Capítulo 4 - Breakdown Implacável Perseguição

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Respiro fundo. É melhor eu me concentrar em pedir desculpas.

- Não, calma. Comecei errado. Você pode falar do jeito que quiser. Eu só te chamei para te pedir desculpas por ontem. Eu estava tentando fazer uma brincadeira, só isso, não queria te deixar tão chateada, ou magoada.

Ela cruzou os braços. Isso não é bom sinal.

- E você acha que o que você fala me atinge tanto? – ela diz com um sorriso forçado.

Por que, forças da natureza? Por que ela está tão na defensiva?

- Eu não acho nada. Mas eu sei que bem não te fez, então estou aqui humildemente te pedindo desculpas.

- Bento mandou você fazer isso? – ela pergunta já descruzando os braços.

- Não, Bento nem achou aconselhável eu interromper você comendo.

Ela dá um leve sorriso e olha na direção do irmão, ao longe atrás de mim no refeitório.

- Tudo bem. Desculpas aceitas – ela diz. Eu estendo a mão, porque geralmente isso acontece quando você desculpa alguém. Você cumprimenta. Pelo menos no meu mundo. Mas ela fica parada olhando minha mão no ar.

- Não vai apertar minha mão?

- Já te desculpei por que preciso tocar em você?

Certo. Isso me irritou. Ela fala como se eu tivesse uma doença contagiosa. Eu tentei. Juro que tentei. Respiro fundo mais uma vez. Me lembro de uma coisa que me deixou intrigado desde ontem e resolvo sanar esta dúvida antes dela voltar para a mesa dela.

- Ok – recolho minha mão ao meu corpo – mas, me diz uma coisa. Por que você revira tanto os olhos quando ouve sobre a construção do roteiro, o que te incomoda tanto?

Ela olha para mim um pouco surpresa.

- Ah... – ela dá uma leve gaguejada, como se estivesse pensando no que falar. Olho nos olhos dela, para ver se está sendo sincera – não tenho nada contra a construção do roteiro.

- Tem certeza? – falo realmente curioso – De repente você pode achar ele ridículo, ou clichê, pode me dar sua crítica sincera de possível espectadora.

- Eu acho que é uma boa história. Pelo menos o que eu ouvi. O que eu não acho positivo é você depender dos outros para criar alguma coisa sua – ela diz suave – não digo você se inspirar em uma situação que presenciou, porque isso acaba fazendo parte da gente. Mas e se, por exemplo, você não ver mais sua musa? Eu acredito que a criatividade está dentro de você. A musa pode ser um meio para tirar a criatividade daí – ela aponta para minha cabeça – mas precisa lembrar que vem de você.

Ai... Essa doeu. Foi na ferida. Minha ferida, que está totalmente aberta agora. Minhas inseguranças saíram de trás das cortinas e dançam can can no meu cérebro. Eu morro de medo de perder a inspiração. Passei uma crise existencial tempos atrás, quando não conseguia mais escrever nada. Não saía nada de mim. E comecei a achar que meu sonho estava errado.

Desde quando Alice virou expert nesse assunto?

- Talvez seja por isso – ela continua - que você não tenha coragem de contar para sua mãe sobre seu sonho de ser cineasta. Porque nem você acredita nele.

Isso passou dos limites. Ela não sabe os meus por quês. Uma raiva me sobe e antes que eu possa pensar com clareza sou ríspido.

- Quer saber Alice – me levanto e gesticulo com as mãos – você não me conhece, você não sabe nenhum dos meus motivos e não entende nada de construção de roteiros, personagens e afins. E ainda que soubesse, não somos amigos. Te pedi uma crítica de ESPECTADORA, não um aconselhamento.

(No) Directed By Cezar SartoriOnde histórias criam vida. Descubra agora