Punição

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Puriel esperava à beira do abismo de Neraka. Ali era onde ficava a fronteira entre Firdaus e Neraka, céu e inferno. Anjos não poderiam passar para Neraka, demônios não podiam ir para Firdaus. Mas, se precisassem, ali era o limite para se encontrar com alguém do outro lado. E Puriel, estava à espera de Zachriel, o anjo das memórias. Precisava ver se ele já havia tranformado as lembranças do humano que Azrael falou.

A luz vinda de Firdaus era quase cegante, e os sons dos querubins cantando era irritante aos ouvidos de Puriel que esquecera o gosto pelos cânticos celestes.

- Anjos, nunca pontuais.- bufou estreitando os olhos para focalizar a silhueta de alguém se aproximando.

- Chegamos, quando devemos chegar. Sabes disso Puriel.- informou um anjo de pele alva, cabelos loiros, olhos cinzentos, nariz longo e de ponta fina.

- Poupe-me desse discurso e diga logo o que quero saber Zachriel.

As vozes eram diferentes. Puriel tinha a voz grossa e falava calmo, a de Zachriel era sereno em tudo, no modo de falar, olhar e andar.

- Você costumava ser gentil.- disse retirando de sua túnica amarela, um saquinho de onde tirou um punhado de pó e soprou no ar cantarolando um cântico na língua dos anjos.

Uma neblina os envolveu, modificando o cenário à sua volta. O abismo, a fronteira, a luz celestial, tudo sumira e se viram em uma rua movimentada.

Azrael estava sentado em um banco. Viram quando uma garotinha tocou nas asas do Ceifeiro dizendo o quanto eram belas.

Viram tudo até a garota entrar no transporte. Puriel estava nervoso. Azrael, além de falar com a humana, deu lhe um pedaço de si. Falta gravíssima, digna de expulsão para o tormento.

- Não modificou a mente dela?- Puriel disse entre os dentes.

- Você não viu? Ela é abençoada pelo dom. Mesmo que eu quisesse, não conseguiria mexer em suas lembranças.- Zachriel sorria.

Puriel deu as costas ao anjo e retornou para dentro de Neraka tenso em fúria. Azrael precisava pagar pelo que fizera. Já tinha em mente o castigo, entretanto precisava de autorização.

Voou por Neraka à procura de um arcanjo. Neraka era escura, iluminada pelos fogos que saiam das rachaduras do solo erosido. Um campo deserto, com árvores secas em algumas partes aqui, outras ali.

Encontrou o arcanjo que comanda os domínios daquele teor. Desceu ao seu lado.

-Ouriel, tem um minuto para me atender?- indagou vendo-o supervisionar o trabalho das almas perdidas.

- Seja rápido.- Ouriel era mais alto do que todos ali. Ele era um daqueles que fora banidos de Firdaus com Lúcius. Puriel perto dele, parecia uma criança de cinco anos.

As asas de Ouriel eram de penas que se assemelhavam aos de uma águia. Seus cabelos eram longos e sedosos.

- Quero permissão para punir severamente um Ceifeiro.

- Qual delito?

- Além de falar com um humano, deu à este, parte de sua asa. Peço que me deixe retirá-las como punição.- olhou para cima esperando resposta.

- Faça como quiser.- concedeu indiferente antes de chicotear uma alma.

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Os ferimentos de Azrael estavam cicatrizadas. Em Neraka o tempo é diferente, o que pode parecer horas, podem ter sido segundos, ou minutos, até mesmo dias....

O único que saberia dizer o tempo exato seria Sraosha, anjo que define o movimento do mundo. Mas ele fica em um lugar de onde ele pode ver o tempo junto com Umabel que rege os astros.

Anjo NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora