Cap 2 - Tarde demais

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Fora da igreja, Dino me empurrou forte pela escadaria, mas consegui evitar a queda. Já ao pé das escadas, ele veio para cima de mim novamente e segurou o colarinho da minha camisa xadrez velha com força capaz de arrancá-la com facilidade. As pessoas na entrada da igreja já não se importavam mais com a missa de sétimo dia do Pedro.

Fechei meus olhos esperando que um soco fosse me acertar a qualquer momento.

- Tira esse sorrisinho da cara, Caio!

- Desculpa...

Ajeitei meus lábios, que ainda teimavam em sorrir pela minha coragem, e aguardei de olhos fechados que ele fizesse qualquer coisa. Depois de bufar feito um rinoceronte a menos de um palmo de distância do meu rosto, ele me soltou. Quando abri meus olhos, pude vê-lo andando de um lado ao outro com uma mão na cintura e a outra dando apoio para a testa.

- Cê acha mesmo que tá certo brincar numa hora dessa, rapaz?

- Já foi, Dino...

- Não sei quem te ensinou a ser desrespeitoso desse jeito.

Dino era uma cópia do meu pai e, como tal, substituía o velho nos sermões e castigo. Cresci sendo obrigado a obedecê-lo. Violento, fez com que eu aguentasse calado várias surras pelos motivos mais bobos. Por mais que nunca tenhamos trocado nenhum afeto, eu procurei respeitá-lo. Muitas vezes também quis ser como ele porque entendia que era mais homem que eu. Se ele era violento comigo, com a namorada não era diferente. Quando meus pais viajam, ele levava a garota para casa. No meio da noite, eu os assistia pela janela do quarto enquanto transavam. Dino gostava de virá-la de bruços e transava com ela puxando seus cabelos, enquanto fazia movimentos brutos e barulhentos. Quando queria terminar, virava a garota como uma boneca de volta para ele e com uma das mãos se tocava forte, com a outra batia no rosto dela até que por fim, ele terminava deixando o abdômen dela todo sujo. Quando meu irmão me pegou espiando, levei uma surra que me obrigou a ficar três dias sem trabalhar com meu pai . Se antes eu achava que ele era o tipo de cara que eu deveria ser, agora eu o via mais como bicho do mato que homem de verdade.

Desta vez, saquei que ele não me bateu porque não quis acreditar nas minhas palavras na igreja. Me bater significava aceitar. Preferiu entender que eu estava apenas brincando com a cara de todos.

Respirei fundo. Eu estava inacreditavelmente em paz.

- Irmão - falei - eu não quis desrespeitar ninguém. Só quis dizer o que eu sinto.

- O que... cê... sente, Caio? Por Deus no céu, o que tá falando?

- Que você deveria respeitar meu luto, Dino. Eu perdi o cara que eu amo. Eu só queria fazer uma homenagem.

- Caio...

Dino veio pra cima de mim novamente e eu gelei. De qualquer forma, me sentia preparado para aguentar o que quer que fosse.

- Fecha os olhos. - Dino disse baixo bem perto do meu ouvido.

Antes que eu tentasse entender o pedido, recebi um soco do lado direito do rosto. Com a força, meu corpo rodopiou e eu caí.

- Tá perdoado, Caio, mas nunca mais brinque assim, moleque. - gritou meu irmão.

- Hã?

Estava confuso e o rosto ardia, mas logo vi as pessoas saindo da igreja e meus pais se aproximando. Então me dei conta do que Dino estava fazendo.

- Pai, mãe... O Caio já teve uma lição, mas ele tá arrependido da piada. Mas até que foi engraçado, né não? Esse meu irmão... - Dino forçou uma risada e foi completamente ignorado.

Meus pais passaram por mim caído no chão e em nenhum momento me olharam.

- Vamos pra casa. - ordenou o velho com visível fúria.

Meu irmão me ajudou a levantar e tirar o pó da minha roupa

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Meu irmão me ajudou a levantar e tirar o pó da minha roupa. Tarde demais, eu descobri que ele havia se tornado um verdadeiro homem do qual eu poderia me orgulhar.

- Cê conhece o pai. Daqui a pouco ele se acalma.

- Valeu... Mas precisava do soco?

- Deixa de ser molenga e vamos pra casa.

Dino passou um dos braços pelos meus ombros e caminhamos abraçados. Eu não tinha parado para calcular como as pessoas reagiram quando eu fizesse minha homenagem ao Pedro, mas sabia que não dava para ter tido mais sorte.

Olhei para o meu pai e, de repente, era como se ele fosse um estranho para mim. Minha mãe também. Sentia que todos nós não éramos mais os mesmos e não me agradava a ideia de voltar para a casa. Sei que não havia mais lugar para mim.

- Dino, eu vou embora.

- Eu também ué. Acabou a missa.

- De casa... dessa cidade. Eu vou cair fora.

- Você não quer esperar o pai te expulsar primeiro?

- Você não entende, Dino...

Ele não faria isso. Daquele dia em diante, meu pai ficaria dias sem falar comigo e obrigando o Dino a me passar os trabalhos mais pesados. Eu obedeceria calado fazendo planos de uma vida melhor na capital.

Meus últimos dias na cidade, passei os fins de tarde no riacho onde costumava ir com o Pedro. Nadava nu e depois me masturbava. Era meu único momento de paz. Ao voltar só pensava que não via a hora de estar bem longe dali.

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Oi, pessoal! Estão gostando do Caio? No próximo capítulo, ele vai conhecer alguém com quem iniciará uma amizade um tanto polêmica. Deixem seus comentários e votos! Vou adorar conhecer a opinião de vocês. :)

Com amor é mais caro (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora