"Rolou. Tô dentro!"
Mandei uma mensagem para Gabriel assim que recebi o e-mail com a notícia de que a faculdade havia me aceitado. Eu tinha a sensação de que tudo tendia a dar certo. Não que eu fosse pessimista, mas a sequência de coisas horríveis pelas quais eu havia passado estavam quase me fazendo desistir.
Liguei para meu irmão Dino pedindo auxílio. O dinheiro que levei para me virar nos três primeiros meses já havia acabado, e estava segurando ao máximo a grana que o Nil me passou por aquele serviço de entrega ao Colomba. Quatro meses foram embora e nada de trabalho. "É a crise, desculpe", diziam para mim. Pessoas da minha idade já faziam estágio, mas minha experiência era apenas com a roça. As opções se tornavam bem limitadas. Para meu irmão, nada disso importava.
- Que é isso de mandar dinheiro o quê, homem? Já ajudei até demais depois da semvergonhice lá na igreja. Não quis se mandar pra capital e ficar bacana? Então se vire.
Desliguei sem ter como rebater uma verdade - era problema meu. Também não contei sobre o que houve com Moira. Imaginei meu pai dizendo "Caio levou a tragédia pra casa da moça". Caso ele pensasse isso mesmo, não sei o quanto equivocado ele realmente estaria.
" Estou orgulhoso de você, Caio"
A mensagem que chegou do Gabriel me arrancou um sorriso. Tirei uma selfie segurando o pau por cima da cueca e mandei para ele com a legenda "minha forma de te agradecer".
Rolei para fora do meu colchonete e fui me arrumar. Saindo do quarto e indo na direção do banheiro, resolvi passar pelo quarto da Moira e ver como ela estava. Ao abrir a porta, vi Moira deitada e imóvel com olhos temerosos. Nil estava em pé ao lado da cama segurando um travesseiro que ia sendo levado na direção do rosto de Moira.- Nil?! - gritei assustado.
Ao me ouvir, Nil levantou a cabeça de Moira e colocou o travesseiro atrás.
- E aí, cara. Tá gritando por quê?
- Foi mal... Tava só te procurando, porque tá na hora da hidratação da sua irmã. - falei, respirando aliviado.
Por um instante, pareceu que Nil cometeria uma loucura. Não sei se interpretei errado ou se cheguei a tempo de impedir. Dali em diante, comecei a ficar mais atento com Moira. Eu não sabia nada sobre como lidar com o estado dela, mas Nil sabia menos. Desisti de sair para passar a tarde pesquisando sobre os cuidados com pessoas em estado vegetativo. Limpar, injetar nutrientes e líquidos, mudar constantemente sua posição, trocar sonda, vestir, acompanhar temperatura.
Os pais de Moira e Nil eram idosos e viviam no interior. Para Moira seria melhor permanecer na capital para caso de precisar de atendimento emergencial. Alberto tinha dinheiro e prometeu dar o suporte necessário. Mas haviam alguns procedimentos e decisões a serem tomadas para garantir que Moira tivesse assistência do governo, fisioterapia e todo o cuidado do qual ela necessitava. Tudo aquilo parecia algo que eu poderia cuidar. Não sei se movido pelo medo de descobrir minha responsabilidade na tragédia na igreja, por compaixão ou certeza de que Nil não sabia cuidar nem de si, mas eu estava convencido de que precisava me envolver.
***
Era noite quando me arrumava para encontrar meu amigo Bruce. Ele queria encher a cara e reclamou que há dias eu não lhe dava atenção. Estava mesmo com saudade dele. Bruce era lindo, divertido e carente. Eu não conseguia ser completamente indiferente ao estilo de lutador de luta livre. Pensava em como ele se saía na cama. De tanto programa, deveria ter experiência o suficiente. Guardei esse fetiche para mim, porque não queria estragar nossa amizade.
O plano de encontrá-lo falhou quando Nil me disse que estava de saída.
- Nil, eu já tenho compromisso. Não posso ficar com a Moira.
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Com amor é mais caro (Completo)
RomanceUma história envolvente, com reviravoltas de tirar o fôlego! Acompanhe a intrigante trajetória de um jovem vivendo os perigos e os prazeres da noite. Tendo que se virar na capital, o impulsivo Caio não pensará nas consequências das suas escolhas par...