A esquina da avenida Paulista com a rua Augusta estava lotada. Um músico solava sua guitarra e deixou uma caixa para que as pessoas contribuíssem com qualquer valor. Outro homem vendia cerveja e água que saíam de uma caixa de isopor suja. Vários jovens estavam ali para conversar e ouvir música. Era como um ponto de encontro para a balada.
Procurei por Nil, mas ele me encontrou primeiro. Estava com uma mochila surrada nas costas.
- Que cara é essa, Caio?
- Tua irmã me botou pra fora do apto. Eu fiz algo horrível....
- Sério? O que rolou?
- O noivo dela e eu... Bem... Ela pegou a gente no quarto.
- Você fodeu com o pastor? - Nil soltou uma gargalhada demonstrando não estar nem aí com a situação.
- Tô desnorteado. Nem sei pra onde ir.
- Relaxa! Com a grana que você vai levantar hoje, dá pra passar uma semana num hotel. Depois cê volta pro apartamento, porque eu vou dar uma aliviada na sua barra.
- Vai me ajudar mesmo?
- Como teu amigo, eu vou até no inferno pra te ajudar. Como teu inimigo, é a tua vida que vira um inferno.
- Animador...
- Acho que foi aquele Shakespeare que disse isso num poema.
- Duvido muito. E o que você quer que eu faça hoje?
- Preciso que entregue essa mochila pra um cara.
- Tem droga aí dentro?
- Tem. 300 gramas de farinha. - Nil responde entregando a mochila.
- Não devia ter perguntado. Posso saber por que você mesmo não entrega?
- Porque tô queimado com o cara. Comprei e repassei mercadoria adulterada pra ele. Eu não entendia muito do esquema pra saber diferença de pó bom pra pó ruim. O cara ficou puto comigo. Jurou morte e os caralhos. Mas era meu melhor cliente, tá ligado? Agora tô com coisa boa. Farinha pura! Você só entrega, não cita meu nome, pega a grana e sai. Tá claro?
- Até demais, Nil...
Nil me passou o endereço e repetiu pausadamente as instruções. Eu escutei atento e lembro de não ter parado para pensar se seria arriscado. Afinal, eu era o Caio destemido que enfrentou família e todos do interior pra homenagear o garoto por quem eu era apaixonado. A partir daquele instante, eu me sentia capaz de qualquer coisa. E eu tinha uma motivação a mais: estava sem lugar para dormir. Ainda se eu não tivesse sido expulso, eu não queria ver a cara daquele pastor nunca mais. Ele me feriu e eu passei a ter raiva. Não sei se seria diferente caso eu não tivesse o provocado, mas acho que nenhuma justificativa diminua a gravidade do que ele me fez. Foda-se a causa, o efeito é o que conta.
Coloquei a mochila nas costas e desci a rua Augusta procurando o número que Nil me passou. Ao chegar no lugar indicado, achei estranho que aquela porta estreita fosse mesmo do lugar que eu deveria ir. Nil me explicou que era um clube, mas não encontrei placa. Alguns homens estavam encostados na parede e olhavam o movimento da rua em silêncio. Eu precisava entrar, mas hesitei um pouco ao perceber a escada suja e escura que eu teria que subir.
- Caio? - disse uma voz pelas minhas costas, me assustando.
Quando me virei e vi quem era, eu tive dois sentimentos diferentes: surpresa e alívio. Ainda que fosse quem era, pelo menos era um rosto conhecido.
- Oi, Bruce.
- Que porra veio fazer aqui?
Bruce estava usando uma camiseta regata preta que deixava os ombros musculosos em evidência. A calça jeans justa realçava o volume exagerado dele e isso o tornava um tanto desejável.
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Com amor é mais caro (Completo)
RomansaUma história envolvente, com reviravoltas de tirar o fôlego! Acompanhe a intrigante trajetória de um jovem vivendo os perigos e os prazeres da noite. Tendo que se virar na capital, o impulsivo Caio não pensará nas consequências das suas escolhas par...