07. Nova rotina.

27K 2.2K 84
                                    

*na foto: Iara Lacerda.

            No dia seguinte, só precisei entrar no quarto de Beatrice pra que ela jogasse um celular em minha direção. Por pouco não o deixei cair.

─Em dois dias vamos às Las Vegas. – Ela disse. – O celular vai começar a tocar, rádios e canais locais tentando entrevistas. Tudo o que você precisa fazer é anotar o nome do programa, a pessoa que está contatando e um número para contato. Não fale mais nada, ok? Você não pode dar nenhum sinal de que a entrevista está confirmada ou isso vai pegar feio pra imagem de Tracy?

─Por quê?

─Nem sempre ele está a fim de entrevistas. – Bea respondeu. – E, quando isso acontece, a gente escolhe os programas com mais audiências pra que ele compareça.

Assenti.

─Faz sentido.

─Seu trabalho está apenas começando, maninha. – Dito isso, ela pegou sua bolsa e estava prestes a sair do quarto quando eu a chamei.

─Ei! Aonde você vai?

─Drake e eu vamos a uma reunião com Tracy. – Respondeu. – Nick Minaj está na cidade e precisamos fazer o possível pra unir os dois numa parceria.

─E o que eu faço?

Ela deu de ombros.

─Procure o Aiden. – Falou, já cruzando a porta. – Ele vai te dizer o que fazer.

Suspirei, jogando-me sobre a cama. Eu não queria ficar seguindo Aiden por onde ele andasse. Queria ficar em meu quarto, fazendo meu trabalho dali mesmo. Era pra isso que eu estava ali, afinal. Pra ajudar Beatrice.

Peguei o controle da TV e sintonizei num canal culinário. Uma mulher com sotaque colombiano ensinava a receita de um bolo de ameixa vegano, enquanto alguns crédito rolavam no canto superior da tela. É claro que eu não estava prestando atenção naquilo. Tudo o que eu conseguia pensar era em como Tracy Trey beijava bem. Como eu deveria encará-lo depois de termos nos pegado num banheiro e, logo em seguida, eu lhe dar um fora? Quem em sã consciência daria um fora em Tracy?

Ao pensar naquilo, logo senti uma vontade tremenda de contar aquilo para alguma amiga. Além de Beatrice, a única pessoa com quem eu tinha intimidade para conversar sobre esse tipo de coisa era Iara, que estava muito longe dali. Mesmo assim, corri até minha bolsa e tirei meu notebook. Eu lembrava da senha do Wi-fi do prédio por que era o título do último álbum de Tracy. E, como sua assistente, isso era uma das coisas que eu deveria saber.

Já contando com o fuso-horário, deveria ser umas oito horas no Brasil. Se eu tivesse sorte, Iara estaria faltando à aula na biblioteca da faculdade e atenderia a chamada da videoconferência. Conhecendo-a bem como eu conhecia, ela provavelmente estava.

Só precisei chamar duas vezes e, na terceira, ela atendeu.

─Fala, garota.

Era como se sua voz viesse de outra pessoa. Seus olhos estavam muito inchados, duas bolas roxas formando-se ao redor. Ou aquilo era o pior porre que Iara tinha passado ou fazia semanas que ela não dormia. Eu votava na primeira opção.

─O que aconteceu com você? – Perguntei.

─Nossa, amiga, é bom te ver também. – Ela disse, ironicamente. – Ontem foi a festa da turma de engenharia. Nunca bebi tanto em toda minha merda de vida.

Bingo.

─Qual é, não diz isso. A vida é linda!

─Pra você, claro. Ao lado desse gostoso do Tracy, até minha vida se torna interessante. – Ela disse, e então soltou um longo suspiro. Típico das conversas dramáticas de Iara. – E aí, como está sendo?

─Por enquanto, tudo ótimo.

─Já o conheceu? –Perguntou. – Numa escala de 0 a 10, ele é 100% gostoso, não é?

Sorri com a pergunta. Pela primeira vez ponderei se seria correto contar para Iara. Digo, ela é uma pessoa maravilhosa e eu confiava muito nela, mas às vezes falamos algumas coisas sem querer e, levando em conta o quanto ela se animava com os garotos com quem eu ficava, eu temia que ela não conseguisse segurar a língua por muito tempo. Tracy era conhecido no mundo inteiro, afinal. Quem não gostaria de contar para alguém que ele tinha ficado com sua melhor amiga?

─Ele é legal. – Foi o que respondi. – Um pouco fechado, mas não é dessas celebridades chatas e exigentes.

─Nossa, que bom. Não se esquece de mencionar sua amiga que é uma grande fã. Se ele precisar de alguma dançarina pro próximo vídeo, pode ligar pra mim que eu chego em Chicago em dois minutos.

─Iara, você é dançarina horrível!

─Mas sei sensualizar. – Ela respondeu. – É disso que se trata.

─Bruna?

Olhei para a porta do meu quarto e percebi que Aiden olhava para mim. Iara ficou histérica.

─Meu Deus, Bruna, é ele? Tracy! Tracy! I love you!

─Iara, tenho que ir. Depois te ligo de novo. Amo você.

Antes que ela pudesse dizer mais uma vez que amava Tracy, fechei o notebook rapidamente e logo me senti constrangida por ser flagrada no meio daquela conversa por Aiden. Até que ponto ele tinha escutado?

─Desculpe te atrapalhar. – Ele disse, aparentemente tão constrangido quanto eu. – Só preciso saber se alguma rádio ligou. Beatrice deixou o telefone com você, não foi?

─Oh, sim... – Procurei embaixo dos travesseiros até que encontrei o telefone que Bea jogou pra mim antes de sair. – Aqui.

─Ótimo. Ela te deu as instruções?

─Não confirmar nada. Apenas anotar nomes e números para retornar a ligação.

Aiden sorriu, satisfeito.

─Então está tudo certo.

Ele deu as costas, mas não foi embora. Como se lembrasse de algo, ele voltou-se para mim:

─Você vai ficar aqui o dia inteiro?

─Bem, Bea me abandonou aqui, então...

Ele sorriu.

─Minha família está vindo aqui depois da viagem à Vegas. Pensei em ir ao shopping e comprar alguns presentes. Quer vir?

Ok, ficar presa naquele quarto o dia inteiro seria um saco. Eu poderia carregar um bloquinho de anotações comigo e, quando os assessores ligassem, eu estaria preparada pra fazer meu trabalho, mesmo se não estivesse em meu quarto. Claro, eu precisava aprender a gerenciar minhas atividades ao mesmo tempo em que lidava com meu trabalho. Caso contrário seria difícil fazer meu trabalho e ter uma vida social ao mesmo tempo.

Nem precisei pensar duas vezes para responder:

─Claro!


MagnéticoOnde histórias criam vida. Descubra agora