32-Forçada.

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Maratona 4-5.

***

Não consegui dormir noite passada, rolei no chão com saudade do meu colchão e novamente me questionando de como eu iria sair dali. Será mesmo, que o meu destino era esse? Não podia me conformar com ele, era triste de mais. Perdi as esperanças de ser feliz, esse agora não é o meu foco, o meu foco agora e descobrir o que vou fazer. Se é que eu posso fazer alguma coisa. Minha mente viajou até o Bruno. Será que ele estava em casa, ou na casa dele? será que ele já sabia o que aconteceu comigo? O que estaria fazendo? Será que estava preocupado comigo?

Doía de mais lembrar que eu deveria estar com ele naquele momento, mais que estava em um lugar estranho, com medo e assustada. Percebi que não tinha chorado até então quando as lágrimas invadiram meus olhos. Não as segurei, apenas deixei-as escorrer pelo meu rosto. Eram quentes, e me provavam que eu ainda estava viva. Meus pulsos estavam doendo tanto que não podia nem os meches direito, sem falar no meu nariz que deveria estar roxo, para não dizer QUEBRADO.

Encolhi-me embaixo do cobertor cinza, que estava todo vermelho devido ao sangue do meu nariz, na tentativa de ficar mais quente. Foi em vão, um vento gelado entrava por algum lugar bem longe de mim. O dia amanheceu tão rápido que eu quase não vi direito o Rodolpho entrando. (mesmo com o barulho, estava perdida de mais em meus pensamentos).

-Eu quebrei seu nariz? –perguntou se sentando ao meu lado.

-Não sou medico para respondeu. –falei friamente sem olhar para ele.

-Tá doendo pelo menos? –perguntou virando a cabeça para examinar meu nariz.

-Muito. –respondi. -Por que tá preocupado comigo agora?

-Eu sempre me preocupo com as minhas hospedes.

-Idiota. -resmunguei.

-Eu já disse para você parar de me xingar. –ele disse alto. –Não te ofendi.

-Ah é mesmo? E quebrar o nariz de alguém não é ofensa? –perguntei me levantando com dificuldade.

-Me deixa ao menos cuidar desse ferimento. –ele disse colocando uma gaze encima do nariz, mais eu rapidamente desviei e empurrei a mão dele para trás. –Estou tentando amenizar sua dor.

-Não te pedi nada. –respondi.

-Okey. Não vai ser eu que vou ficar sentindo dor. –disse e jogou a gaze de lado. –Já pedi para encomendarem nossos documentos, o passaporte fica pronto em dois dias, só então vamos poder ir parada bem longe daqui.

-Eu já disse que não saiu daqui nem amarrada. –disse.

-Mais você vai sair, ou eu já disse que quem vai pagar pela sua teimosia é o Bruno. –falou tocando meu rosto, e depois encarrou meu corpo. –Aliás, ele teve muita sorte, em! Você tem belas curvas.

-Não sabia que eu era estrada. –respondi rapidamente com um sorriso sem graça no rosto.

-Você tem a língua bem afiada, cuidado, eu posso cortá-la. –ele disse me apontando uma faca.

Afastei-me dele ainda mais, até minhas costas encontrarem a parede fria.

-Você só diz que não tem medo, por que eu sei que você está se borrando. –disse se aproximando de mim.

-Não sou lápis para borrar. –disse novamente.

Ele estendeu a mão e me deu uma tapa na bochecha.

-Cala a boca. –gritou.

Virei-me para o seu rosto e cuspi saliva misturada com sangue. Isso só serviu para que ele me chutar e bater ainda mais forte. Eu tentei me manter calada mais quando a dor ficou insuportável tive que soltar um pequeno grito. À medida que ele rasgava minha roupa com as mãos eu me debatia mais era em vão, minhas mãos foram amaradas assim como os meus pés. E do jeito mais nojento possível fui abusada. Foi horrível, um trauma que eu sabia que seria para a vida inteira. Não teve nada haver com amor...

*

Três dias se passaram, eu estava tão perdida, e traumatizada que estava em profunda depressão, não sabia mais o que fazer, só estava esperando o momento certo para me matar. Todos os dias eu era ferida de diversas formas, não via mais jeito pra minha vida. Desde que cheguei aqui estava sem tomar banho e sem comer direito, água não saltava, pois descobri uma torneira. Os hematomas das suras eram evidentes, braços e pernas roxos meu corpo inteiro doía. Eu não pensava mais, nem tinha esperanças de sair dali. Eu achava que já sofria bastante, mais agora eu tinha certeza de que tudo que eu passei não se comparava ao que eu estava passando naquele lugar.

Fui me arrastando até a torneira e abri-a para que pudesse tomar água e lavar o meu rosto. O dia estava quase acabando, era noite.

Parei com o grande ranger da porta, e voltei para o canto.

-Oiii Betânia! –o Rodolpho cantarolou com um tom de felicidade na voz.

-Esqueceu meu nome idiota? –perguntei.

-Não, não esqueci. Esse agora é o seu nome a partir de hoje. Amanha de madrugada vamos viajar para a Argentina. –ele disse parando na minha frente.

-Como você quer sair do país comigo nesse estado? Eu não estou nem conseguindo andar direito. –falei sem demostrar dor.

-Nós vamos de carro, até uma fazenda na costa do Paraguai, de lá vamos de jatinho. Olha, vamos voar em bom estilo. -respondeu.

Eu não podia acreditar nisso, ele realmente queria levar esse ''plano'' a serio. Eu não posso deixar isso acontecer, mais vou fazer o que? Gritar? Já fiz isso e o resultado não foi muito bom.

Fiquei em silêncio, a partir daquele momento ele seria minha resposta para tudo.

-Ah... Vou ter levar lá para cima, você precisa tomar um banho e se arrumar. Não vou avisar de novo que se tentar fugir vai ser pior. –ele disse, e depois me pegou no colo.

Eu teria dito não ou coisa assim, mais estava muito suja e precisa tomar banho o mais rápido possível.

Quando ele me guiou até a porta, começou a subir uma escada muito grande e escura. Meu corpo latejava a cada movimento.

-Eu comprei alguns remédios para você, sei que você não vai querer mais é melhor tomar se quiser que a dor passe. –disse baixo. –Eu não precisaria fazer isso com você, se você não tivesse se comportado.

Não respondi.

A claridade invadiu meus olhos assim que cruzamos um corredor, era reconfortante ver a luz novamente, mais meus olhos estavam acostumados à escuridão lá de baixo então eu tive que os encolher de principio. Não demorou muito para chegarmos a um cômodo feito de cerâmica branca. O Rodolpho me sentou no vaso e ligou o chuveiro.

-Precisa que eu dê banho em você? –perguntou.

Neguei com a cabeça. Precisava chorar sozinha.

Ele saiu e apontou um pequeno armário, onde disse que eu encontraria roupas limpas. Comecei a tirar a roupa devagar, ela estava grudada no meu corpo, e a cada movimento meu era um gemido de dor. Quando consegui me livrar delas, foi para baixo do chuveiro, me sentei no chão frio e deixei a água me molhar, meu corpo ardia mais era bom limpar aqueles machucados. Passei sabonete nas pernas e braços, minha intenção era ficar limpa, mais eu continuava suja. Não era como as vezes que eu me sentia suja e ia tomar banho de álcool, essa sujeira era dentro de mim.


Uma Garota Escolhida.Onde histórias criam vida. Descubra agora