Azrael

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"Esses humanos são fascinantes." Pensava Azrael sempre que estava no mundo humano para levar mais uma vida.

Se sentou em um banco no ponto de ônibus a fim de esperar a hora marcada para ceifar. Não queria se atrasar e ser castigado novamente por Puriel.

Azrael, aos olhos humanos, era apenas mais um igual à eles. Loiro de olhos claros, porte aristocrático. A única diferença eram suas asas negras, mas essas, os humanos não conseguiam ver.

O Ceifeiro usava um terno preto, bem cortado e alinhado. Suas asas saiam pela escápula, e estavam encolhidas. Sentiu alguma coisa em suas penas. As sacudiu achando ser o vento. Mas não estava ventando.

- Elas são lindas!- uma vozinha melodiosa ao seu lado o atraiu.- São de verdade?

Azrael olhou para a criança que lhe dirigia a palavra. Era uma garotinha de cabelos escuros e olhos verdes. Usava uniforme escolar e carregava uma mochila. Aparentemente deviabter uns oito anos, e irradiava pureza.

O Ceifador ficou chocado ao perceber que ela olhava para suas asas. Timidamente elevou a mãozinha e passou pelas plumas brilhantes. Azrael, assustado, as abriu também assustando a menina.

- Desculpe.- encolheu as asas. Se repreependeu mentalmente, não podia falar com humanos. Isso era uma falta gravíssima. No entanto, um humano ver suas asas, era deveras intrigante.

- Doeu pra nascer?- a garotinha tentava puxar assunto com o Ceifeiro. Ele a ignorava, já tinha falado bastante.- Elas são lindas, e macias.- ela alisava as penas, o loiro puxou uma e lhe entregou sem dizer nada.- Você é um anjo?- Azrael riu pelo nariz. A menina era tão inocente, que achava que ele era um anjo.- Você não fala muito. Sabe falar meu idioma?- a criança olhava encantada a pena negra.



- Falo todos os idiomas.- soltou distraido, se praguejando por seu descuido.

Olhou para o relógio do out door, faltava alguns minutos para que ceifasse.

- Você é um anjo da guarda?- Azrael negou com a cabeça.- Mas você é bonito, e tem asas, como não é anjo?- ele não respondeu. Ele era um anjo, mas não do tipo que ela estava achando. Ele era um Ceifeiro, um anjo da morte.- Você não pode falar?- indagou vendo o silêncio do anjo, este negou.- Certo.- suspirou olhando para o lado.- Meu ônibus está vindo. Vou te encontrar aqui amanhã?- ele quis negar, mas não conseguiu ao ver o brilho que ela tinha nos olhos. Sem se controlar, sua cabeça assentiu.- Até amanhã então.- se levantou e acenou para o transporte.- Ah! Meu nome é Gwen.- disse antes de entrar no ônibus. Se sentou na janeça e se despediu.

Poucos minutos depois que Gwen se foi, Azrael se levantou e foi até uma senhora que comia um sorvete de casquinha. Chegara a hora de ceifar. Num piscar de olhos seu terno se tornara uma túnica prata, era ela que o deixava invisível aos olhos humanos.

Se colocou ao lado da senhora e soprou lhe a cabeça. Alguns instantes depois, uma forte pressão na cabeça abateu a mulher que caiu desajeitada na calçada. Vários pedestres a ampararam e chamaram a ambulância.

Azrael olhava a cena com a cabeça inclinada. "Eles não a conhecem, não tem laço afetivo. E mesmo assim querem ajudá-la? Fascinante esses humanos."

O Ceifeiro acompanhou a mulher até um hospital. Viu os médicos e enfermeiris tentarem reanimá-la.

- Venha.- a chamou, o Ceifeiro.

Um brilho intenso veio do alto cobrindo o corpo da senhora.

O espectro saiu do corpo da mulher, seguindo para a luz, o seu julgamento.

BIII. Ecoou insistente dentro do quarto do hospital. Os rostos desolados e tristes dos médicos intrigavam Azrael.

"Eles passam por isso todos os dias. Já deviam estar acostumados com isso. A morte."

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- Matt, você pode ir lá em casa? Tenho uma coisa para te mostrar.- cochichou Gwen ao meninl de cabelos ruivos e olhos verdes, sentado ao seu lado dentro do ônibus.

- Se for rápido...tenho que começar meu trabalho de matemática.

Desceram do transporte e andaram até o prédio, onde ambos moravam. Havia poucos andares, quatro no total, e por esse fato, não tinha elevador.

Gwen e Matt moravam no mesmo andar, o segundo. Também morava um casal de velhinhos, o senhor e senhora Foster. Bem divertidos e alegres.

O apartamento de Gwen estava vazio, como sempre. Sua mãe estava trabalhando e chegaria em poucas horas.

A menina levou o amigo até o sofá e se sentaram cruzando as pernas.

- Hoje, eu estava esperando o ônibus para ir pra escola, e conheci um moço.- falava vasculhando a mochila.

- Gwen! Não sabe que é perigoso falar com estranhos?- repreendeu o ruivo.

- Shii. Ele não era estranho, era um anjo.- a garotinha abriu um livro e do meio dele retirou uma pena negra e macia.- Ele me deu isto.

- Gwen,- Matt pegou a pena e olhou por uns instantes.- anjos não existem. E isso deve ser pena de algum pássaro. Sabe quantas doenças essa pena pode transmitir?

- Anjos existem sim!- pegou a pena de volta e foi para o quarto guardá-la dentro de uma caixinha de madeira.

- Tá, podem até axistir, mas anjos não andam por ai distribuindo suas penas e falando com as pessoas. Eles devem ficar lá em um céu.

- Ele não falou muito. Ele não pode falar...

- É mudo?- o garoto conhecia Gwen desde os quatro anos, sabia que quando ela colocava algo na cabeça, ninguém tirava.

- Não. Ele falou uma ou duas coisas, depois se calou.- deu os ombros.

Matt resolveu não argumentar mais, pois seria em vão e não queria brigar com a amiga. Logo ela desencanaria dessa história de anjo.

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Dor, muita dor. Azrael não sabia à quanto tempo estava ali preso por aquelas correntes. Seu corpo nu, estava banhado de sangue.

Assim que chegou à Neraka, Puriel o prendeu.

- Azrael. Ainda não aprendeu que mesmo aqui, temos regras a serem seguidas?- a viz suave de Puriel causava arrepios no Ceifeiro.

Como todo anjo, mesmo caído, Puriel era belo, forte e imponente. Com cabelos castanhos, olhos azuis, barba e pele branca reluzente. Um anjo.

- Foram algumas palavras.- Azrael tinha a fala prejudicada pelos golpes de clava que recebera. Seu rosto inchado e cortado, não lembrava o rosto de um anjo.- Eu só fiquei curioso. Ela viu minhas asas....- cuspiu o sangue que acumulava em sua boca.

- Mentira!- berrou açoitando mais uma vez o corpo do loiro.

- Eu não minto.- Azrael gemeu.- Ela viu minhas asas, achou que eu era um anjo.

- Ha, anjo.- debochou analisando as armas penduradas na parede, a fim de escolher sua próxima. Por fim, escolheu um chicote de tiras e pregas, e mais uma vez, lhe bateu.

A cada chibatada, as pregas arrancavam a pele do Ceifeiro que urrava e gemia de dor e agonia.

Puriel era o anjo da punição. E ele não sentia remorço algum, em cumprir sua tarefa de punir aqueles que desobedecem as regras.

Azrael era sua vítima mais frequente, pois era novo em Neraka.

Parou com o castigo quando Azrael desmaiou.

Anjo NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora