32. A forma da felicidade.

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            Assim que voltamos para Chicago, a primeira coisa que me preocupei em fazer foi marcar uma consulta pré-natal. Uma amiga de Beatrice havia indicado uma obstetra que cuidou de todo seu pré-natal e eu consegui marcar uma consulta para o dia seguinte.

Pedi para que Bea me acompanhasse e, claro, convidei Tracy. No mesmo instante ele ligou para Aiden e pediu para que ele cancelasse todos os compromissos da sua agenda para aquele dia. Achei um pouco radical, mas é claro que não disse nada. Eu ficava muito feliz por Tracy estar me apoiando tanto nessa nova fase de nossa vida.

Chegamos ao consultório da Dr.ª Hart com meia hora de antecedência, o que me deu bastante tempo para pensar comigo mesma.

Ao meu lado, havia uma mulher de meia-idade com um barrigão enorme. Perguntei, gentilmente, se eram gêmeos, ao que ela respondeu que apenas vinha de uma família de bebês grandões. Sorri com o comentário, mas comecei a surtar por dentro, imaginando se minha barriga iria ficar daquele tamanho. Eu não vinha de uma família alta, eu sequer chegava à um metro e sessenta, além de que era muito magra. Como eu carregaria uma barriga como aquela?

Virei-me para Tracy e perguntei baixinho:

─Os bebês da sua família são grandes?

Ele franziu as sobrancelhas.

─Como assim?

Tentei apontar discretamente para a mulher ao meu lado e, quando percebeu ao que eu me referia, ele sorriu.

─Bruna...

─Não estou surtando, é que imagina o peso disso... e pra sair! Meu Deus! Eu ainda não tinha pensado nisso!

Ele passou um braço ao redor dos meus ombros e puxou-me para mais perto.

─Não se preocupe com isso agora. Está cedo demais. Vamos nos preocupar, antes de tudo, com a saúde do bebê.

─Claro, a saúde do bebê. Tem razão.

De repente, uma garota loira saiu do consultório, acompanhada de um rapaz, que eu supus ser o namorado/esposo/melhor amigo gay. A assistente que os acompanhou até a porta deu uma olhada na plaqueta que tinha em mãos, procurando pelo próximo nome da lista.

─Bruna Castello.

─Somos nós. – Tracy disse, ajudando-me a levantar.

Bea surgiu do outro lado da sala de espera – não havia assento disponível onde estávamos – e seguimos a assistente até o consultório da médica.

Assim que entramos, uma mulher de meia-idade, cabelos negros e pele negra sorriu para nós.

─Ah, olá. Bruna Castello?

─Sou eu. – Respondi.

─Como você vai? Quem são essas pessoas especiais?

─Bem, obrigada. Essa é minha irmã e esse é meu... – não soube bem como definir Tracy. Desde a entrevista no The Elly Show, eu tinha medo de usar qualquer palavra que significasse mais do que amigo – companheiro.

─Entendi. Você pode se deitar ali. Fique à vontade.

Ela apontou para uma cama no meio do consultório e eu segui suas instruções. Tracy e Bea ficaram ao meu lado.

A médica colocou suas luvas de látex e pegou um frasquinho.

─Ok, vamos dar uma olhada nesse bebê? Levante sua camisa e abaixe um pouco a calça.

Fiz o que ela pediu e, logo em seguida, ela tocou minha barriga.

─Isso vai ser um pouquinho gelado.

Senti um gel bem geladinho tocar minha barriga. Era uma sensação estranha, me causava um pouco de cócegas, mas não era ruim. Era diferente.

Ela passou a máquina pela minha pélvis, pressionando com força, procurando uma imagem nítida desse bebê que ainda nem chegou ao mundo e já me causava muita dor de cabeça,

Olhei para Tracy e ele sorriu para mim, como se dissesse "você está indo bem", mesmo que, literalmente, eu não estivesse fazendo nada. Ao lado dele, Bea continuava com o olhar paralisado no monitor ao meu lado.

De repente, quando voltei minha atenção ao monitor, eu o vi pela primeira vez.

Era um pouco estranho, mas era perfeito. Ainda estava pequeninho, suas mãos e pés continuavam em formação, mas já conseguíamos ver o formato do seu corpo e da sua cabeça... era bizarro e, ao mesmo tempo, enchia meus olhos de lágrimas.

─Veja, Bruna, esse é seu bebê. E ele é perfeito. Está ouvindo esse barulho?

Prestei atenção e notei que havia um barulho. E ele não era fraco. Era incrivelmente forte.

─Esse barulho é o batimento cardíaco do seu bebê e ele é perfeitamente saudável.

Não consegui – nem tentei – reprimir as lágrimas e permiti que elas escorressem livremente pelo meu rosto.

─É lindo, não é?

Tracy aproximou-se e tomou minha mão, apertando-a com delicadeza. Olhei para ele e ele me fitou de volta, com o mesmo olhar terno da outra noite. Era um olhar do tipo... apaixonado. Seria possível? Tracy Trey realmente apaixonado?

─É lindo. – respondi, enxugando as lágrimas dos meus olhos. Tracy abaixou-se e beijou minha testa. Bruna observava tudo de longe, igualmente emocionada.

─Ele é perfeito. – Tracy disse.

─Ou ela. – Eu corrigi.

─Ou ela.

Eu o fitei mais uma vez e, dessa vez, era eu quem esbanjava o olhar apaixonado. Não somente por Tracy – por que diabos eu iria negar que estava apaixonada por ele? – mas também por aquela criança que se formava. Tudo havia acontecido muito rápido e ainda havia muito a ser planejado, mas a única coisa que estava ao meu alcance naquele momento era amar aquela criança. E, quanto a isso, eu não teria problema algum. Eu a amava desde já.

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