Em casa

9 1 0
                                    


- Você não pode lutar ao lado dele Gwen!- bradou Azrael.


- Eu sei, anjo. Não quero fazer isso. Mas o trato não me dá outra alternativa...- se lamentou. Olhou para o loiro que estava sentado na cama.- Como você está?- perguntou se juntando a ele.- Digo, como foi ver...ele?

- Estranho.- as asas cintilantes estavam encolhidas.- Ver em imagens é diferente em vê-lo de perto.- murmurou.- Não quero que saiba quem eu sou, Gwen.- seus olhos eram suplicantes.

- Não me cabe dizer. Porém, se Lúcius fez o que fez porque o Pai tirou tanto você quanto sua mãe dele, se ele souber, acaba essa guerra.

- Ou desencadeá-la.- pontuou o Ceifeiro.


****


Lúcius estava de pé em um rochedo localizado nas montanhas. Olhava o horizonte pensativo. Quanto tempo estava ali? Minutos, horas...o loiro não sentia o tempo passar. Seus olhos verdes vagos mostravam o quanto estava pensativo. A visita que fizera a sua irmã onde encontrara o Ceifador. O que lhe intrigava era que o anjo da morte estava mais pra Celeste do que demônio. Mesmo que alcançasse a Misericórdia, demoraria para que adquirisse asas brancas. Teria de ser purificado. Alma branca.

Não fazia sentido, pensava Lúcifer. Por que estaria purificado? Teriam algum interesse no anjo da morte? O caído não conseguia ver que utilidade o Ceifeiro teria para o exército de Miguel. E pra piorar sua inquietude, não conseguia entender como nunca vira aquele anjo antes e mesmo assim lhe era familiar.

Com um suspiro resignado, o louro desceu da montanha para se juntar aos seus generais, Ouriel, Dumah, Leviatã e Raabe estavam o esperando para que soubessem onde deveriam posicionar as tropas na batalha.

Lúcius olhou para cada um e parou em Ouriel. O arcanjo moreno saberia de algo a respeito do Ceifeiro purificado?

- Ouriel.- acenou para que o caído se aproximasse. Conduziu para um lugar mais afastado.- Fui ver Listh hoje. E vi também o Ceifador.- Ouriel o fitava esperando que este concluísse.- Algo me intriga e me inquieta...ele é um Celeste.- informou ainda desconcertado.

- Isso é impossível, Lúcius.- pontuou.

- Pense bem.- pediu o loiro.- Por qual motivo levariam um Ceifeiro para Firdaus sem antes purificá-lo?

- Mas como você mesmo disse, era um Ceifeiro. E ele buscava por Misericórdia. O pouco que vi dele, era um anjo da morte diferente. Muitas vezes me perguntei se era realmente um Ceifador...- comentou Ouriel.

- Eu sei bem quem tem as respostas pra isso.- resmungou o loiro.- Irei onde ele sempre está.

- Mas Miguel não vai nos dizer...

- Ele não pode mentir. Só tem de ser feita as perguntas corretas.

- E se ficar calado?

- Minha fúria e curiosidade aumentarão o embate da guerra.


***


Ao entrar no apartamento, Gwendolin espirrou se arrepiando. Deixou a bolsa cair no chão e foi abrir as janelas para ventilar o lugar.

- Tenho de mandar limpar esse apartamento.- comentou quando o anjo negro entrou e ondeou a mão tirando a ilusão que escondia suas asas.

A morena decidira retornar para sua casa. Não adiantaria ficar em Pittisburgh, salvo que Lúcius a encontraria onde quer que estivesse. Então, preferiu retomar suas atividades. Sr. Von ligara lembrando-a do congresso na Itália de novos escritores que deveria ir para poder estudar as estórias que estavam tendo maior repercussão para serem traduzidas e publicadas.

Estavam desfazendo as malas quando a campainha tocou incessantemente. Se olharam estranhando até ouvirem uma voz chamando pela morena.

- Matt.- entoaram juntos indo abrir a porta.- Vai comprar uma sineta nova, Matt.- continuou a moça ao ver or ruivo.

- Gwen? É você mesmo?!- ofegou abraçando forte a amiga.- Achei que nunca mais iria te ver.- murmurou soltando-a.

- Oras, e por quê?

- Você sumiu com um estranho, seu telefone sempre caía na caixa postal, o que queria que eu pensasse?- disparou entrando no apartamento e se deparando com Azrael e suas asas cintilantes.- Mas o que...?- estancou se virando para a jovem.- Não se livrou dele? E que coisa é essa?- apontou para as grandes asas.

- Matt! Não pode falar assim com Áz.- repreendeu abraçando o loiro.- Nos deixe a sós.- pediu ao loiro que concordou beijando-a antes de ir para o quarto.

- O que foi isso, Gwen?- o ruivo questionou pasmo.

- Isso o quê?

- Isso. Esse...beijo.- falou gesticulando com as mãos.

- Foi o que viu. Um beijo.- rebateu pegando o amigo e levando até o sofá para se sentarem.- Tem certas coisas que ninguém pode saber. Mas vou te contar porque és meu melhor amigo, Matt. Só quero que nossa amizade continue a mesma.- rogou.

- Gwen, sempre vai ser a mulher da minha vida.- pontuou notando-a tão frágil. Viu ali a menina que conhecera quando criança, que não o julgou ou repudiou por ser um nerd ou esquisito.

- Áz não é um caído, é um Celeste.- começou a moça.- E eu também sou uma.

- Como assim, você é uma Celeste?- se espantou.- O que é isso?

- Celeste são os seres que vivem no "Céu". Eu era uma, mas por infringir regras, fui condenada a Terra. A uma vida terrena. Viver, morrer, reencarnar...

- E por que não me contou isso?- o ruivo soou magoado.

- Eu não sabia. Minhas memórias da vida Celeste e as outras que vivi como humana foram bloqueadas. As retomei a pouco tempo.

Matt era cético quanto a casos sobrenaturais. Acreditava em Deus, mas somente isso. Porém, não podia negar que vira as asas do louro e que tais eram bastante reais.

- Você se lembra de todas suas vidas passadas?- indagou o homem.

- Sim. Mas tento não pensar nelas. Ou ficaria louca.- riu sem humor.

- E como se envolveu com o loiro tingido?- murmurou acenando para onde o anjo negro fora.

- É loiro natural, Matt.- ralhou estapeando o amigo.- Aconteceu.- deu os ombros.- Quando vi, já estava gostando dele mais do que deveria.

- É...recíproco?

- Eu acredito que sim.- assegurou lembrando das coisas que passaram juntos durante os meses que seguiram desde a saída daquele apê.

- Gwen, e agora?- perguntou preocupado.

- O que?- estranhou.

- Está...se relacionando com um... Celeste, não é? Não tem uma lei, regra ou sei lá, que proíba esse tipo de envolvimento?

Era verdade. Anjos não podiam se envolver com humanos. Não que outros sigam a ordem de não fazerem isso, mas as punições eram variadas. No entanto, Azrael estava ali e nada tinha acontecido. E pelo que o Ceifador dissera, o Senhor tinha planos para ele.

- Há proibições...mas Áz é uma peça importante nos designos do Senhor.- a morena não achou necessário contar de quem o loiro era filho. Matt aceitara bem aquelas novidades, mas saber que Áz era filho de Lúcifer, e que ela própria tinha feito um acordo com o tal, seria demais pra cabeça ruiva.

Quando ao amigo se fora, retornou ao quarto. Áz, que a esperava na porta a puxou girando-a em seus braços a prendendo de costas pra si.

- Como podes duvidar do que sinto por ti?- murmurou em seu ouvido.

- Ouvindo conversa alheia, Áz?- reprendeu rindo.- Não duvido do que sente.- afirmou sabendo do que ele falava.

- Soou como dúvida pra mim.- cruciou o alado.

- Nunca duvidei de nada referente a você, anjo.- pontuou se virando para olhá-lo.- Desde que o vi, soube que era bom. E se diz que gosta de mim, acredito cegamente.

- Eu não disse que gosto de você.- ergueu a sobrancelha de fios claros.- Amo você, Gwendolin. Amo você.

Anjo NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora