Cap. 17 - O tipo de cara

4K 459 67
                                    

"Gabriel, eu topo. Quero namorar com você. Gosto de como me sinto ao seu lado e gosto da forma como me olha. Se tem alguém capaz de fazer isso dá certo, esse alguém é você."

A resposta veio completa em minha cabeça depois da inesperada proposta, mas só consegui dizer "vamos sair da chuva, não precisamos de uma pneumonia agora."

No apartamento da Moira, trocamos nossas roupas e eu lhe fiz chocolate quente. Havia um constrangedor silêncio entre nós. Gabriel tinha evidente medo de que eu dissesse não. Eu tive o mesmo medo. Aliás, depois do que ouvi na entrada do prédio, tudo o que senti foi medo. Eu havia gostado do Gabriel bem mais que ele supunha. Não era só gratidão pela força com a faculdade, mas pelo cara incrível e apaixonante que se revelava. Então eu o quis pelo tanto que pensava nele antes de dormir, pela vontade de ouvir sua voz todos os dias, pelas mensagens que trocávamos o dia inteiro e... droga! Eu estava mesmo afim do Gabriel.

Mas Gabriel não sabia tudo sobre mim. Minhas impulsividades, meus objetivos e o envolvimento com os negócios do Colomba. Ele só sabia de onde vim e dos sonhos que eu havia levado para São Paulo. Não imaginava que o estudante de Educação Física que se esforçaria para manter a bolsa estava disposto a fazer programa e se meter com gente criminosa. Eu era muito mais que um garoto sonhador. Eu era nocivo para Gabriel.

E esse nem era esse o maior problema.

Ainda que Gabriel pudesse aceitar a vida que eu queria levar, ainda que eu dissesse sim... Eu não queria viver novamente o maior pesadelo que já vivi. Aceitar Gabriel para depois perdê-lo como a vida me fez perder Pedro. Eu não aguentaria atravessar aquela tempestade outra vez.

- Não vai rolar, Gabriel. E é muito difícil te dizer isso.

- Fui precipitado, eu sei... - falou, largando a caneca na pia da cozinha.

- Não é bem isso. Eu acho que diria sim pra você desde a primeira vez que a gente se encontrou. Tô bem envolvido contigo, Gabriel. Nós só não devemos.

- Por quê?

- Não sou o tipo de cara que você deveria gostar. E você não é o tipo de cara que deveria ser magoado.

- Poxa, tô me sentindo um adolescente aqui contigo, Caio. E sou meio orgulhoso pra insistir. Então acho que não devemos voltar a falar sobre isso. Pelo menos até você não ser o tipo de cara que me magoaria. É uma pena! Eu queria muito ter a oportunidade de cuidar de você.

- Você já faz mais que qualquer um, Gabriel.

- Talvez leve um tempo pra que arrisque a se envolver, Caio. Porque, hoje, você deve acreditar que sofrer é parte inevitável da entrega. Mas pode ter certeza que, se me quiser, você não vai me perder.

-Você não pode ter certeza de algo assim. - meus olhos não seguraram as lágrimas. - As coisas saem do nosso controle e ferram tudo o que achamos que sabemos. Eu tenho medo disso!

- Eu só tenho uma certeza agora, Caio. Tô ficando cada vez mais apaixonado, então vê se perde esse medo logo. Eu te espero, mas não demora.

Gabriel me beijou enquanto segurava forte em minha cintura. Eu ainda chorava e pensava quanto tempo demoraria para me arrepender, até que percebi que já havia me arrependido.

- Não vai se afastar de mim, vai? - perguntei.

- Não tá nos planos.

- Ótimo. Dorme aqui hoje? A gente assiste algo...

- Pode ser, mas a lista de romance da Netflix hoje tá proibida. Já tivemos o suficiente.

- Apoiado. - digo, já me sentindo melhor e procurando que as coisas não mudem entre nós.

***

Era início da madrugada de quarta-feira, já algumas semanas depois.

Eu começava a noite com uma dose caprichada de whisky caubói. Estava no balcão acompanhando o movimento e contando alianças. No salão principal, o ambiente era democrático. Garotos se mantinham disponíveis para qualquer que fosse a vontade do cliente. Éramos proibidos de nos insinuar, porque a regra era ser animal de caça - o grande atrativo do pub. Algumas negociações eram feitas sem o nosso conhecimento. Nossa gerente grosseirona orientava apenas que fôssemos ao quarto indicado onde alguém nos esperaria.

Não podíamos nos oferecer principalmente porque nem todo homem ia até lá por sexo. Muitos estavam ali para tratar negócios com Colomba numa área completamente isolada e acessível para poucos. Era impossível decifrar todo o lugar. Vários corredores escuros levavam a inúmeras áreas secretas. Por isso que quase nunca via Colomba chegar ou sair.

Eu não era cobrado por ninguém a atingir qualquer meta de clientes. No primeiro mês, eu quase não tive nenhum. Os clientes, homens e mulheres, costumavam observar os garotos por várias noites antes de optar por eles, mas não sem antes sentir total confiança. Eu ficava dançando e observando os passos do Bruce, a grande sensação do pub. Além de não haver metas, eu também poderia recusar as ofertas, mas isso era um risco. Bastava uma reclamação formal à gerente feita por um cliente especial e estaríamos fora do esquema. Apenas Bruce tinha verdadeiro privilégio de negar sexo. Ele recusava quase todos os homens e nunca aceitava a condição de passivo. No caso dele, isso só o tornava ainda mais desejado por todos.

Eu ainda não tinha escutado nenhuma conversa que levantasse pista sobre Nil. Já não esperava mesmo encontrá-lo vivo. Meu principal objetivo era identificar o atirador da igreja.

- Você não leva jeito pra isso, flor. Devia cair fora.

O rapaz que me tirou dos pensamentos era um sujeito exibido que fazia programa também. Ele encostou no balcão e pediu uma tequila.

- Não pretendo cair fora. - respondi tranquilamente.

- Vai demorar pra você arrumar bons clientes aqui.

- Por que acha isso?

- Suas roupas são cafonas. Você fica pelos cantos pensando demais e fazendo cara de quem quer desesperadamente ser escolhido. Vai precisar muito mais que andar com o pau duro marcando a calça, flor.

- Obrigado pela preocupação. Mas quando eu precisar de dica, pergunto ao Bruce que parece valer bem mais que você.

- Vai com calma, viu? Você não vai querer ter inimigos aqui, Caio. Pelo que andei reparando, a maioria dos rapazes não vão com a sua cara.

- Que pena... - falei irônico. - Espero que se acostumem, porque não pretendo cair fora.

Deixei o babaca e fui para a pista dançar. Bruce se aproximou de mim pelas costas roçando seu corpo no meu. Senti sua mão entrar na minha calça e alisar minha bunda. Eu adorava aquelas brincadeiras dele.

- Gayzão, espero que esteja bem depiladinho, tenho um cliente especial pra você. - ele diz próximo ao meu ouvido.

________________________________

Galera, tudo bem? Obrigado por cada curtida e comentário. Dá pra acreditar que essa história está chegando em dez mil leituras?
Se quiserem, podem me add no Facebook. Estou adorando fazer amigos aqui.
Até o próximo capítulo!

Com amor é mais caro (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora