11. Jogando de diversas maneiras.

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         Acho que nem preciso dizer que, assim que entramos, vários olhares voltaram-se em nossa direção. Os homens nos encaravam enquanto fumavam seus charutos e as mulheres lançavam olhares e sorrisos enquanto bebiam seus drinks. Por qualquer canto que Tracy passava, ele instantaneamente se tornava o centro das atenções. E, claro, não demorou muito para que algumas mulheres começassem a se aproximar.

─Olá, Tracy. – Uma loira com sotaque francês aproximou-se. Talvez eu que fosse muito baixa, mas tive a impressão de que aquelas eram as pernas mais longas que eu já tinha visto em toda minha vida. – Sou uma grande fã.

─Valeu. – Agradeceu Tracy. Ficou bem claro que a garota estava flertando, porém ela logo percebeu que não conseguiria muita coisa. Outra loira – essa com pernas menos longas – surgiu ao lado da francesa.

─Essa é sua namorada?

Alguém finalmente tinha notado minha existência ali, mas claro que era apenas por curiosidade. Ver um ídolo ao lado de uma garota desconhecida certamente renderia uma ótima história para os tabloides.

─Sou uma amiga. – Eu disse, o que transformou as garotas em puros sorrisos.

─Com licença, garotas.

Tracy afastou-se dali, aparentemente fugindo da possível conversa que as garotas tentavam puxar. Se bem que eu sabia que conversa não era exatamente o que elas estavam procurando naquele momento.

─Você acabou de perder um ménage francês. – Brinquei.

Tracy sorriu.

─Loiras não fazem o meu tipo.

Mas ruivas sim, pensei. Era até estranho ver Tracy dispensar duas garotas lindas como aquelas. Se eu não estivesse conhecendo-o melhor, eu provavelmente acharia que ele estava com algum problema ou coisa do tipo. Desde que eu cheguei nos Estados Unidos, não teve uma única noite em que vi Tracy sem a companhia de alguma garota.

Tracy aproximou-se de uma mesa de pôquer onde três homens engravatados faziam suas apostas. Um deles, o que tinha um bigode à lá Tom Sellick, estava acompanhado de duas garotas com corpos incríveis. Uma delas fazia massagem em seus ombros enquanto ele conferia suas cartas. A outra apenas mantinha o olho atento no jogo dos outros participantes – quem eu descobri depois ser a Dealer da partida.

─Gosta de Pôquer? – Tracy me perguntou.

─Nunca joguei.

Tracy ergueu uma das sobrancelhas.

─O quão boa você é de blefe?

Um dos cantos dos meus lábios ergueu-se num sorriso.

─O quanto você precisar que eu seja.

Minha resposta pareceu ser satisfatória porque Tracy abriu um sorriso traiçoeiro. Ele planejava alguma coisa enquanto observava as jogadas dos três participantes. Eu não sabia muita coisa sobre pôquer, mas notei que vez ou outra, a garota que estava em pé massageava os ombros do Srº Bigode com mais intensidade, porém quase imperceptivelmente. Se ela também estava de olho no jogo, era provável que fizesse aquilo para deixar o homem mais relaxado ao se deparar com cartas ruins.

Quando contei isso à Tracy, o sorriso em seus lábios ficou ainda maior.

─Algo me diz que você blefou comigo quando disse nunca ter jogado pôquer.

Dei de ombros, fingindo-me convencida.

─Você nunca terá certeza disso.

Nós soubemos que a partida tinha sido finalizada quando o Sr.º Bigode puxou todas as fichas para si e soltou uma gargalhada.

─Vocês são péssimos jogadores, filhos da puta!

Ele deu um tapinha na bunda da massagista, enquanto a Dealer embaralhava as cartas propositalmente na altura dos seios fartos. Admito, era impossível não olhar para os seios da moça.

Tracy aproximou-se da mesa e eu, claro, fui atrás.

─Tem espaço pra mais um jogador?

─Isso depende. – O Sr.º Bigode disse. – Tem muito dinheiro pra perder?

─Oh, meu Deus! – Exclamou a garota da massagem. – Você é Tracy Trey!

Sr.º Bigode o encarou com o olhar semicerrado.

─Ótimo. Adoro ganhar dinheiro de celebridades.

Tracy sentou-se em frente à mesa e, num gesto inesperado, pegou minha mão e puxou-me para perto.

─Pode sentar, gata.

Por dentro, eu tinha sido pega de surpresa, mas agi como se soubesse perfeitamente o que ele estava fazendo. Seguindo seu pedido, me sentei em uma de suas pernas, passando meu braço sobre seus ombros.

─O que estão esperando? – Tracy perguntou.

A Dealer saiu de seu transe e começou a distribuir as fichas, logo depois de dar as cartas. Enquanto isso, uma negra exuberante parou ao nosso lado.

─Boa noite, Sr.º Tracy. Deseja beber algo?

─Vou querer dois gins com tônica, por favor.

Ele lembrava! Lembrava que aquela era minha bebida preferida. Ok, isso não significava nada, até porque é a bebida preferida de muita gente. Acontece que meus hormônios estavam aflorados naquele momento. Não é qualquer dia que se senta no colo de Tracy Trey em público, afinal.

─Ah – ele completou. – E me traz um Marlboro.

A moça assentiu e afastou-se enquanto Tracy conferia suas cartas. Quando mostrou-as para mim, soltei uma risada.

─Acaba con ellos, mi amor!

Certo, não sei de onde aquilo saiu. Eu sabia uma coisa ou outra de espanhol, mas não sei por que diabos eu falei aquilo. A verdade é que eu estava nervosa pra cacete por estar sentada no colo de Tracy. Se eu fosse tentar blefar naquele mesmo momento, eu com certeza deixaria estampado em minha testa que eu estava blefando. Sorte de Tracy que ele realmente estava com boas cartas.

Das sete fileiras de fichas que estavam à nossa frente, Tracy empurrou quatro delas para o centro da mesa. Os outros dois participantes se entreolharam, numa expressão indefinível, mas o Senhor Bigode permaneceu impassível. Tanto é que ele empurrou quatro das suas fileiras de fichas. Quando ele fez isso, senti uma mão apalpar minha bunda com força. Olhei espantada para Tracy, mas ele carregava um sorriso traiçoeiro em seu rosto. Mesmo espantada, segurei seu rosto entre minhas mãos para dar um beijo em seus lábios. Quando afastei meu rosto, Tracy me encarava com as sobrancelhas franzidas. Não de uma maneira chateada, mas como alguém que não entendia o que estava acontecendo, o porquê de eu tê-lo beijado. Bem, eu tinha feito aquilo como parte do nosso blefe, mas claro que esse não tinha sido o único motivo. A verdade é que eu queria beijá-lo. E ele sentiu isso. Tracy sentiu porque também queria que eu o beijasse.

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