Cap. 16 - Bem-vindo

4.2K 497 103
                                    

Já era próximo do meio dia quando Gabriel e eu caminhávamos pelo campus da faculdade ao término do meu primeiro dia de aula. Havia tanto para pensar que eu mal prestava atenção ao que ele me dizia. Suas falas eram sempre interrompidas por seus alunos que o cumprimentavam. Percebi o quanto era querido, embora não fosse difícil perceber isso logo de cara.

- Responde, Caio.

- Desculpa, Gabriel, não ouvi. - eu estava distraído como sempre.

- Aconteceu algo ontem? Queria tanto ter te visto. Fiz risoto pra gente.

Eu não tinha pensado numa explicação. Dizer que havia estado em um pub cujo lugar rola esquema pesado de prostituição e tráfico? Não. Eu não poderia. Principalmente pelos meus motivos. Não era certo envolvê-lo nas minhas ideias tortas. Além de perigoso, tampouco queria julgamentos.

No dia anterior eu havia dado um passo arriscado. Precisava achar o Nil, precisava fazer justiça pela morte daquele menino na igreja e precisava de grana pra cuidar da Moira. Nada me impediria de levar minha decisão a diante, porque entendia simplesmente como a única coisa certa a ser feita.

Até então, eu havia cometido uma sequência de atos impensados. Fiz Moira sofrer ao me ver com seu noivo, levei dor para aquelas pessoas na igreja ao aliviar minha barra com o Colomba e nem mesmo Nil escapou. Nunca ignorei a culpa dele também, mas isso não me fazia me sentir melhor, muito menos absolvido pelos erros que eu cometi.

Aquele turbilhão de sentimentos me levou ao Colomba mais uma vez. Bruce teve medo de que eu fosse reconhecido, mas isso não aconteceu. E foi assim que e eu me vi dentro do esquema. Eu me tornei, na noite anterior, um dos meninos do Colomba. Era caminho sem volta.

Eu precisava tentar. Se falhasse, não havia muito a perder. Na verdade, eu tinha, mas demoraria a me tocar disso.

- Ontem? - dissimulei. - Eu tive alguns contratempos. Foi mal, Gabriel.

- Mas tá tudo bem?

- Tá sim.

- Como foi seu primeiro dia de aula?

- Foi legal. Ainda não caiu a ficha. Tô realizando um sonho e a culpa disso é toda sua.

- Você conquistou, Caio. E Educação Física foi uma ótima escolha. Tenho certeza de que vai se dar muito bem.

- Vou me esforçar. E o que tinha pra me falar ontem?

- Ah pois é. Ainda tenho. Caio...

A fala do Gabriel foi interrompida por uma aluna que o abordou. Ela queria discutir um livro que ele havia lhe indicado e aquilo parecia que iria demorar.

- A gente se fala mais tarde, Gabriel. - falei, saindo em seguida.

Eu precisava me apressar. Marquei de almoçar com o Bruce e depois ir com ele numa clínica estética. Ele marcou depilação e uma série de frescuras que eu não estava acostumado. Meu corpo nunca precisou de muita coisa nesse sentido. Era no sol quente da roça, enquanto capinava terreno, que eu me bronzeava. Era trabalhando pesado que defini meu corpo. Embora também já não tivesse muito pelos, os que existiam não me incomodavam. Mas seria tudo diferente a partir daquele dia. Eu teria que me cuidar, porque eu era um produto numa vitrine e precisava saber fazer o jogo direito. O problema era o custo de tanto cuidado. O dinheiro que ganhei do primo do Alberto, que eu considerava uma grana alta, acabaria naquela segunda-feira.

Algumas horas mais tarde, estávamos na clínica que atendia ao Bruce há anos. A esteticista fazia uma espécie de massagem de drenagem em seu abdome e eu estava deitado numa plataforma ao seu lado deixando que um rapaz usasse laser para depilar meu peito.

Com amor é mais caro (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora