Praças. Praças não foram feitas para abrigarem sentimentos tensos e ansiosos como os meus. Mas as praças já não são como antes não é mesmo? Antigamente (pareço meu avô falando) só se via crianças no parquinho, os familiares observando nos bancos, o pipoqueiro, alguém passeando com cachorro e lá pra tardinha alguns casaizinhos tomando sorvete.
Mas eu praticamente não vivi essa fase. Algumas praças ainda resistem, por conta de uma rotina mantida por seus moradores, mas nas grandes cidades, as praças podem ser ponto de encontro de viciados e afins.
A Praça Drummond, onde marquei com o povo, é uma das que resiste. É pequena, aqui do bairro mesmo, com uma quadra de areia, alguns brinquedos e objetos de exercício. A galera idosa está sempre por aqui de manhã.
Agora eu estou aqui. Sentado a mesa de concreto com um tabuleiro fixo de xadrez gasto. Espero Alice e Natasha. Faltam cinco minutos para às 9 horas.
- Bom dia!
Levo um susto. Alice chega por trás de mim um pouco esbaforida.
- Bom dia – me levanto e a abraço – trouxe os papeis?
- Sim – ela respira fundo.
Sentamos e começamos a combinar quem falaria o que. Dali a alguns minutos, vemos Natasha se aproximar. Ela veio como eu pedi. Toda de preto para a gravação. Isso se ela ainda quiser gravar...
- Bom dia jovens – ela está de bom humor. Sinto que vou acabar com ele.
- Bom dia – respondemos.
- Só nós três até agora? E o ônibus?
- Pois é... Senta aí – aponto para o banco vazio e ela senta – então. Na verdade marcamos com os outros às 10, pois queríamos falar com você.
- Uhnn – franze a testa – vocês dois queriam falar comigo...
- Sim – diz Alice.
- Estão precisando de algum conselho? – Ela diz levemente animada.
- Ahn... Não... – a frase de Alice saiu quase como uma pergunta.
- Olha, estou aqui para ajudar. Já percebi que a família de vocês não sabe e...
Alice olha para mim confusa, como se Natasha fosse mais um membro da família Hoover, falando sem parar.
Mas eu entendi. Natasha parece ter como certeza a suspeita de uma relação entre Alice e eu. Os "primos".
- Não somos primos – a interrompo – nós... – continuo quando consigo sua atenção – sempre fomos amigos. Nossas famílias também. E agora estamos namorando – seguro a mão de Alice sobre a mesa.
Natasha arregala um pouco os olhos e bate palminhas sorrindo.
- Ai que fofos! Mas por que disseram que eram primos?
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(No) Directed By Cezar Sartori
Ficção GeralCezar Sartori vivia uma vida tranquila com seus 17 anos, alimentando o sonho de se tornar um grande cineasta no futuro e ver seu nome num grande telão negro "Directed by Cezar Sartori". Com uma mente muito criativa ele cria roteiros a part...