Bruce, contrariado, parou seu veículo com a minha ordem. Estávamos em busca de respostas naquela tarde.
O cruzamento pouco movimentado, em um bairro afastado da Zona Leste, era próximo de uma favela, mas o sol forte daquela tarde não deixava o local tão sinistro quanto imaginei que o encontraria.
Nil estava desaparecido há 2 dias. Era para eu já ter me acostumado com isso, mas havia sido diferente daquela vez. A velha mochila recheada de drogas ficou para trás. Segundo Bruce, a ordem do Colomba era matar Nil e jogar bem ali onde paramos o carro. Eu tinha motivos de sobra para estar preocupado.
Bruce saiu do veículo e parou no acostamento de costas viradas para a avenida. Saí do carro também e fiquei encostado na porta observando o lugar. Pouco carro, casas afastadas e sem acabamento em suas faixadas. O único movimento notado foi de um grupo de crianças trajando uniforme escolar e andando pelo acostamento. Ouvi primeiro Bruce abaixar o zíper e depois o som da urina tocar o chão com força.
- A molecada vai ver você de pau pra fora, Bruce. Péssima hora pra urinar.
- Nada! Tão longe... E eu não tô mijando. Esse é um procedimento de rastreamento de corpos que desenvolvi. Repara que o mijo vai na direção da vala e vai mostrar pra gente onde deixaram os restos do seu amiguinho.
- Não tô pra brincadeira.
- Você inventou essa cuzice de procurar teu chegado e me meteu nessa merda, então me aguenta.
- Certeza que foi aqui?
- Certeza. É aqui que ficam os malucos que fornecem a droga ruim que o pivete revende. Colomba mandou jogar ele aqui como um aviso. - Bruce disse, balançando o pau e guardando na cueca.
- Eu não posso acreditar que mataram o Nil, cara...
- Tem que tá feliz por não ter sobrado pra você, gayzão.
- Feliz, Bruce? Olha a situação da Moira. Só de lembrar daquela desgraça toda na igreja, eu tenho vontade de morrer.
- Quando der essa vontade de morrer novamente, faz o pirocoptero na cara do Colomba, chama ele de Escobarzinho enquanto mete a piroca na testa dele. Aí ele realiza seu desejo rapidinho.
- Ele não tá mesmo atrás de mim?
- Não que eu saiba.
- Devia estar. Eu estraguei tudo... - falei, enquanto vasculhava os arbustos secos à beira da avenida.
- O Nil colocou teu cu na reta sabendo que tinha mercadoria ruim e que ele já tava queimado com o Colomba. Você só deu o nome do cara que queria te ferrar no lugar dele. E tinha uma arma com o cano virado pra você. Porra! Se fosse eu, dava nome, dava o rabo e ainda pedia o Colomba em casamento pra tentar escapar.
- Mas você tem certeza que foi o Colomba que mandou o sujeito atirar na igreja?
- Foi o que eu ouvi lá no clube.
- Olha o tipo de gente pra quem você trabalha, Bruce!
- Eu não. Meu pau que trabalha. Danço e meto na clientela do Colomba pra ele disfarçar o verdadeiro negócio. Eu nem tô fixo lá no clube. Tô rodando por outras casas. Faço dinheiro e depois volto pra Melzinha. Não quero nem saber das tretas do Colomba.
- Se ele roda, você roda também.
- Eu me viro... - disse Bruce acendendo um cigarro. - Caio, na moral? Não se mete com essa gente.
- E se o Nil não aparecer?
- Já conte com isso. É a real, mano. Nesse ramo as coisas terminam assim. Esquece o drogadinho, faz tua faculdade e casa com o Gabriel. Você não disse que o viadão lá é gente boa?
- Mas e a Moira?
- Casa com o moço e adota a crente.
A preocupação de Bruce comigo era cabível e eu deveria levar a sério a sugestão de não me meter nas encrencas de Nil. Eu só não tinha condições de desencanar tão fácil assim. Só a ideia de voltar para o apartamento de Moira era assustadora. Não podia calcular os riscos de continuar morando lá.
- Chega de brincar de achar corpo na vala. - disse Bruce, voltando para o seu carro. - Preciso depilar o saco e isso aqui não vai dar em nada.
- Tudo bem... - falei, sentando do lado do carona e ligando o som do carro.
- Bruce...- Hm...
- E a Mel tá legal?
- Na mesma. Tá meio mal-humorada porque raspou a cabeça, mas continuo achando a Melzinha a mulher mais linda que existe. O foda é que ela acha que digo isso por pena.
- Tenha paciência com ela.
- Sou o cara mais paciênte que existe. CHUPA MEU PAU, BABACA! - Bruce gritou para um senhor dirigindo uma caminhonete que fazia zig- zag na pista.
- Bruce...
- Quê?
- Você ganha bem fazendo o que faz?
- Dá pra viver. Por que a curiosidade?
- Só quero saber...
- Você tá sempre querendo saber demais, Caio. Eu não faço programa por luxo, ok? É só o que precisa saber.
- Não precisa justificar seu motivo pra fazer programa, Bruce, porque isso não importa. Se é por necessidade, ok... Mas se for por ambições maiores, ok também! Só precisa ser bom no que faz.
- Caio, Caio... Olha as ideias, hein.
- Só curiosidade mesmo...
- Já te disse que a noite da capital não é pra qualquer um.
- Já. Mas eu não tenho medo de nada, Bruce.
- Quer botar um silicone e vir pra noite também? Você ficaria uma vadia bem gostosa com esse rabão.
- Ah, cala a boca! - encerrei o assunto batendo na nuca dele.
Bruce me deixou no prédio quando já se aproximava o fim da tarde. Sem muita surpresa, não encontrei Nil no apartamento. Foram mais 4 dias para me convencer de que o irmão da Moira não voltaria mais.
Peguei meu celular, busquei a lista de chamadas recebidas e deixei chamar o número desconhecido.
- Alô. - atendeu a voz.
- Oi... Aqui é o Caio. Desculpa não ter tido tempo de te atender no outro dia. Ainda tá afim de marcar alguma coisa?
- Pô, claro. Quanto é?
- Pra você? Trezentos reais...
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Olá, pessoal. Tá incrível a quantidade de gente descobrindo essa história. Obrigado pelos votos e comentários!💟
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Com amor é mais caro (Completo)
RomanceUma história envolvente, com reviravoltas de tirar o fôlego! Acompanhe a intrigante trajetória de um jovem vivendo os perigos e os prazeres da noite. Tendo que se virar na capital, o impulsivo Caio não pensará nas consequências das suas escolhas par...