Cap 3 -Sujeito estranho

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- Acho que você sentou no meu lugar.

Falei ao rapaz de toca e jaqueta jeans sentado na poltrona que eu iria sentar. Ele nem prestou atenção, porque conversava com alguém ao celular. Fiquei em pé esperando ele se tocar.

- Tá bom, Melzinha... Ok, Melzinha... Claro, Melzinha... Prometo, Melzinha... - ele repetia sem o menor saco para a pessoa do outro lado da linha.

- Oi... Você sentou no meu lugar. - repeti, educadamente.

- Só um minuto, Melzinha... - o rapaz abafou o telefone e se levantou furioso, deixando braços grandes em evidência para me inibir. - O ônibus tá praticamente vazio e você faz mesmo questão dessa merda de poltrona?

- Eu? Bem... - titubeei. - É, faço sim.

Ele me encarou nervoso, mas saiu para o corredor e buscou sua mala no bagageiro. Procurando um lugar ao fundo, levou o celular novamente ao ouvido.

- Oi, Melzinha. Foi mal... Tinha um bostinha me enchendo o saco. - pude ouví-lo dizer.

Acomodei-me na poltrona e vi os primeiros pingos de chuva baterem no vidro da janela. As luzes alaranjadas da rodoviária davam um aspecto dourado à agua que escorria. Aquela era a cena da noite da minha despedida: chuva e ninguém pra desejar boa viagem.

Dino havia entrado em contato com uma conhecida que morava em São Paulo e conseguiu com ela um quarto para eu ficar por um tempo até achar trabalho

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Dino havia entrado em contato com uma conhecida que morava em São Paulo e conseguiu com ela um quarto para eu ficar por um tempo até achar trabalho. Arrumando um emprego qualquer, eu procuraria outro canto pra mim e daria início ao segundo plano: faculdade. Queria fazer Educação Física e tinha noção de que não seria fácil, mas quem dera fosse este meu maior desafio na capital...

- Maninho, a porra do meu celular acabou a bateria. Preciso terminar um papo sério com a minha mina. Me empresta o celular aí?

Fui surpreendido com o pedido do cara que havia sentado na minha poltrona e me chamado de bostinha minutos atrás. O jeitão de malandro dele me deixou na dúvida se eu estaria arrumando encrenca caso eu recusasse.

- Não tenho muito crédito... Me desculpe!

- Eu ligo a cobrar. A filha da puta tá me enchendo o saco, então ela que pague pra me falar merda. Empresta aí. Pode ser?

- Tá bom...

Meu celular era um aparelho vagabundo, duvidei que ele pudesse tentar roubá-lo. Tirei do bolso e o entreguei. Quando o rapaz voltou para o fundo do ônibus, encostei a cabeça no vidro da janela e acompanhei a rodoviária ficando cada vez mais distante.

 Quando o rapaz voltou para o fundo do ônibus, encostei a cabeça no vidro da janela e acompanhei a rodoviária ficando cada vez mais distante

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O dinheiro que eu levava comigo, com economia, duraria por um mês; com sorte, dois meses. Nunca tive salário trabalhando para o meu pai e eu era obrigado a me contentar com um trocado ou outro que ele me dava. Como não tinha com o quê gastar, economizei. Precisaria comprar roupa para fazer entrevistas e ajudaria nas compras do mercado de uma total desconhecida que me esperava. Se ao fim da economia as coisas não dessem certo, eu deveria voltar para o interior.

Faria o que fosse preciso para não chegar a esse ponto. Nas últimas semanas, desde o episódio na igreja, minha vida virou um inferno - o que eu já esperava. Meu trabalho triplicou, fui ignorado e vivi no mais completo silêncio. Não dava para encarar isso outra vez.

Ao perceber que já havia passado muito tempo que o sujeito pegou meu celular, levantei-me e fui procurar o cara de pau. Ele ocupava a última poltrona do ônibus e ainda falava ao celular, mas não estava sozinho. Enquanto conversava quase aos susurros com a sua "mina", creio que a tal Melzinha nem supunha que ele estava sendo chupado por um outro homem.

- Melzinha, você sabe que eu te gosto, pô... Já te disse, gostosa... Eu vou chegar aí e te pegar bem gostoso pra matar a saudade...

Ele me encarou com uma cara de safado que nunca esqueci. Eu fiquei sem reação diante da cena. Quando um caminhão passou com o farol alto, pude confirmar que havia mesmo um outro homem ali. O malandro segurava o cabelo dele conduzindo sua cabeça para cima e para baixo, em ritmos alternados.

- Melzinha, vai dormir, florzinha... Eu tô apertadão aqui precisando ir ao banheiro... Você tá chata pra caralho. Vai se foder! Tchau.

O tom dele aumentou, mas a impaciência demonstrava outra coisa: ele estava tendo um orgasmo. Desligou o celular às pressas e jogou para mim. Fui voltando de costas completamente desnorteado. Sentei boqueaberto e saquei que eu demoraria a dormir depois daquilo.

Pouco tempo depois, levei um susto com o pilantra sentando ao meu lado.

- E aí, maninho. Valeu pelo celular.

- Por nada.

De supetão, ele apertou o volume da minha calça e soltou uma risada.

- Você tá encaralhado aí, hein! Bate uma e dá um jeito nisso logo.

- Você tá maluco? - perguntei revoltado.

- Você é chatão, maninho. Relaxa que eu vou voltar pro meu canto. Vim te trazer isto pra te agradecer.

Ele colocou uma nota de cinquenta reais na minha mão.

- Valeu pelo celular, moleque. Minha mina tava surtando. Tem um tempão que sumi. Treta com a polícia, sabe como é.

- Não...

- Falei pro playboy lá atrás que você faz programa junto comigo pra ele poder ficar tranquilo. Ele tava com medo de você ser algum conhecido.

- Não me mete nas suas coisas, cara.

- Me chama de Bruce, blz?

- Ok, Bruce. Agora pega esse dinheiro e cai fora.

- Você é um bostinha mesmo hein... Tô dividindo o lucro da chupada contigo e você querendo levantar esse nariz pro meu lado.

- Bruce, eu quero dormir! - falei em tom de súplica.

- Tá certo. Vou nessa, maninho. Boa viagem pra você. É nóis?

Ele estendeu a mão para um cumprimento de despedida e saiu. Peguei a nota de cinquenta reais e foi assim que conheci aquele sujeito estranho.

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Olá, leitores! Tudo bem? Vem chegando carnaval e não pretendo abandonar a galera do bloco do wattpad hehe
Vem me contar o que estão achando da história. Vou curtir muito receber seu comentário!

Com amor é mais caro (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora