Capítulo 32 - Bastardos Inglórios

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Me levanto tão rápido quanto possível, passando a mão ralada de pedrinhas na bermuda.

- Fala brother – rio nervoso – caramba em! Que queda... Baita susto!

Bento cruza os braços.

- Você pode me explicar... Brother – enfatiza a palavra que eu usei – por que vocês caíram da porta?

Minha boca dá uma leve tremida ao abrir e fechá-la, procurando o que falar. Ouço um grilo.

- A chave estava presa na porta.

Eu e Bento olhamos em direção ao chão, de onde vem a voz que quebra o silêncio. Meu Deus! Larguei Alice assim. Estendo as mãos e a ajudo a levantar. A ajudo também a limpar o ralado dos cotovelos.

- Bateu a cabeça? – Pergunto mexendo em seu cabelo, procurando algo. Sinto um dejavu.

- Não. Estou bem. Consegui evitar – ela diz tirando minhas mãos gentilmente.

- A chave Alice? – Bento questiona observando cada gesto nosso.

- É. A chave. Ou a gente abre a fechadura com os dedos?

Oi educação, cadê você? Correu com o tombo? Penso enquanto Bento semicerra os olhos para Alice. Senhor, ela está brava... E como fica linda brava!

- Sei... Vai para dentro – Ele aponta a porta da sala com a cabeça.

Alice faz uma expressão indignada.

- Como é? – Ela até desafina a voz.

- O que foi? Está tarde. Tem mais alguma coisa para fazer aqui? – Ele estende as mãos em volta.

Alice revira os olhos, se aproxima de mim e me abraça. Retribuo, lógico! Mas senti que ela estava tensa.

- Boa noite – digo e ela apenas sorri.

No caminho até a porta ela para e vira-se para nós.

- Bento?

- Uhn?

- Vamos. Você não disse que está tarde?

- Foi o que eu disse... Até mais Cezar – Ele diz tirando a chave, nada presa e esquecida no portão, dando a minha deixa.

- Até! – Dou um sorriso fraco e aceno.

Quando a porta se fecha, comigo do lado de fora, olho para ela novamente e não há como não sorrir. Nunca mais olharei para essa porta da mesma maneira. Meu sorriso se torna uma gargalhada. Olho para o céu escuro. Não acredito no que acabou de acontecer...

Ponho as mãos nos bolsos e caminho pela calçada barulhenta de folhas secas das amendoeiras. Ao me aproximar de casa, vejo o professor Miguel entrando em seu carro e minha mãe acenando do portão.

Graças a Deus não cheguei antes, não estou a fim de ver minha mãe beijando ninguém. Isso me faz pensar em Bento rapidamente. Professor Miguel buzina e acena de seu carro quando passa por mim, com um grande sorriso. Paro em frente a minha mãe. Ambos estamos felizes.

Passo o braço por seus ombros.

- Noite cheia em dona Lídia. - Ela me abraça de lado enquanto entramos.

- Me perdoa não falar com você antes?

- Não sei se falar comigo antes era uma regra, mas perdoo sim.

- Ele é uma boa pessoa, jamais me aproximaria se não fosse.

- Eu sei mãe – entramos na sala – e que se mantenha assim, se não... – Passo o indicador no pescoço e ela ri.

(No) Directed By Cezar SartoriOnde histórias criam vida. Descubra agora