Batalha

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– Se eu não soubesse, diria que treinaste desde sempre, Azrael.- pontuou Miguel atacando novamente o loiro com sua espada. O Ceifador bloqueava e revidava com mesma intensidade de força.- A boa genética de Lúcius corre em você.

– Não me compare a ele.- pediu sacudindo a espada curta com destreza nos golpes. Quase não usava o escudo para barrar os golpes de Miguel. Fazia isso, justamente para aprender a se curar rapidamente enquanto luta.

– Lúcius nem sempre fora assim. Foi dominado por um sentimento que somente humanos estavam aptos a sentir se sofrer grandes danos...- explicou o arcanjo.- Quando um Celeste desenvolve o amor diferente deste fraterno que sentimos, não sabemos dominar outros sentimentos que vem junto. Ciúmes, decepção, mágoa...Lúcius não soube lidar com a perda. Os humanos já nascem sabendo que a vida é feita de perdas e ganhos. Nós Celestes não sabemos o que é perda, porquê não temos o que perder e sentir falta.- pontuou se abaixando quando o loiro cortou o ar com a lâmina.- Todos aqueles que se deixaram levar e não souberam controlar os sentimentos terrenos, foram banidos com Lúcius para Neraka.- Áz estancou pensativo e somente teve tempo de erguer o escudo para a defesa.- Atenção. Não se deixe influenciar pelas palavras do oponente.- ensinou.

– Se todos que experimentaram sentimentos humanos foram para Neraka, quer dizer que eu também, não é? Por isso, sou um Ceifador.- ofegava enquanto continuava a sessão com Miguel.

– Não, Azrael. Um Ceifador, apesar de ser um anjo da morte, trabalha para o Pai. Ninguém morre sem que esse seja o desejo do Senhor.- cruciou findando o duelo.- Os Ceifeiros ficam em Neraka pois a energia da morte vem do enxofre de lá.- o anjo negro escutava com atenção as coisas que o outro dizia.- Ficou aqui conosco até que adquirisse asas longas. Depois o Pai o designou para ser Ceifeiro, assim, ficaria perto de Lúcius até esse momento.

– Que momento?

– Enfrentar o exército de Lúcius para que essa loucura dele acabe. O Senhor sabe que certas atitudes podem fazer essa batalha ser sangrenta, mas Ele disse que tudo ficará bem no final.- sorriu Miguel.- E eu confio Nele.- afirmou.- Vamos continuar.- chamou se colocando em posição de ataque.

***

Em um campo isolado de qualquer vegetação, os seguidores de Lúcius aguardavam as ordem de seu superior.

Ao lado do loiro, estava Gwendolin. Sua expressão era de desgosto e raiva contida. Aquelas criaturas, que ela reconhecia de uma outra vida; o ar seco que irritava seus olhos; o discurso de Lúcius a deixava mais enojada de tudo aquilo.

– ...E que todos os nossos irmãos em Neraka se juntem a nós em Abismos para conquistarmos a luz novamente.- falava olhando um ponto além de seus seguidores.

– Quanto bla bla bla, Lúcius.- resmungou Gwen ao seu lado.- Não vai contar a eles o real motivo de sua raiva contra o Pai?- provocou a moça.- Eu sei que não é por causa da 'Luz Celeste' que quer enfrentar o Senhor.- cochichou sorrindo.

O arcanjo a olhou de lado como se quisesse ler sua mente. Claro que ela saberia o real motivo daquela briga. O Ceifador lhe dissera. Não que ele se importasse com tudo aquilo, mas se os outros seres que estavam indo para a batalha soubessem de seus reais motivos, lhe dariam as costas. Porém, para ter Merade e Azra de volta, ele enfrentaria todo seu exército para isso, até mesmo destruiria a Nova Terra.

– Faça sua parte do acordo, irmã. Lute. Lute como se sua vida dependesse dessa batalha.- pediu com a voz tranquila.- E não se meta nos meus assuntos.

– Uma guera contra o Pai, por causa de sua esposa e filho...apesar de estar me usando nessa história, seus motivos são até válidos. Talvez eu fizesse o mesmo.- murmurou para si mesma pensando no que seria capaz para ajudar Áz.

– Não estou te usando, irmã. Fizemos um acordo. Eu cumpri a minha parte, agora é a sua vez.- cruciou conduzindo-a para longe dos demais anjos caídos.- Quando era uma de nós, foi uma grande guerreira. Será que ainda sabe manusear sua espada?- perguntou estendendo os braços onde surgiu algo embrulhado em um pano pardo. O loiro ofereceu o objeto a Gwen, que receosa abriu. Ofegou ao reconhecer sua antiga espada de arcanjo. A muito não a tocava.

– Fo̱tízetai.- murmurou se afastando do objeto e do loiro.- Onde conseguiu isso?- questionou tendo flashes de lembranças.- Ela não é mais minha. Eu a tranquei no Vale dos querubins.- comentou com o cenho franzido.- Ninguém corrompido poderia retirá-la.

– Sabes que não há barreiras para mim, irmã.- refutou tornando a estender a curta espada.- Tome. Vais precisar quando chegar a hora.

– Não vou usá-la pra ferir meus irmãos!- bradou Gwen.

– Não estou dizendo para fazer isso.- continuou.- Vamos estar numa batalha, irmã. Terás de se defender, pois estaremos todos ocupados com isto, para fazer uma escolta pra você.- sarcastiou empurrando a espada para a morena.

Para não deixar a espada cair, Gwendolin a segurou firme na base, rapidamente suas roupas se formaram nas antigas de combate. Uma toga curta e leve, acinturada por um cordão prateado, seus cabelos presos por um emaranhado de trança.

– Ela ainda lhe reconhece como dona.- pontuou Lúcius.- Bem, vamos indo. Ainda tenho de reunir os que ficaram em Neraka.

– Quer que eu morra, não é?- murmurou a jovem. O arcanjo a olhou confuso.- Como permanecerei em Neraka ou Abismos sem que o ar de lá me afete malignamente?- Gwen então começou a ver sua saída daquele combate. Não poderia ser útil para o loiro se estivesse fraca.

– Não se preocupe. Nada irá acontecer enquanto estiver lutando a meu favor.- sorriu lhe oferecendo a mão para irem.

***

Ouriel estava com os caídos e outros demônios em Abismus esperando por Lúcifer. Em seu interior algo gritava que aquilo não acabaria bem.

– Enfim saíremos deste lugar imundo.- conversou Puriel ajeitando sua espada. Ouriel, que estava diminuído em tamanho o olhou sem vê-lo de verdade. Era como se nada daquilo que estava acontecendo, fosse alguma espécie de sonho onde tentamos mover nossas pernas e elas não nos obedecem. Ouriel se sentia assim. Queria ir embora, sumir até que aquilo tudo acabasse, porém, suas pernas faziam o contrário. O levava para a batalha.

– Achas mesmo que iremos vencer?- indagou devagar para Puriel.

– Temos um número maior de combatentes.- pontuou o moreno.

– Miguel tem a Nona'.- cruciou voltando seu olhar para o horizonte de Abismus onde a luz de Firdaus brilhava.- Um só golpe dela, e deixas de existir.

– Veremos se ele consegue me tocar.- gabou-se.- Sua atenção estará voltada para Lúcifer.- afirmou apontando para a criatura loira vindo em direção a eles.

– O que ela faz aqui?!- Ouriel ficou incrédulo ao avistar Listh junto do arcanjo.

– Veio lutar. Ao meu lado.- informou Lúcius.

Gwen mantinha a postura determinada. Iria se defender apenas, não machucaria nenhum de seus irmãos Celestes, depois encontraria uma maneira de sair daquela loucura que Lúcifer pretendia executar.

– Isso, é um absurdo, Lúcius!- bradou Ouriel. Ele não queria que a humana com a alma de Listh entrasse naquela luta. Já bastava a sina que fizera ela sofrer. Certamente aquela moça morreria em campo. Apesar da roupa e a espada de combate, não seria capaz de passar pelos muitos arcanjos guerreiros de Miguel.

– Ouriel.- chamou a morena sinalizando para que conversassem em partucular.- Não temas por mim.

– Como não, Listh?!- esbravejou o arcanjo.

– Por favor, me chame de Gwendolin.- pediu.- Nada irá me acontecer, irmão.- assegurou.- Não pretendo ficar nesse lugar por muito tempo.- informou olhando para onde Lúcius estava.- Quando a batalha começar, vou até o portal e voltarei para a Terra.- cochichou.

– Vai ser perigoso atravessar o campo, Listh. Gwendolin.- corrigiu-se.- Irei contigo.- afirmou.

– Obrigada.- agradeceu sorrindo antes de ouvirem um dos soldados de Lúcifer gritarem sobre Miguel estar vindo.

– Eu vou a frente. Tente não se ferir.- pediu o arcanjo desembainhando sua espada.

Gwen o seguiu. Sua mão estava posicionada no cabo de sua espada. Era confuso segurá-la. Algo familiar e estranho.

***

Azrael agitava ferozmente sua espada conforme avançava na batalha. Perdera Miguel pouco depois do início. Não que ele estivesse com medo, somente queria estar por perto quando encontrasse Lúcius.

Sua espada, por ser Celeste, era capaz de ferir os caídos e destruir os demônios. E já havia elimimado muitos seres quando avistou uma criatura passar encurvada atrás de outra grandiosa. Ele reconheceria aqueles cabelos negros em qualquer lugar. O que raios ela fazia ali?!

– Gwen!- bradou esquivando do ataque de um demônio. Passou a lâmina de sua arma na lateral do corpo so oponente que caiu se contorcendo em convulsões.- Gwen!- gritou abrindo caminho naquela luta.

– Ora, ora, ora.- cantarolou uma voz que a muito Azrael não ouvia.- Ainda vive, Ceifeiro?

– Puriel.- falou aquele nome e percebera que não sentira nada, nenhum tremor ou medo se apossou do loiro.

– Se tornou um Celeste...- comentou debochado.- Pena que vai ser por pouco tempo.- o ataque do caído pegaram o anjo negro de surpresa, os golpes o cortaram na altura do peito.- Andou treinando?- zombou Puriel pelo loiro ter se esquivado de seu golpe.

– Não tenho tempo para isso. Tenho de ir.- informou contornando seu carrasco para ir atrás de Gwendolin.

– Vais fugir novamente, Ceifador?- gritou para o anjo negro que já estava a alguma distância.- Dessa vez não vou deixar.- afirmou alçando vôo para o alto e atacando o Ceifeiro por trás.

Cairam rolando pelo solo arenoso derrubando alguns arcanjos e demônios. As asas cintilantes de Azrael se abriram tensas afastando alguns combatentes.

– Não queria lutar com você, Puriel.- começou o loiro.- Mas não vou fugir se insistir com isso.- afirmou segurando firme sua espada.

– O que te faz pensar que podes me derrotar, Ceifeiro?- zombou o outro.

– Não tenho mais medo de você.

Puriel sorriu de escárnio antes de investir contra o anjo negro.

Azrael mal conseguia atacar seu carrasco. Estava sempre tendo de se defender sempre dos golpes de Puriel.

O embate estava sendo rigoroso entre eles. Puriel não dava chances de Áz contra atacar. Ferira o loiro em diversas partes do corpo, e este não conseguia tempo para se curar, pois, logo era machucado novamente pelo arcanjo.

O rosto do arcanjo da punição era uma máscara de ódio e desejo por sangue. Ele queria eliminar o Ceifador. Puriel sabia que acabaria com a guerra apenas eliminando Azrael. Ele sabia de toda a história de Lúcius e a humana. Ouvira a discussão de Miguel com o arcanjo loiro. Lúcifer exigia saber do filho e esposa. Guardou silêncio sobre aquilo. Uma informação valiosa como aquela, útil...E quando viu Azrael, soube no mesmo instante de quem se tratava. Era um milagre ninguém ver a semelhança evidente entre pai e filho. O porte físico, olhos grandes e azuis, o mesmo ar Celeste por fora, mas que por dentro existia a fúria de um demônio. Se ele conseguisse acertar fatalmente o anjo negro, Lúcifer não encontraria seu primogênito, logo, continuaria com a batalha para conquistar Firdaus. Puriel acreditava que se Lúcius soubesse quem Azrael era, desistiria de tudo. Tudo o que passaram, seria em vão. E Puriel não deixaria isso, acontecer.

***

– Rápido!- Ouriel gritava alto para a morena que vinha logo atrás de si. Estavam circulando o vale de Abismus. O arcanjo sugerira que levasse ela voando, no entanto, ela achou que Lúcius os veria no céu se assim fosse.

– Ah!- gritou Gwen sendo puxada pelos cabelos por um demônio. Ergueu sua pequena espada e num giro de corpo, ficou de frente para o Ghoul que salivava ácido. O golpeou na barriga subindo alguns centímetros com a lâmina. Um silvo seguido do odor de enxofre veio do ser que logo caiu no solo.

– Você está bem?- questionou Ouriel.

– Estou.- afirmou sentindo o corpo tremer de adrenalina.- Vamos continuar...- propôs. Mas uma movimentação no meio do campo lhe atraiu. Viu um par de grandes asas cintilantes arqueadas no meio dos guerreiros. Arfou em reconhecimento.- Áz.- sussurrou mudando seu trajeto. Caminhava para o meio da batalha onde o arcanjo estava. Seu coração estava angustiado.

O que ele estaria fazendo ali? Se perguntava a jovem se aproximando da massa de arcanjos e demônios que lutavam.

– Gwendolin!- a deteu Ouriel segugando-a pelo braço.- O portal fica para lá.- informou apontando para para o lado oposto que ela seguia.- Se entrar ai, não sairá ilesa.- pontuou preocupado.

– Áz está ali. Eu sei que está.- murmurou se livrando do aperto do outro.- Áz!- gritou mirando as asas que dançava de um lado para o outro e as vezes sumiam entre os demônios.

Ouriel a seguiu de perto, preocupado com as criaturas que a veriam como uma fonte de energia a ser sugada. Não teve que fazer muito para ajudá-la, a morena parecia a antiga guerreira Celeste se defendendo dos que tentavam acertá-la.

Gwen estava a poucos passos do Ceifeiro, já conseguia vê-lo perfeitamente. Era seu anjo negro, vestido com a toga de combate agitando furiosamente uma espada contra outro alado. Parou ao ver que o loiro estava ferido. Ficou preocupada, era visível o cansaço do anjo negro que ficou encurvado para recuperar energia. A morena reconheceu Puriel, o arcanjo orgulhoso e sedento por poder, este tinha poucos machucados e ria rodeando o Ceifeiro.

– Não!- a jovem bradou alto avançando para eles ao ver a lâmina erguida contra o loiro.

Os poucos seres que ali restavam, pararam seu duelo e olharam para quem gritara.

– Gwen...- murmurou Azrael com um pequeno sorriso cansado.

– Listh?- estranhou Puriel vendo a irmã de outros tempos ali na batalha.

– Não faça isso, Puriel.- pediu a moça se aproximando dos dois. - Não podes fazer isso.- reafirmou fitando-o.

– Isso, é uma luta, irmã. Tenho de fazer isso.- cruciou furioso.

– Se fizer isso, Lúcius te exterminará.- pontuou cautelosa.

– Gwen...- chamou o anjo negro se recuperando.- Por favor.- pediu num tom pra que ela não revelasse nada.

– Gwen?- repetiu Puriel pensativo.- Então, você é aquela garotinha?- olhou inquisitivo para o loiro.- Ha!- começou a rir abaixando a mão que segurava a espada.- E a história se repete então...assim como Lúcius esqueceu as regras por uma humana, o filho segue seu exemplo.- riu de escárnio.

***

Miguel encarava seu irmão a sua frente. Ambos eram grandes arcanjos e já se amaram muito como irmãos. Miguel ainda amava Lúcius como irmão. Acreditava que a raiva que o loiro sentia se dissiparia quando em fim soubesse a verdade.

– Repense, irmão. Ainda está em tempo de se tornar puro novamente.- disse Miguel quando encontrou o loiro.

– Não tenho o quê repensar! Enquanto não tiver Merade e Azra, meu exército não descansará!- afirmou Lúcifer erguendo suas asas e atacando o irmão.

O Celeste deu um suspiro triste e cansado. Ao bloquear os golpes."Contarei, Pai." Informou mentalmente.

"Ainda não, filho. Lúcifer tem de se arrepender para ganhar o que quer." refutou a voz trovejante do Senhor.

– O Pai somente lhe dirá algo se arrependeres...- Miguel olhou para o campo onde acontecia o embate dos caídos e Celestes. Muitas perdas tiveram os dois lados.

– Me arrepender de quê?- perguntou zangado por não conseguir ferir o Celeste.- Não me arrependo de ter amado Merade, nem ao nosso filho! Roguei irmão, eu roguei para que o Senhor os poupasse.- comentou amargurado.- Mas ele não me concedeu isso. Destruiu a Terra e junto Merade e Azra!- bradou irado balançando sua arma contra Miguel.

– As vezes pode parecer que nada está bem, que nada acontece, mas o Pai sempre ampara seus filhos e olha por eles.

Lúcius rosnou para as palavras do outro. Muito conveniente para Miguel deixar tudo como estava. Não eram sua esposa e filho que o Pai destruíra.

– Como se sentiu entre os humanos?- questionou o arcanjo loiro com mais uma investida.

– Bem, Maria me mostrou o quanto o amor de uma mãe é sublime...- confessou estreitando os olhos para a confusão que acontecia no campo de batalha.- Azrael?- murmurou vendo a espada de Puriel erguida contra o Ceifeiro. Empurrou Lúcius e correu para ajudar o anjo negro.

– Vais fugir?!- vociferou Lúcifer o seguindo para um aglomerado de Celestes e caídos.

Mesmo de longe conseguiu ver Listh e o Ceifeiro lado a lado. O anjo da morte estava sujo e ferido. Outro caído estava rodeando-os. Era o anjo da punição, Puriel.

"...assim como Lúcius esqueceu as regras por uma humana, o filho segue seu exemplo." Lúcius ouviu o outro dizer. Não conseguira entender e ver Miguel se colocar entre Puriel e o Ceifeiro, o deixara mais confuso.

– Não se atreva a levantar essa espada contra Azrael, Puriel!- alertou o arcanjo guerreiro.

– Me admira estar defendendo ele, Miguel.- ironizou o caído.- Parece que esqueceu quem ele é, o causador dessa discordia...

– Azrael não causou isso. Fora Lúcius. Vocês o seguiram por tolice!- afirmou o Celeste.

– Por que dizes que Ceifeiro é o causador disso, quando bem sabes que fora nosso Pai que nos fez agir assim com sua intolerância?- inquiriu chegando junto do grupo.

Puriel ficou calado olhando para Lúcifer. Devia ter ficado de boca fechada. O loiro não toleraria se descobrisse que ele sabia sobre quem era Azrael.

– Me compreendeu mal, senhor. Eu dizia que, ele, juntamente com todos os bajuladores do Senhor, são culpados do nosso exílio.- contornou Puriel.- Eu estava prestes a cumprir minha tarefa e executar esse Ceifeiro traidor quando essa...- o caído não soube classificar o que era a morena.

– Listh. Venha aqui.- chamou estendendo a mão a ela. Azrael se colocou na frente da moça encarando o pai.- Temos um pacto, Ceifador, não se meta.- alertou Lúcius tencionando o queixo.

– Ela não vai a lugar nenhum com você!- afirmou o loiro.

– Deixe-me liquidá-lo para o senhor.- sussurrou Puriel fitando o anjo negro. Lúcifer sinalizou entediado para que o caído fizesse o que bem entendesse.

– Veremos se passará por mim para conseguir ferir Azrael.- cruciou Miguel contra atacando Puriel.

– O que há de importante nesse Ceifador para que todos queiram defendê-lo?!- exasperou Lúcifer se virando para olhar o anjo negro, mas este não se encontrava ali. Ao longe no alto alaranjado de Abismus, o Ceifeiro voava rápido carregando a Abençoada junto dele e logo atrás seguia Ouriel.

Deixando Miguel e Puriel para trás, Lúcius se pôs a ir atrás deles. Listh e Ouriel, seu conselheiro, estavam ajudando o anjo negro, cujo qual, até Miguel defendera.

O loiro ondeou a mão esquerda e abriu a palma da mão para cima concentrando sua energia ali. Uma bola de luz dourada formou em sua mão. Direcionou a rajada de energia para o trio que voava em direção ao portal. A bola acertou as plumas do anjo negro derrubando-o no solo.

Azrael caiu fortemente de costas amortecendo a queda para Gwen. O loiro resmungou de dor com o corpo da moça pensando sobre seu peito.

– Estão bem?- perguntou Ouriel aterrissando junto do anjo negro e a moça que continuava imóvel sobre o anjo.

– Sim. Gwen?- chamou sem obter respostas.- Gwen!- se desesperou vendo que a jovem não estava lúcida.

Lúcifer chegou em seguida pousando em frente ao Ceifeiro que segurava o corpo da morena.

– Não aconteceu nada com ela. Só está desacordada.- informou Lúcius sentindo uma alta vibração de poder vir do anjo negro.

Azrael olhou com fúria para o pai e deixando Gwen no solo, atacou o arcanjo com sua pequena espada. Com reflexos rápidos, Lúcifer o bloqueou olhando-o com divertimento.

– Achas mesmo que podes me enfrentar?- zombou.- Tente.- incentivou.

O Ceifeiro atacava com fúria aquele que era seu pai por ter deixado Gwendolin naquele estado. Naquele momento esquecera que Lúcius era seu pai. Ninguém feriria a Abençoada em sua presença e sairia impune.

– Até que lutas dignamente, Ceifador.- comentou o loiro girando o corpo e acertando a lateral do anjo negro.- Porém, sou o melhor.- pontuou limpando a lâmina de sua espada manchada pelo sangue vermelho do outro.- Mas...?- estranhou aquilo. O sangue não deveria ser vermelho. Nem deveria ser vermelho! Somente Mestiços tinham essa características.- O que é você?- perguntou bloqueando outra série de golpes do anjo negro.

– Sou aquele que terminará com essa batalha.- rugiu em fúria tentando acertar em vão o outro.

– Ela está acordando.- anunciou Ouriel que se manteve junto de Gwen velando seu sono.

Azrael abandonou sua briga para se juntar a morena. Ela começou a tossir enquanto se levantava.

– O que houve?- tossia como se grãos de poeira estivessem grudados em sua garganta.

– Nada. Vamos embora.- decretou pegando-a no colo para retomarem o vôo.

– Se tirá-la daqui, ela morrerá.- informou Lúcius.- Não acabou o trato.

– Acabe com ele! Agora!- rugiu o Ceifeiro apontando sua espada para o peito do pai.

– Áz, não!- repreendeu a morena tossindo em seguida. O ar ali estava começando a debilitá-la."Nada irá acontecer enquanto estiver lutando a meu favor." A lembrança vez seu estômago se contorcer. Por estar ajudando Áz, iria morrer ali, em Abismus.

– Listh!- se alarmou Ouriel amparando a morena antes que ela caísse.

– Áz...- chamou.- Não posso ficar muito tempo mais aqui.- murmurou.- O trato...

– Acabe com esse trato!- o anjo pediu segurando o tecido da túnica de Lúcius.

– Por que eu faria isso, Ceifeiro?- zombou.

– Porque estou lhe pedindo, pai.- rogou aflito vendo a morena de olhos fechados.

– Do que me chamou?- indagou Lúcius olhando para Azrael como se fosse a primeira vez que o via.

– Sou Azrael, Ceifeiro do Senhor.- começou temeroso.- Mas antes disso fui Azra, humano, filho de Merade.

– Que brincadeira mais absurda é essa?!- bradou Lúcifer se afastando do anjo negro. Ele não conseguia acreditar, todo aquele tempo que esteve procurando pelo filho, ele estivera ali, ao seu alcance...

– Não é brincadeira. Te explico, mas acabe esse acordo e me deixe levar Gwen de volta.- pediu novamente.

– Ninguém vai sair daqui.- rosnou.- Comece a explicar, e rápido. Ela não tem muito tempo.- cruciou Lúcifer.

Anjo NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora