O acordo

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Semanas antes...

Faziam dias que ela não vira mais o Ceifeiro. Gwen terminava de arrumar sua coisas na bolsa, a bolsa de Azrael também estavam ali. Ela arrumara com a esperança de trazê-lo de volta.

– Pronto, morena?- perguntou Joe na porta do quarto.

A jovem balançou a cabeça e saiu carregando as duas bolsas. Iria para Pittsburgh ficar na casa do mecânico. Eles tentariam encontrar alguma forma da mulher fazer o que se desejava. Eae não auxiliou, e ela compreendeu. Não iria arriscar que o Pai expulsasse o irmão que estava a ajudando.

O Mestiço foi com sua moto até o apê de Mandy. Ela iria junto para conhecer a oficina. Joe pediu que a loira os seguisse pois Gwen não estava bem para fazer alguma coisa.

De Yorkville até a oficina, foram três dias sem desvios, nem encontro com demônios, apesar do homem sentir que eram observados.

Mandy não conseguia entender nada do que os dois falavam. Joe não contara a ela sobre ser Mestiço, talvez ela não entenderia, ou era medo do que ela pudesse pensar de si.

****

Ouriel tinha o maxilar apertado enquanto escutava as ordens de Lúcius.

– Vai dar ouvidos a Ira?- argumentou para o loiro.- Ela está irritada por ter falhado na missão.

– Eu sinto que há algo nessa história que não se encaixa....- murmurou Lúcius.- Na hora em que ela me falou, eu não liguei um ponto ao outro porque estava irritado pela conversa com Miguel.- comentou.- Mas eu senti um pequeno tremor naquela noite. Foi rápido, mas forte. E se é um Ceifeiro quem fez isso, quero ele junto do meu exército. E caso seja um humano, quero vê-lo.- o caído mantinha o olhar pensativo.- Mas, o que me intrigou, Ouriel, - retornou o olhar para o outro.- foi encontrar Listh em um cemitério, junto de um Mestiço e Eae, onde eu sentira a energia de Miguel. Eu sei que você sabe o que Listh fazia ali.- afirmou parando seu rosto duro perto de Ouriel.- Diga-me.- exigiu tensionando o maxilar.

– Um...Ceifador, invocaria um Benevolente.- rosnou as palavras com as asas enrrigecidas.

– E para quê?- estranhou.

– Misericórdia.

– E qual é o nome desse Ceifeiro? Por que ele não está em Neraka com os outros?

– Não sei o nome. A humana que está com a alma de Listh o chama de Áz.- informou quando o loiro se afastou.

– Áz....não me recordo de nenhum caído com esse nome.- divagou.- Humana...Ceifador....Seriam essa a dupla que Ira me dissera?- se questionou.- Quero ver esse Ceifador.

– Isso vai ser díficil.- disse se lembrando da conversa que tivera com Eae.- Miguel levou o Ceifeiro para Firdaus.

– Por que?- estranhou.

– Isso eu não sei.- Ouriel também ficara intrigado quando Eae lhe contara o que houve no cemitério.

– Hum, você não. Mas, Listh sabe.- sorriu de lado alçando voo.

Ouriel ficou estático até compreender onde o loiro iria. Ele também se elevou na intenção de encontrar Listh antes de Lúcius. O que era impossível. O loiro, junto de Miguel, eram os melhores arcanjos que existiam.

***

Gwendolin estava deitada na cama, encolhida numa posição fetal. Os olhos estavam vagos, e fitavam o nada. O sol já nascera, e ela não dormira nada. O som alto de algo batendo no carpete do quarto a atraiu. A presença do loiro enchia o ambiente.

– Lúcius?- sua voz saiu rouca.- O que faz aqui?- inquiriu sentando-se.

O caído a fitou analisando suas feições. Por mais diferente que aquela humana fosse da Listh, o jeito decidido e desconfiado de olhar eram os mesmos.

– Quero saber sobre o Ceifador que Miguel levou para Firdaus.- disse._ Por que Miguel fez isso?

– Por que esse interesse?- rebateu erguendo a sobrancelha.

– Miguel levou um dos meus para Firdaus. Quero saber o motivo, irmã.- dissimulou.

– Não te interessa porque Miguel fez isso.- resmungou fungando. A imagem de Miguel sumindo com o anjo negro ainda a deixava vazia.

– Está com...saudades, irmã?- Gwen olhou para o louro.- Com saudades desse Ceifeiro?- o caído ainda permanecia no mesmo lugar que pousara. Era notório a angustia que estampava no rosto da morena. Ele sabia bem o que era sentir saudades. O peito comprimia a cada segundo.- Entendi.- falou vendo os olhos dela brilharem.

– Não! Você não entendeu! Você não sabe o que é sentir falta de alguém, Lúcius!- bradou derrubando algumas gotas.- Você só pensa nessa briga com o Pai e Miguel!

– Continue. Gritar comigo não acabará com a dor.- comentou com desinteresse.- Você acha que sabe algo sobre mim, mas não sabe nada, irmã. Aposto que nem sabe o motivo de minha 'briga' com o Pai.- pontuou.- Me foi levado pelo Senhor, algo precioso para mim também. Assim como Miguel levou o anjo da morte, o Pai me levou...algo.- engoliu em seco.

– Como assim?- desconfiou.- O que Ele poderia ter lhe tirado?

– Acha mesmo que contarei assim, fácil?- debochou o louro.- Diga-me o que quero saber que lhe conto o que queres saber.- propôs.

Gwendolin mordeu o interior da boca para controlar a curiosidade. O que teria o Pai tirado de Lúcius para que o arcanjo iniciasse uma guerra?

– Áz queria Misericórdia. Não queria voltar para Neraka.- murmurou depois de um tempo.- Áz é bom, não entendia o porque dele estar no inferno.

– Alguma coisa ele deve ter feito para isso...- cruciou o loiro dando os ombros.

– Não de acordo com Miguel.- disse pensando nas coisas que o Celeste dissera antes de levar o anjo negro. Azrael era um alado desde o nascimento, e que o pai dele estava em Neraka...

– O que Miguel disse?

– Eu preciso sair. Tenho de encontrar uma forma de entrar em Abismus e trazer Áz de volta.- informou saindo da cama e pegando sua bolsa. O loiro não iria dizer nada e só a irritava com aquela conversa.

– Você sabe que as únicas formas de entrar na fronteira é se um demônio a levar, ou se você morrer, Listh.- pontuou.

– Deve haver outro jeito que desconheço.- rebateu pronta para sair da presença do caído.

– Talvez eu possa te ajudar, irmã.- falou.- Te levo até lá para que resgate o Ceifeiro.- a morena ergueu a sobrancelha em descrença. Lúcius nunca fazia nada sem segundas intenções.- Em troca, os quero junto na batalha contra o exército de Miguel.

– Jamais me juntarei a você!- afirmou ofendida.- Me calei antes por medo. Mas agora, qualquer coisa que você faça contra mim, não me lembrarei na próxima vida.- deu os ombros.

– Tudo bem. Quando se cansar de procurar algo que sabemos não existir, sabes como me encontrar.- comentou subindo e sumindo através do teto.

Nesse instante o celular da mulher tocou. Era seu chefe.

– Sr. Von.- saudou sem animo.- Sim, tenho três quartos da tradução prontos.- informou.- Acredito que mais um mês termino e lhe entrego. Tudo dentro prazo que o cliente pediu.- ela ouvia o chefe falar sobre os novos projetos, mas a moça não prestava atenção.- Até mais sr. Von.- se despediu depois que ele terminou. Mal desligou o aparelho tornou a tocar. Matt.- Oi Matt.

"Gwendolin! Por que não me dá notícias a duas semanas?!"- bradou o ruivo.

– Andei ocupada, Matt.- retrucou cansada.

– Já se livrou do 'anjo'?

– Matt! Isso não é educado de se dizer!- ralhou.- Olha, preciso sair. Mais tarde te ligo.- ofereceu antes de desligar.

– Vai sair para onde, morena?- perguntou o homem na porta do quarto desta.

– Vou comprar umas coisas...- se esquivou colocando algumas coisas em sua bolsa.

– Quem estava com você aqui?- inquiriu arqueando a sobrancelha.- Mandy disse que ouviu você discutindo com um cara, mas que não viu ninguém subir nem descer...ou seja, era algum dos seus 'amigos' com asas.- continuou vendo-a se calar.

– Era Lúcius...- murmurou depois de um tempo.

– O que?!- gritou o homem.- Você ficou louca, Gwen?! Trazer o próprio diabo a minha casa!

– Acredite, Lúcifer entraria aqui se assim ele desejasse.- refutou a morena.

– E o que ele queria?- questionou desconfiado.

– Discórdia. É só o que Lúcius quer, discórdia.- resmungou agitada - Ele queria saber por que Miguel levou Áz para Firdaus... Só sabe exigir! Como se eu ainda fosse uma...subordinada dele!

– Morena.- Joe chamou se gurando-a pelo ombro.- Está tudo bem? O que o...Lúcifer te fez?

– Não fez nada, Joe.- a mulher olhou para o amigo.- Ele quer que me una a ele na batalha que vai ter.- confessou angustiada.

– Batalha? Que batalha?- se espantou o mecânico.

– Anjos e demônios. Céu e Inferno.- explicou repassando sua decisão.

– O apocalipse?- indagou pasmo.

– Não, Joe.- riu a morena.- O apocalipse é uma fantasiosa história da mudança que o Pai fará na Terra*. Lúcius não se importa com o que vai acontecer com a Terra. Ele quer algo além...algo...- divagou.- Ele vem brigando com Miguel desde sempre.- lamentou-se pegando sua bolsa.- Tenho de ir comprar umas coisas. Itens femininos.- informou antes do moreno se prontificar a acompanhá-la.

***

Ouriel encontrou Gwen andando por uma rua em Pittsburgh. Parecia compenetrada em seus próprios pensamentos. Se aproximou convertendo sua túnica em trajes humanos.

– Listh!- chamou sem ser atendido.- Gwendolin.- retornou. A mulher o olhou.

– Ouriel.- cumprimentou com um sorriso fraco.- O que faz por aqui, e com essa roupa?- riu vendo-o de jeans e camisa polo.

– Tenho de falar com você, e me misturar.- disse.- Lúcius te procura.

– Eu sei. Estive com ele a pouco.

– Tentei avisar antes, mas ele é poderoso demais.- se desculpou sem graça.- Ele quer o Ceifador e você ao lado dele...

– Eu sei.- suspirou resignada.

– Claro que não se juntarão ao ideal dele.- afirmou andando junto dela. Notou o silêncio da morena, porém, não disse nada. Julgou que ela estava com algum conflito pessoal.- Se precisar de qualquer coisa, conte comigo.- ofereceu sentindo Lúcius lhe chamando.

***

Gwen havia passado dias tentando encontrar uma forma de buscar Azrael, no entanto, não encontrara nenhuma solução. E pensar na decisão que tomara, a assustava. Ela não queria ter de recorrer aquele trato, não queria pedir favor algum a Lúcius...mas a angustia de não saber o que aconteceu com o Ceifeiro, a torturava. A falta que ele fazia era grande demais para suportar.

– Lúcius.- murmurou quase querendo retirar o chamado. A arcanjo loiro apareceu segundos depois. Um minimo sorriso curvava os lábios dele.- Eu aceito sua proposta....Lúcifer.

Anjo NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora