e quando Hiki parou de falar, o brilho foi diminuindo até sumir.
- Nossa! Seu rosto está perfeito! - falei espantada - Como isso é possível?
- Esse é o seu poder, Shou - disse Hiki sorrindo - Você pode curar as pessoas. Por esse motivo você é cuidada com tanto zelo. Muitas pessoas não podem saber disso.
- Então o Kazuki sempre soube?
- Ele não sabe ainda mas todos suspeitavam que você poderia ter esse dom. Sua mãe é igual à você.
- Minha mãe? Por que ela nunca me contou nada!? Meus pais mentiram pra mim! - falei confusa.
- Não pense assim. Você é uma garota especial. E foi por acaso que descobrimos esse dom. Uma vez você curou o Toru de um ferimento muito feio e ele decidiu ajudar o Keiji a cuidar de você.
- Eu não me lembro disso.
- Você era muito pequena quando usou seu dom pela primeira vez - lembrou Hiki.
- E qual é o seu dom?
- Cozinhar - brincou Hiki.
- Quer trocar comigo? Não sou boa na cozinha.
Hiki deu risada do que falei e por um instante ficou me olhando, pensativo.
- É impressão minha ou você está diferente? Cortou o cabelo?
- Não. O que tem de diferente em mim?
- Seus olhos estão mais claros e seu cabelo...hum...ficou mais longo? Era desse jeitinho antes?
Pensei que Hiki estava enlouquecendo e fui até o espelho ao lado dele.
- Eu não vejo nada de diferente - falei enquanto tentava enxergar algo de novo em mim.
- Tem certeza? - insistiu Hiki.
- Tenho! Estou do mesmo jeito. Nada de diferente - falei me olhando no espelho.
- Pelo visto a pancada foi tão forte que afetou a minha visão - disse Hiki - Ou será que... - e parou de falar.
Escutei batidas na porta e fui ver quem era.
- Keiji? O que aconteceu?
- Não foi nada. Só um mal entendido com um cara.
Keiji estava todo arranhado nos braços e com um grande corte na barriga que estava sangrando. Ele estava exausto e se apoiou em mim para não cair.
- Com quem você foi arrumar briga? - disse Hiki bravo.
- Com um cara - disse Keiji.
- Esse corte está horrível - falei enquanto ajudava Keiji a se locomover pela enfermaria até a poltrona onde Hiki estava.
- Já tive ferimentos piores - riu Keiji.
- Ajuda ele - disse Hiki olhando para mim.
- Eu não sei o que fazer! - e comecei a ficar nervosa.
Entrei em pânico. Hiki puxou minha mão até o ferimento de Keiji e por impulso a puxei de volta.
- Vamos lá. Eu te ajudo. É só se concentrar - disse Hiki confiante.
- Certo! - falei tentando me acalmar - Isso vai doer, Hiki?
- Não. É só você se concentrar em transferir um pouco da sua energia e tudo ficará bem.
- Não precisa gastar sua energia comigo. Posso me cuidar sozinho - disse Keiji sério.
Eu conseguia sentir a dor dele através de seus olhos cinzentos e pra piorar a situação Keiji tirou a camisa rasgada e suja de sangue.
Era a primeira vez que eu ví aquele guitarrista sem camisa. E como sempre imaginei, ele tinha um abdômen bem definido, apesar de ser magro seu corpo era bem musculoso.
Hiki percebeu que eu estava prestando atenção em outra coisa quando me fez corar de vergonha.
- Olhe o corte. Não o cortado - brincou Hiki.
Keiji soltou um riso abafado e percebi que o sangue dele tinha uma cor diferente. Era um vermelho vivo que cintilava minúsculos pontos dourados.
- Está preparado? - perguntei.
Keiji fez que sim com a cabeça.
- Coloque suas mãos aqui - apontou Hiki e assim o fiz - Duas mãos transferem energia mais rápido. Agora se concentre.
Fechei os olhos e respirei fundo.
- É só repetir : "Não existe no mundo cura igual a esta. Uma energia pura que restaura qualquer ferida e renova o ferido" - disse Hiki bem baixinho e repeti suas palavras.
E mais uma vez minhas mãos começaram a brilhar. Keiji ficou atento apenas observando seu corte se fechar. Em poucos minutos só restou uma pequena cicatriz que mal se via.
- Obrigado - agradeceu Keiji - Estou me sentindo ótimo.
- Fico feliz que consegui ajudar - falei satisfeita.
- Depois me conte como conseguiu esse rasgo na barriga - insistiu Hiki - Tenho certeza de que não foi uma briga boba.
- Como você mesmo disse - e Keiji se levantou da poltrona - Depois nós conversamos. Está na hora do encerramento. Vamos? - e olhou para mim.
- Si-sim! - gaguejei.
Ainda me sentia confusa com tantas novidades em tão pouco tempo. Eu podia curar as pessoas! Isso era o máximo mas fiquei curiosa em relação à minha mãe. Porque ela nunca me contou nada?

Saímos da enfermaria e nos deparamos com duas enfermeiras que deveriam estar trabalhando naquela sala.
- Precisam de ajuda? - perguntou uma delas.
- Agora já é tarde - respondi com grosseria - Já resolvemos tudo.
Elas nos olharam sem entender e entraram na enfermaria.
- Foi muito rude, Shou - disse Hiki.
- Não. Apenas disse a verdade! - falei ainda emburrada mas logo mudei de humor quando Nai apareceu todo sorridente carregando muitos presentes.
- Olhem o tanto de coisas que ganhei das fãs! - disse Nai quase derrubando tudo no chão.
Corri para ajudá-lo e ele me entregou alguns presentes.
- Você está diferente? - perguntou Nai com olhar detalhista - Não, não. Foi só impressão minha.
Keiji apenas nos observava atento.
- Aonde vai levar essas coisas? - perguntei.
- Para o carro do Hiki! - respondeu Nai tão rápido que Hiki só teve tempo de bufar em resposta.
- Folgado, você - disse Hiki.
- Se a gente deixar o Toru e o Keiji para trás vai caber tudo! - disse Nai que estendeu a mão para Hiki.
- O que quer? - disse Hiki.
- A chave do carro, por favor - pediu Nai.
Hiki entregou a chave para Nai e em seguida fomos para o estacionamento. Keiji nos seguiu em silêncio enquanto carregava metade das caixas que eu havia pegado com o Nai.
- Onde está o carro? - disse Nai que parou e olhou para os lados em busca do carro de Hiki - E se... - e apertou o botão que destrava o carro depois que deixou no chão as caixas e sacolas que trazia.
À poucos metros o carro de Hiki fez barulho e piscou as luzes.
- Achei! - disse Nai e logo abriu o porta malas.
O carro de Hiki era grande e tinha capacidade para sete pessoas. Era todo preto com alguns detalhes prateados nas laterais.
Depois que enchemos o carro de caixas e sacolas coloridas, começamos a escutar o som de fogos de artifício.
- Já vai terminar o festival! - disse Nai - Tenho que correr! O Ryuki não vai ser o rei da festa dessa vez! - e saiu correndo.
- Que pressa! Joga a chave! - gritei e Nai jogou a chave do carro e Keiji a pegou e travou o carro.
- Todo ano é a mesma coisa - disse Keiji que andava ao meu lado.
O céu estava estrelado e a lua cheia iluminava o dome. Os fogos cessaram e o silêncio ao redor do dome foi reinando. Fiquei olhando para o alto enquanto caminhava pelo corredor a céu aberto que ficava perto do estacionamento. Parei quando ví um brilho no alto do prédio onde fica o QG da Neon. Era um ponto de luz branca muito forte que chamou minha atenção.
- O que está olhando? - perguntou Keiji.
- Nada não. Só o céu - disfarcei.
Tenho certeza que Keiji não acreditou em mim. Ele olhou na mesma direção e fechou os olhos. Em seguida a luz sumiu.
E mais uma vez fiquei sem saber o que era aquilo.

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