Depois de Alice prometer me dar um perfume de melancia em meu aniversário, caminhamos até minha casa em silêncio. Não sei se ela não está percebendo meu interesse, ou fingindo não perceber... O que seria pior.
Minha casa está escura, parece que todos já dormem. Tento inutilmente entrar na cozinha sem fazer barulho. Parece que quando você não quer acordar alguém, cada movimento seu recebe a potência de um alto falante. Parecia que eu estava acertando uma árvore com uma marreta, mas estava apenas abrindo o armário para pegar os pratos e os copos.
- Droga – murmuro quando os talheres escorregam da minha mão, ecoando sons agudos ao caírem sobre a pia de aço.
- Precisa de ajuda? – Alice pergunta. Ela está sentada à mesa me observando.
- Não.
Quando finalmente estamos comendo, suspiro de contentamento. Melhor do que matar a fome, é matar a fome em boa companhia. Em dado momento, nos olhamos nos olhos ao mesmo tempo, enquanto mastigamos. Alice se faz de vesga entortando os olhos, faço força para não rir abrindo a boca e cuspir empada na cara dela.
- Devia ter assoprado seu rosto, aí você ia ficar vesga para sempre – digo depois de tomar um gole de suco e ela ri.
- Já fiz o teste alguns anos atrás. Entortei os olhos em frente ao ventilador e voltei ao normal depois.
- Você acabou de destruir uma crença infantil que eu repassaria aos meus filhos – digo recolhendo os pratos, pois terminamos – a graça está na dúvida.
- Deixa que eu lavo a louça – ela diz levantando. Eu me afasto da pia e cruzo os braços encostando na geladeira ao lado. A deixo lavar porque, confessando aqui a vocês, eu odeio lavar louça. Tipo muito mesmo. E se alguém se oferece a fazer isso em meu lugar, tem todo meu apoio.
- Coitados dos seus filhos – ela diz enquanto lava – aposto que não vai deixar eles comerem manga com leite se quiserem...
- Só não deixarei meus filhos comerem veneno, o resto, eles serão livres.
Ela ri balançando a cabeça e seca as mãos num pano de prato.
No caminho até a sua casa, ficamos conjecturando sobre Bento e Sabrina. Alice disse que Sabrina escolheu batatas fritas em banha de porco com bacon, salame e calabresa para Bento comer. Será que não poderíamos trocar? Deu água na boca.
Dou um abraço rápido nela ao nos despedirmos com um boa noite. Acho que já tivemos muitas emoções por um dia. Fiquei feliz ao chegar em casa e receber a confirmação de Igor por mensagem, de que a tal garota da qual ele falou antes, era Josy. Menos um problema. Durmo em paz.
Pela manhã, comento com meus avós sobre minha câmera destruída. Pergunto se eles conhecem alguém que possa me dar algum serviço, para eu conseguir um dinheiro extra. Preciso aproveitar que daqui a duas semanas o curso entra em recesso, já que seu calendário é antecipado ao escolar. Eles disseram não lembrar, mas perguntariam aos seus conhecidos por mim.
Na escola, Bento me conta que implorou o perdão de Sabrina, mas ela não quis ouvi-lo. Confessou que inventou a história de que ele tinha algum tipo de transtorno relacionado à obsessão. Com manias do tipo, guardar mexas de cabelo de ex-namoradas. O que explica muita coisa sobre o comportamento das meninas que fugiram dele esses dias.
O aconselhei a desmentir tudo o que inventou e deixar com o tempo, talvez Sabrina o perdoe um dia. Igor estava num bom humor contagiante. Nos confidenciou no intervalo, que beijou Josy no táxi depois que eu e Alice descemos. O fato dela ser tão diferente dele, parece instiga-lo ainda mais. Típico de Igor. Fico feliz por ele, Josy além de bonita, parece ser muito doce e gentil.
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(No) Directed By Cezar Sartori
Fiction généraleCezar Sartori vivia uma vida tranquila com seus 17 anos, alimentando o sonho de se tornar um grande cineasta no futuro e ver seu nome num grande telão negro "Directed by Cezar Sartori". Com uma mente muito criativa ele cria roteiros a part...