47. Adivinhe quem veio para o jantar!

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Quando finalmente chegamos ao meu apartamento, eu já estava inteiramente consumida pelo cansaço. Tracy carregava nossas malas enquanto eu lutava para não titubear e cair de sono ali no corredor. Ele, por outro lado, parecia estar mais animado do que nunca. Eu entendia que ele estava feliz pelo nosso noivado, eu também estava muito feliz, mas não conseguia entender como aquele homem conseguia ter tanta energia - em todos os aspectos. Talvez tivesse uma reserva supra humana em algum lugar do seu corpo...

Achei estranho, a princípio, porque ele chegou primeiro à porta do apartamento e esperou que eu me aproximasse para poder abrir a porta. Em outros momentos ele já invadia o lugar sem sequer se importar se eu vinha logo atrás. O que aquele homem estava aprontando dessa vez?

Foi quando eu girei a maçaneta que percebi. O grito escandaloso de Iara se sobrepondo à voz estridente de Beatrice. Tomei um susto à primeira vista, mas quando vi meu pai, minha tia e minha melhor amiga esperando-me com uma facha colorida que dizia Parabéns, não consegui conter minha emoção.

─ Ah, não. - Iara sorriu. - Os hormônios já estão fazendo efeito?

Corri para abraçá-los e fui acolhida num caloroso abraço grupal.

─Sua vaca! - Brinquei com ela. - Quer me matar do coração?

─ Culpe ao seu homem, querida. A propósito, que homem, hein? Fico feliz que ele não saiba falar português porque aí eu posso falar o quanto ele é gato sem deixá-lo constrangido.

Abracei-a novamente, dessa vez só a ela. Seus cabelos ainda tinham o mesmo perfume de lavanda de alguns meses atrás. Tanta coisa havia acontecido de uma maneira tão maluca que eu não havia me dado o prazer de sentir muita falta da minha melhor amiga, mas Deus era testemunha do quanto senti saudades daquela cabeça oca.

─ Tia Elisa! - Minha tia abriu os braços para me abraçar, um pouco desajeitada, mas imensamente feliz por me ver. - Fico tão feliz que a senhora tenha vindo!

─Eu não perderia a chance de te ver, querida. Seu tio ficou muito triste porque estava cheio de coisas do trabalho, por isso não pôde vir. Mas mandou um abraço forte e disse que em breve te fará uma visitinha!

─Tô morrendo de saudades dele! Aliás, estava morrendo de saudades de todos vocês. - E então voltei-me para meu velho. - Pai!

De seu jeito calado e contido, ele em abraçou, mas pude sentir naquele abraço que ele havia sentido minha falta, da mesma maneira que eu havia sentido dele.

─É bom te ver, filha.

─ Escuta, Bruna - Interrompeu Iara - está todo feliz porque vai ser avô! Saiu espalhando pra todo mundo! Já até retirou alguns entulhos do seu quarto pra fazer um quartinho pro bebê!

─ É verdade, pai? - Perguntei, sorrindo.

Suas bochechas coraram, mas ele assentiu.

─O quarto estava abandonado... E o bebê precisa de um lugar pra dormir quando for ao Brasil.

Meus olhos encheram-se de lágrimas e eu abracei meu pai mais uma vez. Ter sua aprovação era muito importante pra mim. Ser mãe aos dezenove anos nunca esteve em meus planos, mas não há maneiras de fugir dos imprevistos da vida. Saber que eu podia contar com a pessoa mais importante do mundo pra mim era reconfortante porque eu tinha convicção de que meu bebê nasceria numa família que o amou desde antes do seu nascimento.

Enxuguei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto e virei-me para Tracy.

─Vocês já se conheceram? - Perguntei, em inglês. Toda aquela troca de idiomas causaria uma grande confusão, principalmente porque meu pai e minha tia não falavam inglês, então eu assumiria a posição de tradutora durante sua estadia nos Estados Unidos. E Beatrice, com certeza, me ajudaria.

─ Claro. - Tracy respondeu. - Estou planejando isso há muito tempo, lembra?

Bea, que até então não tinha falado nada, limpou a garganta em alto e bom som - obviamente chamando a atenção de Tracy para alguma coisa.

─ Ah, e claro, a Beatrice me ajudou bastante.

Um sorriso satisfeito formou-se nos lábios de Bea, que mandou uma piscadela para mim.

Sem sequer bater na porta, Nate invadiu o apartamento, acompanhado de Aiden.

Hola, mi amigos del Brasil!

Iara me cutucou discretamente.

─ Quem é esse maluco?

─Nate. - Respondi. - O namoradinho de Bea.

─ Ei! - Exclamou Bea, fingindo-se ofendida. - Eu entendo português, esqueceram?

─ E aí, mi corazón. - Nate aproximou-se de Bea, segurando sua mão com delicadeza. - Não vai contar ao seu pai sobre nós?

─ Tá maluco? É capaz de papai pular da janela ao descobrir que estou namorando com você. E vê se para de falar coisas em espanhol porque nós falamos português.

Nate ergueu as mãos em forma de rendição.

─ Não precisa ser tão agressiva. Já vi que está em TPM. Vou até me afastar antes que você me jogue pela janela. - E então ele voltou-se para mim. - Bruna, diga ao meu sogro que estou dizendo que estou muito feliz em conhecê-lo.

Traduzi a frase para o pai, que ao terminar de me ouvir falar, franziu as sobrancelhas.

─Esse é o namorado de Beatrice? - Perguntou, confuso. - Esse é o empresário?

Ela suspirou.

─ Não, pai. Não é ele. Temos muito o que conversar.

Fiquei entre os dois para abraçá-los de uma vez só.

─ Vamos ter muito tempo para colocar todas as novidades em dia. Agora vocês podem descansar um pouco, tenho certeza que estão muito cansados do voo.

─ Estamos, sim, senhorita. - Respondeu Iara. - Mas quem mais precisa descansar é você, viu?

Tracy ainda não tinha falado nada, mas naquele momento ele se aproximou.

─ Ela tem razão. - Sussurrou. - Você precisa descansar. Beatrice vai fazer companhia a eles, não se preocupe.

Mesmo querendo aproveitar ao máximo a estadia da minha família, eu sabia que teria muito tempo para curti-los. Meus pés estavam inchados, minhas pernas também doíam. Não havia o que contestar: eu precisava de uma boa cama.

─ Tudo bem. - Concordei com Tracy. - E você?

─ Eu preciso ir receber minha mãe.

─ Ela está aqui?

─ Sim e Anne também. Bea e eu queríamos organizar um jantar para toda a família no dia de Ação de Graças. Esse vai ser muito especial para toda nossa família, principalmente agora que planejamos uni-las...

Sorri e fiquei na ponta dos pés para beijá-lo.

─ Obrigada por tudo.

Discretamente, ele aproximou a boca do meu ouvido.

─ Mais tarde você me agradece de outras maneiras...

Lançando um sorrisinho safado, ele se despediu do pessoal e saiu do apartamento, acompanhado de Nate e Aiden. No mesmo instante, Iara aproximou-se e entrelaçou o braço ao meu.

─ Ok, tá tudo muito lindo e fofo, mas que tal conversarmos sobre esse irmão gostoso do Tracy?

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