Lembro quando o Pedro e eu passamos um fim de semana acampados. Éramos adolescentes e já muito amigos, mas não tão íntimos como nos tornaríamos depois. Conseguimos uma barraca confortável e estávamos animados com a experiência. Escolhemos um lugar próximo à cachoeira que era mais afastado de onde outras pessoas costumavam acampar - é que levamos uma cachaça de limão com mel e não queríamos ser censurados por nenhum adulto. Era ainda manhã de sábado quando terminamos de montar a barraca e decidimos fazer uma trilha. Em determinada bifurcação do caminho íngreme, uma placa indicava ser proibido seguir pela esquerda, mas eu não quis obedecer. Pedro brigou comigo e me puxou para avançarmos pela direita. O passeio foi agradável, mas eu permaneci o resto do dia de cara amarrada por ter sido contrariado. Pedro já estava mais que acostumado aos meus caprichos.
Já à noite, sentados próximos da fogueira, Pedro tentou quebrar o silêncio.
- Ainda tá puto comigo, Caio?
- Odeio que me digam pra onde eu devo ir.
- Era proibido, menino grande, e você não queria fazer aquilo. Só quis se aparecer pra mim. Mostrar que era fodão e transgressor.
- Eu realmente queria. Odeio que proíbam qualquer coisa sem explicar o motivo. Se fosse perigoso, o motivo estaria na placa.
- Se não fosse perigoso, não teria placa. - disse Pedro com toda sua paciência comigo.
- Mas eu não queria me mostrar. Eu realmente fiquei curioso de pegar a trilha à esquerda.
- Caio, quando você quer alguma coisa mesmo, não é placa nem alguém dizendo "não pode" que vão te impedir de fazer.
- Você precisa parar de bancar o meu pai, Pedro.
- E você precisa parar de tentar se mostrar pra mim. Não precisa me provar nada. Não importa se você é forte ou corajoso se eu já gosto de você com todos os seus defeitos, menino grande.
Fiquei surpreso com aquelas palavras carregadas de sentimento. Estávamos falando sobre coragem, mas percebi que quem estava tendo coragem de demonstrar sentimentos era o Pedro.
- Entende o que quero dizer, Caio?
- Acho que sim... - falei, depois de virar um gole da cachaça.
- Que bom. É como nós dois. Você é um caminho arriscado pra mim, e ainda assim eu escolho você, mesmo que digam que eu não devo.
- Esse papo tá meio estranho, Pedro. - falei, constrangido. - A gente devia mudar de...
Pedro interrompeu minha fala vindo para meu lado para me oferecer um abraço forte e demorado. Instintivamente, eu chorei com a cabeça encostada no ombro dele.
- Tá chorando por quê? - ele perguntou.
- Sei lá, Pedro... É que, de repente, lembrei das porradas que meu pai me dá vez ou outra, mesmo eu ralando pesado pra agradar todo mundo. De certa forma, achava que a culpa era minha por me esforçar pouco, e que um dia ele poderia mudar comigo, saca? Eu não tinha me dado conta, até agora, de como faz falta um pouco de carinho. Percebi que eu não preciso esperar nenhum amor do meu pai, porque o abraço da única pessoa que me importo é a melhor coisa que alguém pode ter.
Vi lágrimas nos olhos de Pedro que me encarou de um jeito diferente. Nunca mais poderia esquecer daquele olhar iluminado pela fogueira. Num ato impulsivo, ele me beijou. Apesar do susto, eu não o impedi. Com o coração a mil por hora, correspondi o beijo de forma demorada.
Naquela noite, não houve exatamente sexo, mas gozamos com as trocas de carícias. Então eu soube que não importava o caminho que eu escolhesse, contanto que eu estivesse feliz e completo como Pedro me fez naquele fim de semana.
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Com amor é mais caro (Completo)
RomanceUma história envolvente, com reviravoltas de tirar o fôlego! Acompanhe a intrigante trajetória de um jovem vivendo os perigos e os prazeres da noite. Tendo que se virar na capital, o impulsivo Caio não pensará nas consequências das suas escolhas par...