31. Pro que der e vier.

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No dia seguinte, acordei com o barulho da porta do meu quarto se abrindo. Olhei por cima das cobertas e notei que era Beatrice. Ela sabia que eu não estava com o melhor animo para receber visitas logo pela manhã, então continuei deitada, enrolada da cabeça aos pés, como se me esconder entre a coberta fosse me livrar de todo o caos que minha vida estava se tornando.

─Não se preocupe comigo. – Ela disse.

E eu, sinceramente, não estava me preocupando muito naquele momento.

Dito isso, ela foi até a cozinha. Ouvi o barulho do liquidificador sendo ligado. Eu já imaginava o que ela estava aprontando e tive a certeza disso quando ela reapareceu ao quarto trazendo suco e torradas numa bandeja improvisada.

─Bea...

─Eu não precisava fazer isso, eu sei... – ela colocou a bandeja nos pés da cama e sentou-se ao lado. – mas acontece que li uma matéria no Google falando que suco de melão é muito bom para mulheres grávidas.

─Isso é suco de melão? – Perguntei, fazendo cara feia.

─Não é tão ruim quanto parece.

Sentei-me ao seu lado, puxando a coberta sobre minhas pernas. Provei o suco e percebi que não era tão ruim, mesmo não tendo um gosto muito agradável.

─Coma as torradas também. – Ela disse.

Peguei uma das torradas e tentei engolir. As beiradas estavam queimadas, mas eu não iria dizer isso à Beatrice. Eu sabia que ela estava fazendo o possível para me ajudar.

─Eu não queria tocar no assunto – falou – mas preciso perguntar.

─Diz.

─O que Tracy falou?

─Disse que tudo isso foi um erro. Eu e ele.

─Nossa. – Aparentemente, Bea estava tão chocada quanto eu fiquei, mas ainda havia um ar de compreensão em sua expressão. – Mas pense bem, Bru. Ele está assustado. Isso vai mudar muita coisa na vida dele daqui pra frente.

─E você diz isso a mim?

─Não, claro que vai mudar ainda mais na sua, mas o que quero dizer é que ele estava nervoso. Assim como você estava. Ele vai perceber o efeito do que disse e vai te pedir desculpas.

─No momento, não estou me preocupando muito com nosso relacionamento, Bea. – desabafei. – Só não quero ter essa criança nas piores circunstâncias possíveis.

─Eu sei, mas ainda assim, deixe ele processar tudo isso. Esse tempo sozinha também vai te ajudar a processar da mesma forma.

─Eu acho que minha mente já está conformada. O que eu preciso pensar é no que vou fazer.

─Como assim?

Toda a noite de insônia que eu tivera me ajudou muito a pensar em como eu lidaria com essa gravidez dali pra frente. Pensei se eu realmente iria querer permanecer naquela situação: viajar toda semana, não ter um lugar fixo... Essa inconstância poderia fazer mal a mim e ao bebê. A partir dali, eu precisaria pensar por nós dois.

─Talvez seja hora de voltar para o Brasil.

─O quê? Por quê?

─Essa vida de viajar o tempo todo não vai mais funcionar comigo agora, Bea. Preciso me aquietar em algum lugar. E eu realmente preciso estar com minha família agora.

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