Cap. 13 - Procurando pistas

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Bruce, contrariado, parou seu veículo com a minha ordem. Estávamos em busca de respostas naquela tarde.

O cruzamento pouco movimentado, em um bairro afastado da Zona Leste, era próximo de uma favela, mas o sol forte daquela tarde não deixava o local tão sinistro quanto imaginei que o encontraria.

Nil estava desaparecido há 2 dias. Era para eu já ter me acostumado com isso, mas havia sido diferente daquela vez. A velha mochila recheada de drogas ficou para trás. Segundo Bruce, a ordem do Colomba era matar Nil e jogar bem ali onde paramos o carro. Eu tinha motivos de sobra para estar preocupado.

Bruce saiu do veículo e parou no acostamento de costas viradas para a avenida. Saí do carro também e fiquei encostado na porta observando o lugar. Pouco carro, casas afastadas e sem acabamento em suas faixadas. O único movimento notado foi de um grupo de crianças trajando uniforme escolar e andando pelo acostamento. Ouvi primeiro Bruce abaixar o zíper e depois o som da urina tocar o chão com força.

- A molecada vai ver você de pau pra fora, Bruce. Péssima hora pra urinar.

- Nada! Tão longe... E eu não tô mijando. Esse é um procedimento de rastreamento de corpos que desenvolvi. Repara que o mijo vai na direção da vala e vai mostrar pra gente onde deixaram os restos do seu amiguinho.

- Não tô pra brincadeira.

- Você inventou essa cuzice de procurar teu chegado e me meteu nessa merda, então me aguenta.

- Certeza que foi aqui?

- Certeza. É aqui que ficam os malucos que fornecem a droga ruim que o pivete revende. Colomba mandou jogar ele aqui como um aviso. - Bruce disse, balançando o pau e guardando na cueca.

- Eu não posso acreditar que mataram o Nil, cara...

- Tem que tá feliz por não ter sobrado pra você, gayzão.

- Feliz, Bruce? Olha a situação da Moira. Só de lembrar daquela desgraça toda na igreja, eu tenho vontade de morrer.

- Quando der essa vontade de morrer novamente, faz o pirocoptero na cara do Colomba, chama ele de Escobarzinho enquanto mete a piroca na testa dele. Aí ele realiza seu desejo rapidinho.

- Ele não tá mesmo atrás de mim?

- Não que eu saiba.

- Devia estar. Eu estraguei tudo... - falei, enquanto vasculhava os arbustos secos à beira da avenida.

- O Nil colocou teu cu na reta sabendo que tinha mercadoria ruim e que ele já tava queimado com o Colomba. Você só deu o nome do cara que queria te ferrar no lugar dele. E tinha uma arma com o cano virado pra você. Porra! Se fosse eu, dava nome, dava o rabo e ainda pedia o Colomba em casamento pra tentar escapar.

- Mas você tem certeza que foi o Colomba que mandou o sujeito atirar na igreja?

- Foi o que eu ouvi lá no clube.

- Olha o tipo de gente pra quem você trabalha, Bruce!

- Eu não. Meu pau que trabalha. Danço e meto na clientela do Colomba pra ele disfarçar o verdadeiro negócio. Eu nem tô fixo lá no clube. Tô rodando por outras casas. Faço dinheiro e depois volto pra Melzinha. Não quero nem saber das tretas do Colomba.

- Se ele roda, você roda também.

- Eu me viro... - disse Bruce acendendo um cigarro. - Caio, na moral? Não se mete com essa gente.

- E se o Nil não aparecer?

- Já conte com isso. É a real, mano. Nesse ramo as coisas terminam assim. Esquece o drogadinho, faz tua faculdade e casa com o Gabriel. Você não disse que o viadão lá é gente boa?

- Mas e a Moira?

- Casa com o moço e adota a crente.

A preocupação de Bruce comigo era cabível e eu deveria levar a sério a sugestão de não me meter nas encrencas de Nil. Eu só não tinha condições de desencanar tão fácil assim. Só a ideia de voltar para o apartamento de Moira era assustadora. Não podia calcular os riscos de continuar morando lá.

- Chega de brincar de achar corpo na vala. - disse Bruce, voltando para o seu carro. - Preciso depilar o saco e isso aqui não vai dar em nada.

- Tudo bem... - falei, sentando do lado do carona e ligando o som do carro.


- Bruce...

- Hm...

- E a Mel tá legal?

- Na mesma. Tá meio mal-humorada porque raspou a cabeça, mas continuo achando a Melzinha a mulher mais linda que existe. O foda é que ela acha que digo isso por pena.

- Tenha paciência com ela.

- Sou o cara mais paciênte que existe. CHUPA MEU PAU, BABACA! - Bruce gritou para um senhor dirigindo uma caminhonete que fazia zig- zag na pista.

- Bruce...

- Quê?

- Você ganha bem fazendo o que faz?

- Dá pra viver. Por que a curiosidade?

- Só quero saber...

- Você tá sempre querendo saber demais, Caio. Eu não faço programa por luxo, ok? É só o que precisa saber.

- Não precisa justificar seu motivo pra fazer programa, Bruce, porque isso não importa. Se é por necessidade, ok... Mas se for por ambições maiores, ok também! Só precisa ser bom no que faz.

- Caio, Caio... Olha as ideias, hein.

- Só curiosidade mesmo...

- Já te disse que a noite da capital não é pra qualquer um.

- Já. Mas eu não tenho medo de nada, Bruce.

- Quer botar um silicone e vir pra noite também? Você ficaria uma vadia bem gostosa com esse rabão.

- Ah, cala a boca! - encerrei o assunto batendo na nuca dele.

Bruce me deixou no prédio quando já se aproximava o fim da tarde. Sem muita surpresa, não encontrei Nil no apartamento. Foram mais 4 dias para me convencer de que o irmão da Moira não voltaria mais.

Peguei meu celular, busquei a lista de chamadas recebidas e deixei chamar o número desconhecido.

- Alô. - atendeu a voz.

- Oi... Aqui é o Caio. Desculpa não ter tido tempo de te atender no outro dia. Ainda tá afim de marcar alguma coisa?

- , claro. Quanto é?

- Pra você? Trezentos reais...

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Olá, pessoal. incrível a quantidade de gente descobrindo essa história. Obrigado pelos votos e comentários!

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Com amor é mais caro (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora