Capítulo 34 - Donnie Darko

187 29 63
                                    

"Açaí, guardiã. Zum de besouro um ímã. Branca é a tez da manhã..." Toca no rádio que minha avó sempre deixa na cozinha, enquanto bebo meu café com leite. 

Estamos na semana antes das férias e um tempo atrás, essa informação seria o ponto alto da minha vida e me deixaria animado para começar o dia e termina-lo logo.

Mas vocês bem sabem que não é isso que está deixando meu espírito animado, ao ponto de acompanhar Djavan em voz alta.

- Estou dizendo Giovana, o bebê de Consuelo é de Roberto Matias, não de Joaquim José – Meu avô diz ao entrar na cozinha com minha avó, e minha cantoria acaba.

- Como pode ter certeza Enrico? Falou com o autor? – Ele bufa.

- Não, mas já conheço a mente perspicaz dele depois de tantos anos, aquela fatídica noite de tempestade foi só para nos confundir. Ele não deixaria Consuelo ter um filho com quem não é o amor de sua vida.

- Acidentes acontecem – Minha avó retruca.

- Não com Consuelo e Roberto Matias, eles têm um destino traçado mia vita.

- E se não tiverem um final feliz mio amore?

- Eu acabo com a reputação desse autor, nem que eu vá até o México. Não passei meses assistindo essa novela para o casal terminar separado. Já temos o suficiente disso na vida real.

Minha avó ri e eu continuo acompanhando o diálogo dos dois, os seguindo com os olhos como numa partida de ping pong.

- Você é um romântico incurável Enrico. E vou com você para o México caso o autor te decepcione. Quero experimentar burritos originais e apimentados.

- Você já é uma pimenta Giovana, para que mais?

Não consigo controlar o riso e isso chama a atenção dos dois, que me olham ao mesmo tempo, parecendo só agora notar minha presença.

- Ora. Ora, se não é o pequeno galanteador da família? – minha avó sorri e meu riso acaba. Lá vem.

- Parabéns filho – meu avô diz batendo em meu ombro, sentando-se à mesa em seguida e servindo-se de café.

Obviamente parece que minha mãe soltou a língua mesmo. Só não sei em que hora, já que ontem era muito tarte e hoje ainda é cedo de mais. Minha avó pega o adoçante de meu avô, senta-se também e começa a passar manteiga em torradas.

- O grupo da família bombou – ela diz.

Demoro alguns segundos para assimilar o que ela diz.

- Grupo da família? – Repito baixo.

- Uhum – diz mordiscando uma torrada – Team Sartori – ela acrescenta.

- Como a família tem um grupo e eu não estou no grupo?! – Estou indignado. Por falarem da minha vida no grupo, e por não estar no grupo.

- Desculpe querido, mas é para maiores de 18. Na verdade, maiores de 39. Só o clã. Os sábios. Sua mãe só entrou esse ano. – Ela come mais uma torrada.

Ual.

- E quem mais está nesse grupo?

- Sua tia avó Karen, seus primos e primas de segundo grau Júlio, Nanda, Wagner, Celsinho, Dagmar, tem o tio Amélio... – Ela falou mais alguns nomes de parentes, todos que, agora, sabem de meus sentimentos por Alice.

(No) Directed By Cezar SartoriOnde histórias criam vida. Descubra agora