Cap 8 - O disparo e o eco

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Colomba usou o dorso da mão para limpar o sangue que chegava em sua boca. Raivoso, pressionava o cano do revólver na minha cabeça. Aquele click que ouvi eu já sabia bem o significado: a arma estava destravada. Já esperando pelo pior, Fechei os olhos, mas ouvi a porta da sala escura se abrir atrás de mim.

- Colomba, esse desgraçado é meu! - gritou a voz que reconheci de imediato.

- Cai fora, Bruce. - ordenou Colomba.

- Colomba, com todo respeito - disse Bruce -, mas eu tenho algo a acertar com esse infeliz. Se alguém vai matar o filho da puta, tem que ser eu. Essa porra aí é meu cliente e tá me devendo grana alta.

- Então já resolvemos com o boludo hijo de puta ahora.

- Não. Prefiro longe daqui, Colomba. Vai dar trabalho limpar os miolos desse merdinha. Eu faço o serviço e sumo com o corpo pra você. O que acha? Eu tava doido por esse acerto. Me dá o prazer de eu mesmo dar fim nesse moleque?

Eu não olhava para Bruce, mas já havia entendido o que estava fazendo por mim. Meu peito sufocava o coração que batia a ponto de explodir. Colomba ficou pensativo por alguns instantes, hesitou e depois afastou a arma da minha cabeça.

- Usted se livra dele e não deixa rastro. - falou Colomba, limpando o nariz com um lenço.

- Acho que precisa de um médico, Colomba. - Bruce se aproximou de Colomba demostrando preocupação.

- Estoy bien... Quem não vai ficar nada bien és o Nil... Voy procurar por ele hasta el inferno. - Colomba rangia os dentes para falar. - Sai logo daqui, Bruce.

- Claro... Claro... Indo!

Bruce puxou meu colarinho com raiva e me conduziu para fora da sala. Por um instante, recordei o dia na missa do Pedro, quando meu irmão tentou aliviar meu lado com a família. Bruce estava fazendo igual e aquilo se tornou uma dívida eterna. Algumas pessoas nos fazem ter certeza sobre a existência dos anjos. Sem asas, sem efeito especial... Apenas um ato de proteção quando - e de quem - menos se espera.

...

A madrugada avançava e eu estava exausto. Havia experimentado muita emoção para aquela noite que iniciou com um pastor agindo como um imbecil enquanto transávamos, culminando em minha expulsão do apartamento e, por fim, um traficante e dono de puteiro que teria me matado, não fosse um garoto de programa me salvar.

No carro do Bruce, eu comia um CBO do McDonalds quando comecei a rir disso tudo.

- É sério que você tá rindo, gayzão?

- Ainda não caiu a ficha, Bruce... Parecia que eu tava dentro de um filme.

- Colomba não tava brincando. Esse cara é treta pesada. Era pra você tá lá no inferno agora, sendo recebido na ala dos gays banidos do céu.

- Valeu pelo que fez, Bruce.

- Por nada, Caio. Agora sou o teu herói, donzelinha. Espalha isso por aí que favorece meu currículo e cobro mais caro no programa. Pronto pra ir pra casa?

- Não vai dar. A dona do apartamento me expulsou e não posso encontrar o Nil sem a grana dele.

- Expulso? O que você fez, Caio?

- Provoquei o diabo... Me dei mal.

- E qual é a desse Nil? Ele que te mandou aqui?

- Isso...

- Liga pra ele.

- Não posso, Bruce.

- Pode. Liga e diz que quer entregar isso aqui... - Bruce enfiou a mão na calça e puxou o bolo de dinheiro que Colomba havia deixado sobre à mesa. - Você entrou numa furada e precisa aprender a pensar rápido. Se deixasse a grana lá, você deixaria de morrer na mão do Colomba pra morrer na mão de quem te enviou.

Com amor é mais caro (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora